41 | Chapter forty one

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Shawn

Sou acordado pelo barulho da porta do roupeiro e abro os olhos, não sentindo mais Sarah ao meu lado.

"Você acha que isso dá um ar de filha deprimida o suficiente?" Levanto a cabeça e vejo ela encarando o espelho e ajeitando seu vestido preto até os joelhos. Ela estava muito calma para quem acabou de perder o pai.

"Está ótimo." Engulo em seco, ainda com medo de falar alguma bobagem.

"Não quero exagerar no desânimo, óbvio, mas também não seria legal passar a impressão que eu desejaria ter sido a pessoa que atropelou ele." Entre ontem e hoje não sei qual dos humores eu gostava menos. Ontem ela estava fria, mas a tristeza nos seus olhos era evidente, e hoje ela estava diferente. Como se estivesse indo no enterro por obrigação e ficar se lamentando fosse a última opção. Do mesmo modo, sentia que a linha entre seu estado atual e o completo desabamento era extremamente fina.

"Tenho que buscar algumas roupas no hotel, você vai ficar bem?" Me sinto um completo idiota deixando ela sozinha, mas algo me dizia que fugir da situação era mil vezes mais fácil do que lidar com ela.

"Claro." Sarah passa mais rímel nos cílios, e eu tento fazer contato visual, mas seus olhos não abandonam o espelho.

Dou uma olhada final para ela antes de sair do cômodo e é possível perceber suas olheiras profundas, até mesmo através das diversas camadas de corretivo.

Sarah
Deslizo o anel no meu dedo e tomo o trigésimo gole de vodka do dia. Paro para invejar o eu do passado, que não valorizava o fato que não ter ideia da localização do meu pai era maravilhoso comparado com isso.

Sinto meu celular tremer e vejo o nome do Shawn no visor. Olho no espelho pela vigésima vez antes de sair de casa e me sinto patética. Patética por estar indo nesse enterro, e ainda mais patética por algum dia ter pensado que a minha relação com o meu pai melhoraria.

Entro no carro de Shawn e sinto seu olhar pesado sobre mim. Odiava o jeito que ele estava me tratando hoje, como se eu fosse uma bomba prestes a explodir, como se eu fosse uma cadelinha perdida que necessitasse que alguém a socorresse.

"Eu não preciso da sua pena Shawn." Ele me olha confuso. "Você esteve me olhando estranho o dia inteiro caralho, eu sei que eu perdi um pai ok? Não precisa ficar me lembrando disso toda hora. Mas não é como se fosse fazer muita diferença nesse ponto da minha vida." Ele abre a boca para falar mas eu o interrompo. "Você sempre me trata como se eu fosse frágil, como se eu precisasse de você para me socorrer, mas a verdade é que eu não preciso. Não preciso de você assim como nunca precisei do meu pai ou de qualquer outro homem."

"Sinto o cheiro de vodka daqui Sarah." Ele não responde nada do que eu falo, apenas age novamente como se eu fosse a porra de um explosivo. Olho para ele com um olhar cortante e sinto o sangue do meu rosto aquecer de raiva.

"Você vai dirigir essa merda ou vou ter que ir para o enterro do meu próprio pai com a porra de um transporte público?" Ele passa a mão no rosto e finalmente liga o carro.

"Não sei se o propósito aqui é me ofender, mas ouvir você colocar três palavrões em cada frase que fala é hilário." Ele retruca e me alcança uma garrafa de água e um chiclete. "Tome, vai tirar um pouco do bafo."

Recuso ambos e viro para a janela. "É muito provável que metade das pessoas lá estejam bêbadas também, quem sou eu para estar fora do padrão?" Rio. "Não sei que tipo de conhecidos John deve ter tido que não sejam alcoólatras ou drogados, aliás, ninguém vai fazer a menor ideia de quem eu sou." Shawn permanece calado e estaciona o carro na igreja.

"Quem pagou por essa merda?" Pergunto. Ele não responde novamente. Se ele ficasse calado por mais um minuto eu enlouqueceria. Abro a porta do carro e me dirijo à igreja, vendo milhares de pessoas que eu nunca havia visto na vida.

Shawn pega minha mão e eu tento soltar, mas ele segura mais forte. O padre me cumprimenta na porta da igreja e eu dou um sorriso falso. Olho em volta e escuto gente chorando, quem diabos eram essas pessoas?

"Ah, você deve ser a Sarah." Uma mulher com um chapéu inapropriadamente grande me cumprimenta.

"Sou." Digo.

"John sempre falava sobre você." Ela sorri através das lágrimas.

"E por acaso você gostaria de me dizer quem é você?" Shawn aperta minha mão forte e eu dou uma cotovelada não tão discreta no seu peitoral.

"Meu nome é Amelia, sou coordenadora do GAUDA." Ela fala como se eu fizesse alguma ideia do que era aquilo. "Grupo de apoio para usuários de drogas e álcool." Ela sorri.

"Bom, então você deve ter se sentido aliviada quando recebeu a notícia que ele foi atropelado e não que sofreu uma overdose ou algo do tipo." Engulo em seco.

"Com licença." Shawn sorri e me puxa para o canto. "Sarah, você não é a única aqui que está de luto." Eu rio.

"Me poupe Shawn. Luto é a ultima coisa que estou sentindo." O empurro pro lado e vou em direção ao caixão. "Ele estava em um grupo de apoio." Falo pra Shawn ao perceber que ele estava me seguindo como um cachorro abandonado. Rio do fato que John tinha realmente procurado ajuda e sinto uma pontada no meu estômago.

Olho para seu corpo frio e sem vida deitado dentro daquele pedaço de madeira. "É incrível pensar que uma hora você pode estar aqui, vivendo sua vida e outra hora só não está mais." Sinto uma lágrima descer pela minha bochecha.

Shawn apoia seus braços nas minhas costas em uma tentativa de me confortar enquanto encaro o cadáver do meu pai. Não estava ajudando.

"Shawn Mendes." Escuto de longe e olho para trás, vendo que a voz vinha do padre que anteriormente havia me cumprimentado.

"Bom dia padre." Os dois se cumprimentam e vejo a expressão facial de Shawn ficar tensa.

"Esse homem é incrível, ambos o GAUDA e a igreja se ofereceram para pagar o funeral, ou pelo menos a cremação, mas ele se recusou." O padre fala com a maior suavidade do mundo enquanto a tensão de Shawn só aumenta, ele obviamente não queria que eu soubesse disso.

"Com licença." Me afasto de ambos.

Percebo Shawn me seguindo novamente. "Você pagou por toda essa porra?" Continuo caminhando rapidamente em direção a saída da igreja e sinto ele puxar meu braço.

"Sarah, me escute por um segundo."

"Shawn você teve todos os segundos do mundo para me falar isso e não aproveitou nenhum deles." Desabafo. "Você se sente culpado pela morte dele não se sente?" Pergunto e o silêncio fica cada vez maior entre nós. "E agora você tenta subornar meu perdão." Rio sarcasticamente, um pouco alto demais pois o riso ecoa pelas paredes da igreja e atraio alguns olhares. "Eu acho que está na hora de eu ir embora."

Shawn balança a cabeça e me segue em direção ao carro.

"Não Shawn, está na hora de eu ir embora."

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a fic está quase acabando acho que vai ter mais uns 3 capítulos só, tenho que achar um jeito bom e não mt triste de acabar ainda então provavelmente vai demorar mais um pouquinho. obrigada por lerem 🥰

Perfectly Wrong || Shawn Mendes [COMPLETED]Where stories live. Discover now