Achtundzwanzig.

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Toni bateu os dedos pelo balcão, totalmente impaciente em ter que esperar. Estava ali há pelo menos dez minutos, o que não era nada comparado a quantas vezes ele teve de ir até ali na última semana e ouvir desculpas dos outros policiais — desculpas que Robert os mandava dar, apenas para não atende-lo. Mas agora, era diferente e ele não estava ali apenas para conversar. Mario tinha entrado em contato com ele após o almoço e contado o que acontecera, depois de fazer Toni jurar que não daria com a língua nos dentes. Ele não o faria, apenas porque aquilo faria com que Marco se sentisse ainda mais culpado.

— Kroos. — Piszczek saudou, passando por trás dele antes de ficar ao seu lado e começar a assinar alguns papéis. — A que devo a honra?

— Vim ver Robert Lewandowski, não você. — Toni sorriu para ele, piscando um dos olhos quando conseguiu sua atenção. — Sinto decepciona-lo.

— O detetive? — Lukasz perguntou, franzindo seu cenho. Toni anuiu, desviando os olhos para a TV. — E como o conhece?

— Já conheceu meu namorado? — Kroos alfinetou, recebendo um aceno positivo. —É claro que sim, Reus te pediu ajuda para lidar com isso. — riu consigo mesmo, virando-se para o policial. — Ele é meio ingênuo.

Lukasz não mordeu a isca, ocupado em colocar todas as informações em ordem. Quando conseguiu, piscou seus olhos algumas vezes antes de prosseguir.

— Marco nunca disse o nome dele. — Lukasz suspirou, parecendo sincero. — Como ele está?

— Estou cuidando dele, subdelegado. — chiou, finalizando sua fala com um sorriso, quando viu a porta do escritório destinado a Robert, se abrir. — E agora vou cuidar do que o incomoda.

Passou por Lukasz, que nem ao menos tentou impedi-lo, e caminhou pelo pequeno corredor, forçando sua mão contra a porta que estava sendo fechada. Robert apertou os olhos quando o viu, não tendo escolha além de voltar a abrir passagem.

— Nos encontramos novamente. — Toni saudou, entrando na sala e se jogando em uma das cadeiras, sem nem ao menos ser convidado. Apontou para a cadeira a sua frente, ainda vestindo seu melhor sorriso. — Não vai se sentar?

Robert devolveu o sorriso, atendendo o pedido do loiro. Sabia que Toni estava atrás dele, como um cachorro que perseguia a própria cauda; ele fazia jus ao nome que usava em seu colete.

— O quer quer, Kroos?

Toni se curvou, apoiando as mãos abertas sobre a mesa, mantendo seus olhos fixos nos do polonês. Estava puto e tinha dificuldades para encontrar foco, mas sabia que todas ações tinham suas reações e que ter uma explosão ali, só tornaria as coisas mais complicadas, além de dar exatamente o que Robert queria.

— Você — deu de ombros, como se fosse algo trivial, forçando os dedos contra a madeira. — Fora de Greifswald.

Robert riu, relaxando contra a cadeira. Estava atrás dos Cães há meses e tinha ficado extremamente satisfeito quando se dera conta de que mataria dois coelhos com uma única cajadada. Não seria Kroos, o membro mais volátil do clube, que o faria repensar seus planos.

— Deixe-me facilitar para você — o moreno repetiu as mesmas palavras que recebera em seu primeiro encontro com o loiro. O ato, o uso das palavras, fez Toni alargar seu sorriso. Seria complicado; mas ele amava a emoção de desatar nós. — Não estou aqui apenas por Marco, estou por você. Sei o que fazem quando ninguém está olhando e estou bem perto de pegar vocês.

— E está me contando isso porquê?

— Por que estou disposto a desacelerar, inventar minha maior desculpa para os meus superiores, — Lewa moveu as mãos na frente do rosto, dando ênfase ao que falava, para depois passá-las pela barba rala. — Quem sabe, prender alguns de vocês, apenas para encerrar o assunto.

Toni negou veementemente, mantendo os dentes a mostra. Ele não recuaria, não deixaria transparecer sua preocupação e nervosismo. Continuaria sorrindo, como se aquele ato fosse seu bote salva vidas.

— Não vai acontecer.

