29.

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Na noite seguinte, como planejado, ele vai ao ponto de encontro.

Dantálion já o espera, carregando nas costas uma peça estranha feita de tecido. O Sacerdote pensa em perguntar o que é, mas decide ficar quieto. De que lhe adiantaria perguntar o nome de todos os objetos desconhecidos que Dantálion trazia consigo? Certamente ele apareceria com algo novo todos os dias.

- Moloque, eu preciso te explicar algumas coisas antes que possamos conversar sobre meus planos.

O Sacerdote faz uma careta.

- Eu não gosto desse nome. Para que precisamos dele, afinal?

- Isso é uma das primeiras coisas que eu preciso te explicar.

Dantálion senta e gesticula para que o Sacerdote faça o mesmo. Quando ambos estão sentados, ele começa:

- Os nomes servirão para esconder quem realmente somos. São nomes antigos, de seres mitológicos, que provavelmente ninguém conhece. Eles só devem ser usados entre nós. Antes de mais nada, porém, eu preciso que você preste atenção e entenda algumas coisas.

"Há algumas décadas atrás, quando seu avô ainda era Sacerdote, ocorreu uma rebelião. A primeira rebelião. Havia um grupo de pessoas que ficaram conhecidas como os Surdos. Basicamente, o objetivo deles era derrubar o regime sacerdotal e criar um novo governo, com leis menos violentas e com acesso ao conhecimento. Durante os anos de sucesso, eles conseguiram manter algumas escolas, onde ensinavam pessoas comuns a ler e escrever. Eles também ensinavam História e Ciências, além, claro, de técnicas de combate.

O grupo começou a crescer, e logo não conseguiu se manter em segredo. Os Auxiliadores perseguiram e mataram cada um deles num massacre que ficou conhecido como a Limpeza. Eles também espalharam vários boatos sobre as pessoas que foram executadas, de modo que quem sabe da história hoje acredita que eram apenas um grupo de ladrões ou assassinos. Poucos sabem o que eles eram realmente."

O Sacerdote permanece quieto, ouvindo atentamente a tudo que o outro fala, com um misto de curiosidade e medo.

- E o seu avô – continua Dantálion – tentou protegê-los, pedindo para que não recebessem a pena de morte.

O Sacerdote ergue o rosto, surpreso com a mudança no enredo.

- E o que aconteceu com ele?

Dantálion olha para o chão.

- Os Auxiliadores deram um jeito de silenciá-lo.

- Como?

O garoto move o rosto em sua direção, os olhos apertados em uma expressão estranha.

- Eles o prenderam em algum lugar do Palácio e disseram ao povo que ele estava muito doente. Depois disso, ninguém nunca mais o viu, e seu pai assumiu o lugar dele.

O Sacerdote engole com dificuldade, um bolo espesso se formando em seu estômago ao compreender.

- É por isso – continua Dantálion – que eu queria que você entendesse que não estou brincando. Nós dois estamos em perigo. E você não deve, sob nenhuma circunstância, deixar que os Auxiliadores desconfiem de você. Eles são treinados para te vigiar, e já devem ter percebido que você anda agindo de modo estranho.

A tontura o toma, as árvores girando indefinidamente à sua volta enquanto imagens surgem em sua mente. Vero... Anton... Seu pai... E todos os Auxiliadores... Todos eles o vigiando, todos prontos para...

Uma onda de náusea o prende, a voz de Dantálion cada vez mais distante enquanto a floresta gira. Suas mãos suam frio, e ele decide correr. Fugir. Abandonar para sempre aquela cidade enquanto há tempo.

Sentindo-se cada vez mais enjoado, se levanta num pulo, tentando correr. As pernas falham, e ele tropeça sobre si mesmo, o corpo pendendo.

Instantes antes de atingir o chão, porém, algo o segura.

Dantálion mantém os braços firmes ao redor de seu peito, sustentando seu peso enquanto repete algo indecifrável.

Lúcio então vomita todo o conteúdo de seu estômago e perde a consciência.    

    

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Dantálion [COMPLETO]Where stories live. Discover now