40 | Chapter forty

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Shawn

Eu havia desapontado ela novamente. Só de imaginá-la sozinha naquele quarto de hospital me dava angústia, e o pior era saber que se eu tivesse conseguido manter minhas mãos em uma distância consideirável do pai dela eu ainda estaria lá, sentado naquela cadeira ao lado da sua maca fazendo carinho nos seus cabelos sedosos e na sua pele macia.

Eu não conseguia imaginar metade do que estava passando pela cabeça dela, seria raiva? Tristeza? Por Deus espero que seja raiva. Eu conseguia tolerar ela brava comigo, mas era impossível suportar ver ela triste por causa de algo que eu havia feito. Claro, bater no pai dela foi totalmente infantil da minha parte, mas ele deu o primeiro soco, e eu tinha a impressão que ele não ia sair de lá se não fosse arrastado por guardas, então foi isso que aconteceu. Mas a parte dos meus cálcuos que falhou foi o fato de eu ter sido arrastado pra fora junto com ele.

Saio do hospital involuntariamente e ando no caminho contrário de John. Eu não tinha para onde ir, mas não queria continuar a briga aqui fora. Aqui fora não havia ninguém que me impedisse de socá-lo até a morte, o que provavelmente não seria bom para meu relacionamento com Sarah. Apesar de tanta coisa horrível que ele havia feito na vida dela, ela ainda o via como seu pai, e eu sabia disso.

Sarah perdoava fácil, e eu precisava fazer questão que John não chegasse mais um centímetro perto dela, pois ela o desculparia. Assim como ela me desculpou tantas vezes das coisas imperdoáveis que eu fiz com ela.

Pego o primeiro táxi que vejo e dou o endereço do hotel mais perto. Eu só queria que as horas passassem rápido para que eu pudesse buscar Sarah no hospital e me desculpar pela centésima vez por ter estragado as coisas.

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As horas parecem dias, então decido voltar ao hospital e esperá-la do lado de fora. Se eu ficasse sozinho nesse quarto por mais um minuto eu iria surtar, além de provavelmente acabar com mais um dos pacotes de amenduim caros do quarto do hotel.

Chego lá e sento no banco em frente ao hospital. Não fazia ideia do que falaria pra ela quando a visse. Desculpas? Uma parte de mim sente que elas não seriam o suficiente, mas outra parte de mim sente que elas não eram necessárias. Ele mereceu meu soco, e ele merecia muito mais do que só um soco por tudo que ele fez pra Sarah. Eu não era muito diferente. Merecia a mesma quantidade de socos e um pouco mais por tudo na vida dela que eu havia arruinado.

Espero meia hora e decido entrar no hospital.

"Com licença, quando Sarah Collins vai receber alta?" Pergunto e a enfermeira folha pelos seus papéis.

"Sarah já saiu à duas horas senhor." A enfermeira continua andando e sai da minha vista enquanto fico em pé no mesmo lugar.

Sarah

Ligo o chuveiro ainda com lágrimas saindo dos meus olhos. Eu havia chorado tanto nos ultimos meses que não acreditava que era possível ter mais lágrimas dentro de mim. Uma parte de mim se sentia horrível por ter saído do hospital sem Shawn, mas outra parte me falava que era muito menos do que ele realmente merecia por ter batido no meu pai. Porém, essa mesma parte também me dizia que um soco não era nada comparado com tudo que John Collins havia me feito passar.

A água quente do chuveiro caia sobre minha pele e concluo que era tudo que eu precisava naquele momento. Um banho quente, sozinha na minha casa sem nada nem ninguém pra me atrapalhar.

Contradizendo meus pensamentos, escuto meu telefone tocar. Desligo o chuveiro, seco as mãos e estendo meu braço para pegar o celular.

Shawn

Pego um táxi até a casa de Sarah e bato na porta. Ninguém abre e um sentimento de angústia me sufoca de repente, e se ela não estivesse ali? Eu não conseguia pensar em um lugar sequer que ela poderia estar que não fosse na sua própria casa. Então uma vaga lembrança me vem à cabeça de quando costumávamos sair juntos escondidos e ela colocava a chave debaixo do vaso de flor ao lado da porta. Abro um pequeno sorriso quando vejo que a chave ainda ficava ali e destranco a porta.