— Me devolva o que é meu, Kroos. — falou Robert, agora, com a voz baixa e mansa. — E pode seguir com a sua vida, longe daqui. É um homem esperto, tem curso superior, pode se dar bem em uma cidade grande. Quem sabe em outro País?

— Eu disse que não vai acontecer. — Toni murmurou entre os dentes, levantando-se da cadeira, apoiando-se sobre a mesa para ficar o mais perto possível do rosto de Lewandowski. — Se chegar perto dele novamente, eu mato você.

— Não, não mata. — Robert soprou, mantendo-se firme. Era como dar murros constantes em uma parede: apenas causava ferimentos em si mesmo, mas você continuava socando-a. — Não é um assassino.

Toni apertou o maxilar. Aquele momento, aquela breve situação, estava exigindo tanto de seu auto controle, que ele podia sentir seu corpo inteiro tremer. Seria tão fácil enterrar aquele rosto perfeito na mesa na qual ele se apoiava, que apenas a ideia já era satisfatória demais.

— Disso você entende, não é? — respondeu, voltando seu corpo para a posição normal. Manteve-se em pé, correndo seus olhos pela sala, antes de voltar a pousa-los no polonês. — É preciso apenas uma fração de segundos de uma coragem absurda, para puxar um gatilho. — sorriu, dando passos à cegas para trás. — Mas você já sabe disso.

****


— Por que não me ligou? — Toni perguntou, pela milésima vez na última hora.

Ele sabia que estava sendo repetitivo e que Marco deveria estar perdendo a paciência, mas simplesmente não entendia o motivo para guardar aquele segredo. Não que ele não tivesse conhecimento do que tinha acontecido, mas o tinha devido à terceiros, e aquilo o machucava um pouco. Marco tinha contado, mas só depois de jantar com ele e se aninhar em seus braços no sofá.

— Não queria preocupa-lo ainda mais. — o ruivo confidenciou, soltando um suspiro baixo. — Sei que não ando merecendo a sua confiança, mas juro que não o fiz por mal.

— Eu sei que não. — Toni respirou fundo, tentando se acalmar. Ele já tinha resolvido, pelo menos por hora, e não era a melhor pessoa do mundo para julgar alguém por manter segredos. — Venha cá — abriu os braços, aninhando Marco novamente em seu peito. Estavam vendo um filme qualquer, que continuava rodando e rodando, sem que nenhum dos dois tentasse entendê-lo. — Não quero que pense mais nisso.

Marco assentiu, respirando fundo contra sua camisa. Ele parecia tão pequeno em momentos como aquele, que era como se fosse extremamente frágil. Toni remoeria aquela tarde por toda a noite, mas não queria que o ruivo o fizesse. Era estranho e ele nunca tinha sentido aquilo antes, mas pela primeira vez na vida, se sentiu útil e importante para alguém.

— Vai estar ocupado no sábado? — Marco murmurou, mudando de assunto, sem erguer o rosto. Toni negou. — Mario nos convidou para um jantar.

— Achei que ele não gostasse de mim. — Kroos riu. Apesar do ato de Götze naquela tarde, não era segredo algum que ele não ia com a cara de Toni e que só tinha feito aquela ligação, porque se preocupava com Marco. Seja como fosse, Toni agradecia sua preocupação.

— Não seja bobo. — Reus balbuciou e Toni quase pode vê-lo revirar seus olhos. — Ele só não te conhece direito.

— Causo uma primeira impressão tão ruim assim?

— Sim. — Marco riu, aumentando ainda mais o som de sua risada depois de ouvir Toni exclamar um "outch". — Não seja dramático. — começou, tentando prender a risada. Ergueu o rosto para olhar para Toni, levando os dedos longos até os cabelos loiros. — Vai gostar dele.

— Sei que sim. — Toni respondeu sorrindo, buscando sua mão para deixar um leve beijo em seus dedos. Um jantar poderia ser bom e era importante para Marco, então, era importante para ele. E além do mais, devia uma à Mario Götze. — Está muito longe de mim, venha. — finalizou manhoso, fazendo Marco rir uma última vez, antes de voltar para sua antiga posição.

Secretamente, Toni só queria que momentos como aquele, fossem eternos, mesmo que soubesse o que custaria-lhe para tê-los. Existiam coisas que as pessoas davam a vida para ter e existiam outras, que mesmo algo tão precioso, ainda não valia o preço.

Dogs of War. {Kreus Ver.}Where stories live. Discover now