Zehn.

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Marco abotoou sua melhor camisa branca, com um cuidado absurdo. Ele não sabia o que vestir, pois não sabia o que encontraria quando chegasse ao jantar e Toni não tinha dado nenhuma pista. Por isso, a camisa de botões e o jeans escuro, pareceram uma boa pedida.

Às sete em ponto, Toni buzinou na frente de sua casa, com uma caminhonete caindo aos pedaços, mas que Marco ficou grato em encontrar — não era o maior fã de motocicletas. Já havia se aventurado com Toni em uma delas, e apesar do loiro ser cauteloso e ter dirigido com uma calma invejável, Reus preferia sentir o vento em seu rosto através da janela de um carro.

Com um sorriso nervoso, o ruivo se afastou da janela, pegando seu casaco antes de caminhar até a porta e deixar o apartamento. Desceu as escadas depressa e entrou no veículo, vendo Toni se inclinar no banco para depositar um beijo em sua bochecha, antes de se afastar e começar a rir consigo mesmo. Ele fazia aquilo com frequência e se Marco não o conhecesse há algum tempo, juraria que ele estava alto.

— Parece que você levou um soco no estômago.

Reus revirou os olhos, prendendo o cinto, depois soltou um suspiro, devolvendo o olhar do loiro.

— Também é bom ver você.

Toni soltou outra risada, ligando o carro. O rádio ecoava uma música calma, constrastando com o calor sufocante. Marco estava nervoso e nem ao menos conseguia disfarçar.

— Você me viu há poucas horas. — Kroos respondeu, mantendo o olhar na rua. Ele dirigia com calma, como se estivesse levando Marco para um lugar que ele já conhecia. Reus gostaria de estar pacífico daquela maneira, mas sempre foi ansioso demais. — Precisa respirar, doutor, aposto que não é sua primeira vez.

Não era, mas Marco não era a pessoa mais experiente no assunto. Conhecera a família de seu ex marido há mais de cinco anos atrás e depois os vira quando se casaram. Seu ex não era exatamente o tipo de pessoa que mantinha um contato constante com a família, ao contrário de Toni, ao que tudo indicava.

— Só não quero passar uma má impressão.

A resposta pareceu agradar Kroos, que levou alguns minutos para responder. Ele parecia ainda mais tranquilo, enquanto batucava os dedos contra o volante no ritmo da música, como se toda sua vida estivesse sobre controle, mas Marco sabia que não estava — Toni apenas não entrava naqueles assuntos com ele.

— Você? — o loiro questionou por fim, apertando os lábios para conter um sorriso doce, virando seu rosto rapidamente para Reus. — Marco, você não passaria uma imagem ruim para minha família, nem mesmo se tentasse.

Ele poderia causar uma imagem ruim, sem nem ao menos tentar, Toni apenas não sabia disso ainda. Mas Marco sorriu, porque Toni fora gentil, como sempre era. Reus ainda não tinha se acostumado com aquilo — não somente com gentilezas e atos nobres, mas com eles vindos de alguém como Toni. Não que ele fosse uma pessoa ruim, Marco realmente acreditava que Toni era genuinamente bom, mas toda aquela pose de bad boy e sussurros de coisas ilegais que rodavam a cidade, não eram exatamente o estilo de pessoa que você imagina que possa ser tão gentil.

Marco suspirou, desviando os olhos para a janela. Ele não conhecia muito bem a cidade, devido as intermináveis horas que passava no hospital, mas tinha certeza de que não estavam mais do lado que ele conhecia. A casa da família de Toni, ficava do lado oposto à sua, longe da mecânica e do hospital, em um lugar quieto e silencioso e perto de uma igreja antiga. Reus ergueu a sobrancelha, virando-se para o loiro.

— Me fale algo sobre seus pais.

Toni umedeceu os lábios com a língua, parecendo pensar no que dizer em seguida. Por fim, deu de ombros, ainda com os olhos voltados para o caminho.

— Minha mãe é uma mulher forte, você vai gostar dela. — sorriu, espiando Marco, recebendo um sorriso de volta. — Ela vai te dizer o que der na telha, não é o tipo de pessoa que pensa antes de falar.

Reus aumentou seu sorriso, transformando-o em uma risada alta, ainda que contida. Toni pareceu se agradar com o som, provavelmente porque Marco não era do tipo que ria daquela forma todo o tempo.

