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- Encontramos um corpo no rio. – diz um dos Auxiliadores – Mas não é o do antigo Sacerdote, é de algum morador da cidade, embora ainda não tenha sido identificado por ninguém.

- Devia ser algum pobre coitado sem família que resolveu se suicidar. – comenta outro.

- Infelizmente, não. – interrompe Anton, assumindo o centro da mesa – Ele tinha uma ferida profunda na garganta, o que indica que foi morto por alguém.

- Esses malditos, - resmunga o Auxiliador do grupo da mineração, velho como o mundo – mesmo com pena de morte, continuam agindo como se nunca fossem ser descobertos. Foi-se o tempo em que a lista de Crimes Imperdoáveis mantinha todos sob uma rígida disciplina. Agora, parece que esses cachorros estão ficando cada vez mais ousados.

O Sacerdote permanece quieto, com os dedos entrelaçados sob a mesa, apertando-os com força até as junções doerem.

- Se há um assassino na cidade, poderia muito bem ter sido o mesmo que causou a morte do antigo Sacerdote. – retoma o outro Auxiliador.

- Acreditamos que não. – Anton adota um ar cínico – A pessoa que matou o antigo Sacerdote foi extremamente hábil, não creio que algum cidadão comum seria capaz de agir com tanta destreza. Foi um ato premeditado, e com intuitos políticos que ainda desconheço. Seria improvável que o assassino do rio fosse o mesmo que o matou, a menos que tivesse ajuda de outros.

Lúcio se esforça para manter as reações sob controle. A voz de Anton lhe desperta imagens horríveis de tudo que Dantálion havia dito.

- Ajuda de outros, como os Surdos, por exemplo?

Ele se lembra das cicatrizes no corpo do garoto, imaginando como foram feitas. Como aquele homem, que agora sorria à sua frente, respeitado e venerado, poderia ter cometido a atrocidade de rasgar o corpo de uma criança, tudo para conseguir uma confissão de seus pais?

- Seria uma suposição desmedida, de fato, conceber que os Surdos possam ter contatos dentro do Palácio...

Se Anton não existisse, talvez Dantálion fosse feliz. Talvez fosse um jovem como todos os outros, sonhador, esperançoso, com uma vida pela frente. Mas, graças ao homem que agora discursava, a vida de Dantálion era um inferno, pior do que o próprio Inferno, se existisse algum.

- O que está pensando, Anton? Que existem Surdos entre nós?

Assim como sua própria vida.

- Não pretendo abalar nossa confiança mútua, meus colegas, embora situações semelhantes já tenham acontecido no passado. Por isso descarto a conexão entre os dois crimes, a menos que surjam novas evidências.

Se não fosse Anton, talvez o antigo Sacerdote e Vero ainda estivessem vivos, talvez ele pudesse assumir sua autoridade como Sacerdote e expulsar todos os Auxiliadores cruéis de seu meio.

Mas, porque Anton existe, ele não pode.

- Mas, e quanto às mensagens dos Surdos? Poderiam estar se aproveitando para assumir a autoria dos crimes?

Anton quis matar sua mãe, que precisou ser envenenada pelo homem que a amava para não ter de passar pelas coisas que Dantálion havia passado.

- Não há dúvidas de que os Surdos estão, de fato, envolvidos...

Anton teria torturado e matado Vero, se ele mesmo não tivesse colocado um fim à sua vida antes. E Anton mataria a ele e a Dantálion da forma mais cruel possível, se tivesse a chance.

- Peço que deixem a Justiça em minhas mãos. Tenho algumas informações sigilosas a considerar, e gostaria que não viessem a público agora, e nem mesmo que fossem do conhecimento do Palácio...

Sua mandíbula estala com a tensão insuportável.

- Todas as medidas necessárias serão tomadas. A Justiça nunca falha.

Anton deve morrer.    

    

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