Zwölf.

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— Não vai me dizer o que aconteceu? — Toni perguntou, apertando o corpo de Marco contra o seu.

Estavam do lado de fora do apartamento do ruivo, com Toni encostado na porta da caminhonete e Marco entre seus braços. Tinham saído há pouco mais de trinta minutos da casa dos pais de Toni, e estavam daquele jeito há pelo menos quinze. Marco tinha se despedido de todos mecanicamente e Kroos tinha percebido que algo estava errado, por mais que ele tentasse disfarçar e desconversasse durante todo o percurso.

O fato era que Marco não sabia como introduzir o assunto, apesar de saber que era o certo a ser feito. O problema era que, se ele resolvesse se abrir com Toni, teria de desenterrar coisas que levara muito tempo para conseguir sufocar. Porém, tinha se assustado e precisava contar a Kroos, só não sabia como. Não tinha como ter certeza de que a mensagem tinha vindo de Robert, por mais que fosse somente aquilo que seu coração gritava.

Soltou um suspiro, desencostando seu rosto do peito do loiro para olhá-lo nos olhos. Tinha que tomar uma decisão e não apenas por ele, Toni precisava saber.

— Você quer entrar?

Kroos concordou com um aceno silencioso e deixou que Marco agarrasse sua mão e o puxasse para dentro. Ele tinha prometido à Joseph que seria breve, mas parecia haver muito mais em jogo agora. Reus sempre parecia ansioso, mas aquela era a primeira vez que ele tinha visto medo no olhar do ruivo, por isso, acompanhou Marco e se sentou em silêncio ao seu lado no sofá. Reus tinha acendido a luz, mas o apartamento nunca parecera tão escuro.

— Precisa saber algumas coisas sobre mim. — Marco começou em um sussurro antes que perdesse a pouca coragem que tinha, desviando os olhos para o chão. Toni sabia que Marco escondia mais do que ele poderia imaginar, mas tinha guardado para si toda sua curiosidade e respeitado o tempo do ruivo. E, aparentemente, seu tempo tinha chegado. Kroos tocou sua mão, deixando ambas unidas sobre o colo de Marco. Ele não era muito bom naquele tipo de coisa; como amparar alguém e passar confiança, mas toda tentativa era válida. — A primeira é que eu não deixei Dortmund por vontade própria. — Marco revirou os olhos, parecendo se lembrar de algo, ajeitando a postura. — Quero dizer, eu sempre quis ir embora, mas não da forma que fui.

— Marco, não precisa entrar em detalhes.

— Preciso, sim. — Marco cortou, porque apesar do timbre doce de Toni, ele não fora capaz de conter a amargura em sua voz. — Preciso porquê, existe uma grande chance de que meu passado esteja atrás de mim e se ele chegar até aqui... quero que você saiba de tudo por mim.

Toni assentiu. Sua mão ainda apertada contra a de Marco, seus dedos sendo prensados cada vez mais por uma mão trêmula demais. Mas ele aguardou, quieto, porque sabia como era difícil contar sua história para alguém, principalmente, quando ela não acabava bem.

— Eu fui casado. — Marco recomeçou, erguendo seus olhos para ele, trazendo-o de volta de seus devaneios. — Por cinco anos e eu o amava. Nós tínhamos o relacionamento perfeito e eu não poderia estar mais feliz. — seus olhos marejaram, mas Marco descartou as lágrimas com um sorriso nervoso. — No nosso terceiro anos juntos, descobri que Robert me traía e achei que poderia resolver tudo em uma conversa e... eu realmente achei que tínhamos resolvido e que ele não o veria mais, mas... — ele fungou e Toni quis, mais do que nunca, puxa-lo para seus braços, mas não podia. Marco Reus era uma represa e estava vazando. — Nós brigávamos com frequência, em um nível até mesmo baixo, mas Robert nunca tinha sido violento antes.

Violento. A palavra soando como um sopro e o loiro mal pode ouvi-la. Toni apertou os lábios, mudando sua atenção para o teto. A cor branca da pintura, mudando-se para vermelho através de seus olhos. Ele tinha entendido e estava puto. Entretanto, não era de um acesso de incredulidade e raiva que Marco precisava, por mais que fosse apenas aquilo que Kroos conseguia pensar ser capaz de oferecer no momento. Mas ele respirou fundo e desceu seus olhos para o rosto de Marco — levemente avermelhado, com olhos úmidos e lábios apertados.