— Se consigo lidar com você, acho que posso dar conta dela.

Se teria de lidar com aquilo, suando de nervoso, Marco podia muito bem tentar descontrair o momento. Toni negou com um aceno, franzindo seu cenho antes de continuar.

— Não se anime, ela é mais petulante do que eu jamais serei.

— Não está ajudando. — Marco revirou os olhos, remexendo-se no acento. Estava aproveitando a brecha para saber mais a respeito do loiro, e se tudo desse certo, sairia da casa dos Kroos, com o currículo completo dele. — E seu padrasto?

Toni suspirou, apertando suas mãos no volante. Não parecia querer seguir por aquele caminho, mas ainda assim, respondeu.

— Ele é um bom homem. — deu de ombros, diminuindo a velocidade. Deveriam estar perto. Marco aguardou. — Nós temos uma relação complicada. Mas ele me criou e adotou meu irmão como filho, não posso reclamar.

Marco conhecia o significado da palavra "complicada" melhor do que qualquer um, e sabia que existiam trilhares de vertentes para aderi-la na vida de Toni. Preferiu não insistir, não queria ser a causa de qualquer desconforto.

— Então você tem um irmão?

— Félix. — agora, Toni voltou a sorrir, encostando o carro próximo à uma das dezenas de casinhas coloridas. Desligou o motor, soltando o cinto para olhar para Marco. — Ele é um bom garoto.

Marco retribuiu o sorriso, também soltando seu cinto. Se moveu no banco, virando-se para Toni. Estavam frente a frente, seus joelhos se tocavam e Reus não pode conter sua mente de retroceder para aquela manhã. Aqueles mesmos joelhos contra os seus, mantendo seus corpos tão próximos que Marco quase podia sentir tudo aquilo novamente.

— Não tenho irmãos. — raspou a garganta, espantando as lembranças. — Quero dizer, tenho duas irmãs, mas... É diferente, eu acho.

Toni assentiu com um aceno, esticando sua mão para tocar a de Marco. Reus apreciava aquelas pequenas coisas, como Kroos sempre esperava por algum sinal dele, alguma forma de autorização antes de toca-lo, como estava sempre pronto para recuar quando Marco pedisse. Mas ele não conhecia o sentimento de pedir que o loiro não o tocasse, era estranho, mas momentos como aquele, faziam-no se sentir em casa. Seja lá o que isso significasse, Marco apenas não queria ficar obcecado para descobrir.

— Minha mãe sempre quis garotas. — Toni riu, revirando seus olhos. Marco aproveitou para enroscar seus dedos nos dele, atraindo sua atenção para onde suas peles se tocavam. Toni franziu o cenho, mantendo seus olhos em suas mãos juntas por alguns instantes, antes de ergue-los para os de Reus. — Está confortável com isso?

Existiam duas possíveis referências para aquela pergunta. Poderia ser por suas mãos unidas em um momento tão confortável e íntimo, mas também poderia ser com o fato de Toni tê-lo convidado para conhecer sua família, apenas pouco mais de três semanas depois de se conhecerem. Nem um mês. Marco não queria pensar que estavam indo rápido demais, porque nem ao menos sabiam para onde exatamente estavam indo. E Toni não o pressionava, nunca, sobre nada. Era tudo no tempo de Marco. E por ele, estava tudo perfeito.

— Estou bem. — o ruivo arriscou um sorriso, erguendo suas mãos unidas. — Com isso e — então apontou para a casa com a cabeça. — com aquilo.

Toni acenou, apertando seus dedos contra os de Marco, então suspirou, virando seu rosto para encarar a casa de sua família. Um amarelo claro, com uma varanda linda e cheia de flores, e com todas as luzes acessas. Deveriam haver milhares de memórias ali e Marco estava prestes a descobrir algumas delas.

— Tudo bem. — Toni soprou. Marco mordeu os lábios, antes de esticar sua mão livre e segurar o rosto do loiro, virando-o para ele. Deu uma última olhada nos olhos azuis e então se esticou para frente, tocando os lábios de Toni com os seus. Tão rápido quanto aconteceu, acabou, mas pareceu ser o último empurrão que Kroos precisava. Ele sorriu. — Vamos lá.

Dogs of War. {Kreus Ver.}Where stories live. Discover now