23.

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Na noite combinada, ele se dirige ao local que haviam elegido como ponto de encontro.

O garoto já está lá, recostado sobre o tronco caído, olhando fixamente para as estrelas. Uma fogueira discreta arde próxima a ele, fazendo a pequena clareira tremer com a luz inconstante.

- Que bom que você veio, estava te esperando. – ele resmunga sem se dar ao trabalho de olhar para o Sacerdote - Temos muitas coisas para discutir hoje.

O Sacerdote ergue a mão, impedindo-o de continuar.

- Hoje, não. Hoje eu vou te perguntar tudo que quero saber.

Dantálion finalmente o olha, com escárnio e surpresa:

- O que aconteceu com o filhote de gato molhado que mal tinha coragem de olhar na minha cara?

O Sacerdote se mantém sério, sem demonstrar reação alguma.

- Tudo bem. – diz o outro, procurando uma posição mais confortável para se sentar – Então vamos lá, meu soberano. Pergunte o que quer saber.

O Sacerdote se senta no canto oposto, sem tirar os olhos do garoto, que continua a desafiá-lo com um sorriso malicioso.

- Em primeiro lugar, eu quero saber sobre aquele livro. De onde veio? Como você o conseguiu? E o que significam aquelas coisas escritas nele?

- Como eu te disse, é um livro antigo. De antes de esta cidade existir. Antes dos Sacerdotes, Auxiliadores, e todas essas futilidades.

O Sacerdote endurece o olhar, irritado.

- Eu não vim aqui para você ficar insultando a mim e à minha ordem. Responda o que eu estou te perguntando, sem brincadeirinhas.

Dantálion arregala os olhos, seu sorriso crescendo mais ainda.

- Responderei a tudo que quiser, meu ilustre Sacerdote. – diz com deboche, curvando-se.

- Então comece. – ordena, cruzando os braços com impaciência.

- Eu consegui aquele livro no mesmo lugar em que consegui todos os meus livros: numa antiga biblioteca abandonada, além dos limites da cidade. Levei dias para ir e voltar, o que me custou muito caro, mas consegui uma soma interessante de coisas interessantes. E, antes que você me pergunte, não, não vou te levar lá.

- Sair da cidade é proibido. Você sabe disso, não sabe?

- É claro que sei. Tudo nesta cidade é crime, inclusive o que estamos fazendo agora. Espero que você não esteja pensando em se tornar moralista de repente, porque, sinto dizer, mas já é tarde demais para isso.

- Não serei moralista. Termine de responder o que perguntei: o que significam aquelas palavras?

- Significam um monte de coisas... São poemas, uma coletânea de alguns dos melhores do mundo, ou algo do tipo. Poemas são formas de arte, e, como eu disse, não servem pra nada específico. São coisas que te ajudam a pensar e, principalmente, a sentir. Coisas que te fazem enxergar de um jeito que seus olhos não te permitiriam. Não me admira que tenham banido esse tipo de coisa.

- O que é arte? – questiona antes que o garoto possa tomar fôlego.

- Arte? É todo tipo de coisas feitas para serem apreciadas: pintura, escultura, música, poemas, danças... Existiam várias, e hoje não existe nenhuma. Pelo menos não aqui, neste pedaço de fim de mundo.

O Sacerdote abre a boca para perguntar, mas para no meio do movimento, ficando com a boca aberta e o dedo erguido. O que afinal deveria perguntar? Todas aquelas palavras são estranhas, e ele perderia a noite inteira tentando entender o que eram, para então perguntar mais mil palavras. Seria inútil.

Dantálion o observa. Todo seu desprezo desaparece, trocado por um olhar de pena. Ele então procura por algo no bolso das calças.

- Eu vou te mostrar.

Ele ergue um objeto estranho, retangular, feito de algum material desconhecido, liso, brilhante e perfeitamente branco. Toca os dedos finos no objeto, que de repente acende como se tivesse estrelas dentro de si.

O Sacerdote pula para trás, assustado.

- Fique calmo. Até parece que você vive na Idade Média. – ri Dantálion, num tom ao mesmo tempo sarcástico e amargo.

Lúcio se aproxima devagar, observando com receio o aparelho que o outro manuseia. Então, inexplicavelmente, um som completamente inesperado preenche o ar.    

Ok, eu sei o que vocês estão pensando

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Ok, eu sei o que vocês estão pensando... Eles estavam na Era Medieval, não estavam? Como raios Dantálion tem um eletrônico na mão?

E aqui começamos a contar um pequeno segredinho....

Dantálion [COMPLETO]Where stories live. Discover now