Capítulo 29

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Anahí não sabia quanto tempo havia se passado. Podiam ser dias, horas, minutos... Ela perdeu a noção do tempo a partir de um ponto. Só havia dor. Estava presa, amarrada, e cada pedaço do seu corpo estava doendo. Pela temperatura fria, úmida, ela tinha certeza de que haviam levado ela para as masmorras. Estava em pé, amarrada em uma pilastra de concreto pelos braços, cintura perna. Não conseguia enxergar. Já haviam batido tanto nela, mas tanto, que ela se perguntava como não havia morrido ainda. Sentia dor, sede, fome, cansaço, seus braços doíam, seu corpo gritava para ser desamarrado dali. Havia sangue em seu rosto, em seus braços, seu vestido, que já começava a ceder. Ela contava o tempo por respirações. Respirava pela boca, pois o sangue seco obstruíra seu nariz. Então eles voltavam e faziam perguntas. Ela não sabia responder, então apanhava novamente. Eles achavam que sob dor ela diria a verdade. O inferno é que ela não sabia a verdade, ela não era a espiã. Os momentos de paz eram quando havia silencio. Ela ficava quieta, de olhos fechados, analisando cada aspecto da dor. Suri, por outro lado, estava revoltada.



Suri: Papai... – Disse, com um sorriso angelical. Angelical demais – Eu NÃO vou comer, eu NÃO vou brincar, eu NÃO vou tomar banho, eu NÃO vou tomar meus remédios, - Alfonso revirou os olhos – Eu NÃO vou fazer NADA até Anahí voltar. E é minha palavra final. – Disse, tranqüila. A menina trancava a boca sempre que tentavam lhe dar de comer, ou os remédios, ou qualquer coisa. Mordera e arranhara uma criada que tentara lhe dar banho. Passava o tempo de braços cruzados, olhando pra cima.


Alfonso: Pois tu não fará mais nada nunca então, ela não vai voltar. – Disse, sem paciência, se levantando.



Suri: Eu te odeio. – Murmurou, olhando o pai com desprezo. Alfonso olhou a menina, incrédulo. Era a primeira vez que ela dizia isso.



Alfonso: Como?



Suri: O odeio. – Repetiu, erguendo o rosto para ele – Apenas uma pessoa no mundo gostou de mim de verdade, sem me tratar com pena ou por obrigação, apenas uma pessoa me amou de verdade, mesmo eu sendo a aberração que sou, e o senhor a toma de mim. Eu o odeio. – Disse, a voz carregada de magoa.



Alfonso: Suri, Anahí não foi a única pessoa que a amou, não diga tolices. – Pediu, passando a mão no cabelo. Sabia lidar com tudo, mas sua filha dizendo que o odiava era algo fora de seu alcance.



Suri: É mesmo? Quem mais? Mamãe? Tu? Pelo amor de Deus. – Ela virou o rosto.



Alfonso: Suri, não fale assim de tua mãe. – Ordenou, severo.




Suri: Anahí me amava. Gostava de ficar comigo, de brincar comigo, mesmo do jeito que eu sou. Queria me ver feliz, não por eu ser tua filha, mas porque gostava de mim. – Continuou – Ela gostava de ti também.



Alfonso: Era mentira. – Alegou, respirando fundo.



Suri: Não era não. Ela nunca me disse, mas eu sempre vi o modo como ela ficava quando o senhor se aproximava. Ela corava, ficava sem jeito, as vezes sorria, os olhos brilhavam. – Alfonso não queria ouvir – A perguntei se ela queria ficar com o senhor e ser minha mãe, mas ela disse que não podia, pois minha mãe havia morrido. Mas ela queria ser minha amiga. E gostava do senhor. Todos que eu vejo te olharem tem medo, ou respeito, mas te olhava e gostava do que via. Não do rei, mas da pessoa. Eu sou uma criança e entendo isso, e tu que é rei não? – Não perca a paciência, Dulce morreu por ela... – O que fez com ela, papai?

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