— Ele bateu em você? — questionou, por mais que já soubesse a resposta. Reus não respondeu, nem mesmo com um gesto mecânico. Toni conhecia pessoas que foram agredidas por seus companheiros, ele já havia sido o afago que muitas mulheres buscavam, já tinha sido o responsável por resolver as coisas. Tentou novamente, tentando agir como uma pessoa comum reagiria. — Você o denunciou?

Marco riu, revirando seus olhos. O mundo de Toni era totalmente oposto ao seu, mas algumas coisas nunca mudavam, não importava o cenário.

— Robert é policial, Kroos. — debochou, antes de negar com a cabeça. — Não é assim tão fácil. Tenho uma ordem de restrição, mas...

Ambos sabiam como aquilo funcionava, Marco não precisava completar a frase. Era um pedaço de papel, que não garantia segurança alguma, nem mesmo uma falsa.

— Ele procurou você? — Toni franziu o cenho, tentando colocar as ideias em ordem. — Procurou você hoje?

— Eu não sei. — Marco sussurrou, prendendo um suspiro sôfrego. — Recebi um sms, na casa dos seus pais, mas eu não sei. — ele estava frustrado e foi isso que seu ato de soltar sua mão da de Toni, gritava. Mas era seu rosto, o dono da maior preocupação do loiro. Marco estava tomando uma posição defensiva. — Vou entender se precisar de tempo para digerir, não vou me zangar.

Toni se mexeu sobre o estofado, cruzando uma de suas pernas embaixo do corpo. As coisas começavam a fazer sentido aos poucos, todas as retraídas de Marco e sua constante sensação de ansiedade, mas ele não precisava digerir nada. Estava tudo claro para ele, como sempre esteve.

— Tempo? De você? — o loiro aumentou o tom de voz, buscando o rosto de Marco para segura-lo entre suas mãos. Os olhos verdes que tinham-no encantado desde o primeiro momento em que os vira, pareciam tristes e opacos, mas ainda eram os mesmos olhos que ele buscava todos os dias desde então. — Todos temos nossos fantasmas, doutor e os seus não me assustam.

Marco negou com um sorriso. Toni Kroos vinha-o surpreendendo durante todo aquele curto espaço de tempo em que se conheciam, e ele nunca parecia se cansar de fazê-lo. Tinha tanto ainda para contar ao loiro, mas tinha sido obrigado a vomitar as palavras sobre Robert e não queria que todo o resto saísse daquela forma; como uma obrigação. Havia contado o necessário para o momento, apenas para alerta-lo, apenas para justificar fatos que poderiam vir a acontecer no futuro.

— Eu não sou perfeito como você imagina, Toni.

Kroos voltou a negar, mantendo seus olhos sobre Reus mesmo quando o ruivo desviou os seus. Ele tinha sido criado para ser o garoto de ouro e tinha dado tudo de si para manter aquela ideia viva, mas até mesmo ouro poderia perder seu valor em determinadas situações. E aquela, para seu azar, parecia ser uma delas.

— Ainda te vejo da mesma maneira, Marco. — Toni assegurou. Ele não sabia como se sentia em relação a Marco, não sabia denominar o que estavam tendo, mas Reus passara a ser uma parte fundamental de sua vida e ele cuidava do que era dele. — Não precisa ter medo, não aqui.

— Você não o conhece. — Marco retrucou, em uma voz baixa demais. — Não como eu.

— E ele não me conhece. — agora foi a voz de Toni, e ele não pode conter o pequeno sorriso. — Sou sua carta na manga.

Marco não foi capaz de retribuir o sorriso e nem de pensar sobre o que ele poderia significar, pois Toni afastou todas aquelas coisa para longe, quando o beijou. Docemente, como ele tinha feito naquela primeira noite. Não era um beijo capaz de afastar seus demônios para sempre, mas foi o suficiente para cala-los naquela noite.

— Vá dormir, Marco. — Kroos soprou perto de seus lábios, antes de beijar sua testa. — Não está mais sozinho.

Dogs of War. {Kreus Ver.}Onde histórias criam vida. Descubra agora