"Sarah?" Chamo, sem receber resposta alguma. Subo as escadas procurando-a quando escuto um gemido baixo vindo do banheiro. Meu coração aperta e me sufoca com desconsolo e aflição quando abro a porta e a vejo agachada no box. Seus braços envolvendo suas pernas descobertas, encarando a parede com seus olhos sem vida encharcados com uma mistura de lágrimas e água do chuveiro.

"Sarah, o que aconteceu?" Me aproximo dela, porém seus olhos permanecem fixados na parede, como se eu nem estivesse ali. Não recebo nenhuma resposta, nem um movimento sequer da parte dela.

Envolvo seu corpo em uma toalha e consigo fazer com que ela se levante para que eu possa secá-la. Seu corpo estava tenso e frio e seus longos cabelos castanhos cobriam metade do seu rosto. Ela estava em estado de choque. Apesar da minha preocupação estar me sufocando, não queria pressioná-la a falar algo naquele momento.

Tiro os fios de cabelo do rosto dela e a enrolo na toalha novamente. Seus lábios estavam roxos de frio, a quanto tempo ela estava ali sentada?

"Meu pai foi atropelado." Ela diz com frieza de repente. Não sei o que estava esperando ouvir, mas com certeza não era isso. Sem saber o que dizer, levo minhas mãos até sua bochecha e a acaricio.

Nunca havia lidado com morte. Claro que alguns dos meus familiares já haviam morrido, mas ninguém muito próximo que fizesse com que eu me sensibilizasse, e muito menos havia lidado com a necessidade de consolar alguém por causa disso. E essa situação era mil vezes pior. John Collins era evidentemente um escroto e não havia nada nesse mundo que justificasse o que ele fez. Admito que já fantasiei diversas vezes com a morte daquele homem, mas agora que ela tinha de fato acontecido, havia uma linha muito pequena entre o que eu podia falar e o que não podia, e se eu cruzasse essa linha não me perdoaria nunca.

"Ele estava no hospital menos de 12 horas atrás Shawn," sua voz permanece rígida, sem a mínima presença de emoção, "e agora ele está morto." Agora ela ri. Ri uma risada ácida e sardônica que eu nunca tinha ouvido antes. Confesso que preferia bem mais quando sua voz estava firme e sem emoções, era menos angustiante.

Sua risada não demora muito pra se transformar em um choro eufórico que consume o ambiente. Seguro seu corpo quando ela colide contra o chão e afunda sua cabeça no meu ombro, apertando meus braços com desespero.

Não conseguia imaginar o que ela estava sentindo. Ela sabia que John não merecia seu perdão, sabia que tudo pelo que ela se culpava na verdade era culpa dele, mas mesmo assim, ele ainda era seu pai.

A pego no colo e a levo para seu quarto, deitando-a na cama e a cobrindo com um lençol. Pego uma roupa quentinha e confortável e ajudo ela a se vestir. Não abro a boca para falar nada. Pra mim, algo como "meus pêsames" era totalmente desnecessário e não aliviava a dor da perda. Nada além do tempo conseguia aliviar a dor que é perder alguém, e mesmo nunca tendo perdido alguém muito próximo, eu sabia disso.

"Quer água?" Pergunto, mas não ganho uma resposta novamente. Me deito na beirada da cama e ela envolve seus braços em mim. Não havia nada nesse mundo que eu gostaria mais do que conseguir aliviar todas as dores dela naquele momento. Ela não merecia mada disso. Não merecia uma infância horrível, não merecia um pai desprezível e muito menos uma mãe alcoólatra. Eu era fraco, se estivesse no lugar dela não teria conseguido passar por metade das coisas que ela passou, mas Sarah era a pessoa mais forte que eu conhecia, e todos que a conheciam tinham nada menos do que pura sorte por conhecer alguém tão genuinamente incrível quanto ela.

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perdão pela demora
não esqueçam da estrelinha

Perfectly Wrong || Shawn Mendes [COMPLETED]Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin