35.

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O silêncio hostil domina o cômodo por alguns instantes.

A ansiedade é tão intensa que faz o Sacerdote sentir dores de barriga. Quanto tempo teria se passado? Que tipo de espetáculo de horrores se seguiria àquele discurso? Quanto mais demoraria para amanhecer? Se amanhecesse e ele não estivesse no Palácio...

Ele olha na direção de Dantálion, que permanece como uma pedra, alheio à sua presença. Ele não se esqueceria do detalhe do tempo, esqueceria?

- Agora podemos, por favor, falar de coisas mais importantes? – alguém diz, provavelmente a mesma pessoa que havia reclamado antes.

O Surdo que havia comandado a reunião até o momento se senta.

Para a surpresa do Sacerdote, quem assume o turno é Dantálion, colocando os cotovelos sobre a mesa e inclinando-se na direção dos demais:

- Precisamos repensar um plano de ação. – confiante, sua voz firme prende a atenção de todos - O novo Sacerdote assumiu recentemente, mas ele não é um problema para nós, já que não demonstra ter autoridade nem capacidade para comandar. Com certeza os Auxiliadores começarão a pressioná-lo em breve, e isso sim pode se tornar um problema.

Todos concordam com a cabeça.

O Sacerdote cerra os dentes e fecha as mãos em punho, incapaz de acreditar na frieza com que o outro fala mal dele, mesmo estando ao seu lado.

- O que você sugere que façamos?

- Acredito que agora seja muito cedo para agir. – continua – Precisamos analisar melhor como será o novo período antes de tomarmos qualquer atitude precipitada.

- Nada vai mudar. – alguém intervém – Os Auxiliadores vão continuar fazendo o que bem entendem.

- Discordo. – retoma Dantálion – Este Sacerdote é mais fraco e ingênuo que o pai dele, e os Auxiliadores vão se aproveitar disso. Mais ainda: ele é muito jovem e não inspira confiança no povo. Certamente vivenciaremos um período turbulento nos próximos anos. As coisas dificilmente serão iguais ao que foram até agora, e isso pode nos trazer tanto vantagens quanto desvantagens.

O Sacerdote sente ódio do outro. Como pode estar falando coisas tão humilhantes a respeito dele, enquanto ele ouve? Será isto que ele realmente pensa a seu respeito, que é ingênuo e fraco, incapaz de cumprir sua função ou de ter qualquer autoridade? Sua vontade é de sair correndo da sala e acordar em seu quarto, sabendo que tudo não havia passado de um pesadelo, um pesadelo estranho e longo em que ele compactuava com seus próprios assassinos. O cansaço que o toma o ajuda a imaginar que talvez aquilo tudo fosse uma ilusão.

Algo, no entanto, está errado com a ilusão. É complicada e aterrorizante demais para ser simplesmente um pesadelo, e, com a intensidade do desconforto em seu estômago e mandíbula, não seria possível continuar dormindo caso fosse um sonho.

Isto é real, pensa, sentindo todas as suas tensões se intensificarem mais ainda.

- Deixemos os Auxiliadores se distraírem com suas regalias. – outra pessoa fala, num tom mais alto que os demais – Isso nos dará tempo para mobilizarmos o povo.

- Não é uma boa ideia. – comenta outro – Foi isso que nossos pais fizeram de errado. O povo ainda tem muito medo de nós, eles nos entregariam na certa.

- Estamos num labirinto sem saída. – anuncia tristemente um deles, enterrando o rosto entre os braços.

- Não.

Todos olham para Dantálion.

- As coisas serão diferentes agora. – ele declara com firmeza.

- Como pode ter tanta certeza, Dantálion?

Ele se levanta.

- Porque tudo sempre é diferente. – ele estende a mão para o Sacerdote –Vamos encerrar a reunião de hoje.    

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Dantálion [COMPLETO]Where stories live. Discover now