Fünfunddreizig.

111 10 0
                                    

Quando o sábado chegou, Marco precisou encontrar forças para se levantar da cama e aparecer na festa do Hospital. Ele tinha passado a semana toda enjoado e recebendo agrados de Toni, que estava mais presente do que nunca, poderia arriscar dizer que estava mal acostumado e totalmente desestabilizado de sua rotina. É claro, que tinha comparecido ao hospital todos os dias, com exceção daquele sábado, mas tinha prometido que se esforçaria para fazer sua parte no evento. Toni estaria com ele e Mario também estaria lá com Ann, não seria uma tortura por completo.

Pensar em Götze fazia-o se lembrar de que, além dele e da doutora, apenas Kroos sabia sobre à gravidez e que talvez, fosse hora de começar a fazer seus telefonemas e informar as pessoas queridas.

Suspirou, retirando suas roupas enquanto caminhava até o banheiro. Um banho quente faria-lhe bem e o ajudaria a encontrar ânimo, e enquanto a água corria sobre sua pele e seus dedos percorriam o mesmo caminho, Marco se viu encarando seu ventre.
Estava de sete semanas agora, seu abdômen começando a ficar levemente inchado. Não o bastante para levantar perguntas e talvez, fosse apenas a imaginação de Reus, dada pela consciência de que realmente havia uma vida dentro dele. Suas cicatrizes permaneciam lá, cada pequena marca de sua antiga vida, o pequeno corte de sua primeira gravidez interrompida. Seu filho daria-lhe um novo corte sobre aquele, mas jamais apagaria a lembrança. Marco deslizou suas mãos sobre a pele de sua barriga, encostando a testa na parede gelada.

Há pouco mais de cinco meses, ele vivia uma realidade completamente oposta à que vivenciava agora, e quando parava para pensar sobre o longo caminho que tinha percorrido, se sentia orgulhoso. Para o resto do mundo, as coisas poderiam parecer terem acontecido muito rápido, mas para ele, tudo parecia ter tomado uma eternidade para se desenrolar. Ele tinha se tornado uma nova pessoa desde que chegara a Greifswald, desde que conhecera Toni. Tinha se tornado uma versão melhor de si e continuaria evoluindo.

Evoluindo como seu relacionamento com o loiro. Que se construíra em pouco mais de quatro meses, e que ainda assim, Marco sentia que tinha levado séculos. Agora, observando o mundo à sua volta e sua nova realidade, ele sentia que as coisas tinham acontecido no tempo exato. Levara tanto tempo para conseguir aceitar quem era e mais ainda para conseguir compartilhar tudo o que precisava com Kroos. Uma vida inteira de mentiras e dores, que tinham sido sobrepostas por meses de carinho, amor e confiança, exatamente como Toni tinha prometido. Se sentia uma pessoa diferente daquela que tinha contado sobre seu antigo relacionamento e seu aborto, na clareira pouco longe dali, alguns meses antes. Se sentia diferente, porque estava diferente. Seus demônios e seus fantasmas ainda o perseguiam, mas ele não tinha mais tanto medo deles.

Esfregou seu corpo com delicadeza, se aproveitando daquele momento de reencontro consigo mesmo e depois, deixou que a água levasse todas as coisas ruins embora. Estava recomeçando quando chegou ali e agora, era hora de fazê-lo direito.

Às oito, Marco se jogou no sofá e alcançou seu celular — esquecido sobre a mesinha naquela mesma manhã — e em um sopro de coragem, discou o número de sua mãe. Era a primeira vez que ele entraria em contato depois de deixar Dortmund, e apesar de saber que Yvonne deveria ter repassado as notícias para a matriarca, ainda sentia que tinha trilhões de coisas a serem ditas.
No quarto toque, sua mãe atendeu e Marco levou alguns segundos para encontrar sua voz.

— Mãe? — chamou, com um tom incerto. — Sou eu.

Ouviu o suspiro do outro lado da linha e se ajeitou sobre o sofá.

— Querido, como está?

A voz de sua mãe ainda era a mesma, talvez um pouco mais acolhedora e complacente.

— Com saudades. — Marco admitiu, sentindo seus olhos arderem. — Eu quis entrar em contato tantas vezes, sinto muito por não tê-lo feito.

Manuela fungou junto à ele e Marco sorriu. Sempre foi extremamente parecido com ela, à um ponto que parecia assustador.

Dogs of War. {Kreus Ver.}Onde histórias criam vida. Descubra agora