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- Eu conversei com Vero, - Lúcio rompe o silêncio – ele disse que vai me dar um veneno que poderemos usar no antigo Sacerdote.

- Por que você não o chama de pai? – pergunta Dantálion maldosamente, recostando a cabeça sobre o sofá.

Ele o ignora.

- O veneno faz efeito em poucos segundos. Pensei em colocar na bebida dele durante a noite, assim ninguém mais o veria morto.

- Deixe que o vejam morto, oras.

- Não podemos.

- Por que não?

- Porque não queremos que ele morra simplesmente, queremos que o Palácio saiba que os Surdos fizeram isso. Se ele morrer de repente, sem nenhum motivo aparente, vão achar que foi uma doença fulminante. Agora, se escondermos o corpo, vão desconfiar que algum de nós tem algo a ver com isso.

- Então você estava mesmo falando sério com essa história de esconder o corpo...

- Por que eu brincaria com uma coisa dessas?

Dantálion lhe lança um olhar de perplexidade.

- Lúcio, sinto dizer, mas... Seu pai tem o dobro do seu tamanho. Você não vai conseguir escondê-lo.

- Sei disso, e é aí que você entra.

O garoto bate na testa com a palma da mão, soltando um ruído de desgosto.

- Você vai me ajudar a carregá-lo para fora do Palácio... – continua Lúcio.

- E depois disso? – interrompe o outro, incrédulo – Vamos usar colheres para cavar uma vala e jogar o corpo lá dentro?!

- Na verdade, eu pensei em uma coisa mais interessante...

Dantálion permanece pasmo.

- Enterrar seria difícil, o solo do bosque é muito duro, e não tem nenhum outro lugar vazio o suficiente. Mas existe um único lugar onde ninguém poderia achá-lo...

Os olhos do garoto se arregalam ao compreender.

- Você está dizendo que quer esconder o corpo de seu pai no Templo?!

- Exatamente.

Dantálion cobre o rosto com as mãos.

- Como você pode ter se tornado tão insensível? Eu não consigo acreditar que eu tenha te transformado num monstro!

- Eu não aguento mais essa situação! – berra Lúcio, repentinamente tomado pela fúria – Não aguento mais ficar esperando até o próximo dia em que terei que ordenar a morte de alguém! Isso está me deixando louco!

- Você não deveria se tornar um assassino. – continua a voz firme de Dantálion.

- Eu já me tornei um! – grita, levando as mãos à cabeça e puxando os cabelos – Eu já matei aquela mulher! E terei que matar outros, caso nada seja feito para impedir isso! Quantas pessoas mais você quer que eu mate para poupar a vida de um homem que você odeia?! Isso não faz sentido nenhum!

Dantálion solta um chiado de agonia, percorrendo os dedos crispados pelo rosto, sua pele aparentemente prestes a se desprender, revelando os sulcos vermelhos debaixo de seus olhos.

- Eu odeio admitir, mas você tem razão. – diz ele – Eu gostaria de poder te dissuadir, mas não posso. Você já tem seus motivos e sua decisão. Se é isso que você quer fazer, eu te ajudarei como puder.

Ele volta os olhos negros para o Sacerdote, olhando-o da mesma forma como o olhou durante a Audição em que se viram pela primeira vez, como se o enxergasse através do Inferno:

- Mas tenha em mente que quando você mata alguém próximo, principalmentede sua própria família, uma parte de você morre com aquela pessoa. Eu estou te avisando pela última vez, Lúcio. Pense bem sobre suas escolhas. Eu posso proteger seu corpo, mas não posso proteger sua mente. Você estará sozinho com as consequências disso, e não vai ser nada agradável. Se assumir a responsabilidade pela execução daquela mulher já te deixou nesse estado, matar seu pai a sangue frio vai ser uma experiência da qual você talvez não volte nunca mais. Você ainda tem tempo para decidir, não deixe de considerar o que estou te dizendo.    

    

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Dantálion [COMPLETO]Where stories live. Discover now