Prólogo

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- Alícia on-

Comecei a correr pela noite a dentro, o frio trouxe a rajada de vento com força entre as minhas roupas, era gelado demais para uma noite em Helltown, e quente demais para estar tão perto do mar.
  Tateei instintivamente meu quadril em busca da minha arma, qualquer coisa que pudesse usar para me defender. E fui pega pelo desespero. Não havia nada ali, ela não estava mais comigo. E o moletom e a regata preta que eu estava vestindo não tinham nada de feroz para revidar o meu perseguidor.
  A maresia atravessou com seu cheiro salgado de água o meu nariz e então eu senti os nervos começarem a doer. Como se tivesse corrido por dias. Os músculos já puxavam, sentindo que poderiam se entregar, eu não aguentaria correr por muito tempo.
  As pernas já estavam cedendo quando eu cheguei no meio do quarteirão, os pés derrapando para entrar na rua vazia. Olhando de um lado para o outro da rua.   Estava em um trevo, de qualquer forma, para qualquer lado que eu fosse ele me encontraria. Ele podia sentir o cheiro do meu sangue escorrendo pelos meus dedos a quilômetros.
  Minha mente fraquejou ao tentar lembrar quem estava me perseguindo, mas meu coração quase saindo pela boca e fazendo meu peito doer não me deixava esquecer do medo que me causava.
  Tinha algo de muito errado, e eu ia morrer, eu tinha que correr pra não morrer!
Foi quando, no meio da decisão entre correr para a direita onde eu poderia acabar no mar ou cortar pela esquerda que seguiria em sentido da florestal maldita eu vacilei. Uma dor agonizando atravessou meu peito e eu levei as duas mãos até o seio direito, sentindo ela voltar molhada de sangue. Foi no mesmo instante que me curvei em agonia que outra coisa me chamou a atenção naquele cenário noturno e traiçoeiro.
  Tinha uma luz acesa chamando minha atenção de longe, havia uma brecha naquela rua, alguém estava vivo e talvez pudesse me ajudar. Então a cidade inteira não havia morrido, tinha alguém que podia me ajudar. Eu precisava de abrigo até me recuperar do ferimento.
  Corri para a claridade, quase me debruçando sobre as grades de onde vinha aquela luz fraca quase inexistente, e quando cheguei mais perto pude notar que se tratava de uma garagem para carros, com uma escadaria longa com pelo menos mais de 20 degraus para baixo. Tinha algo de errado, não tinha ninguém que podia me ajudar ali afinal. Não era coincidência, mas aquela era a garagem da minha casa, e acima daquela garagem era a minha casa. Onde morei com meus pais antes de... tudo desmoronar. As lembranças da cidade em ruínas por alguma coisa irrompeu meus pensamentos por alguns instantes e então a minha visão embaçou com as lágrimas.
  Olhei para dentro do local mais uma vez, em dúvida se com esperanças ou temor, e quando vi a figura que estava lá embaixo meu coração sobressaltou no peito. Se contorcendo dolorosamente.
  Não! Não pode ser!
  A dor da ansiedade quando as luzes começaram a assimilar e piscar me fizeram ceder e cair de joelhos. A dor intensa se espalhando pelo meu seio e se infiltrando por todo o meu colo estava me matando. As pernas tinham desistido, eu tinha perdido sangue demais também, não adiantaria correr mais, eu ia morrer do mesmo jeito. Do lado de fora ou do lado de dentro ele ia me matar.
  A criatura encapuzada lá debaixo sentiu a minha presença e se voltou para mim, olhando para cima dos primeiros degraus no final da escada. E eu podia vê-lo, mas não conseguia mais senti-lo. Nossa conexão tinha morrido a muito tempo.
  Mais uma vez nos deparamos Gap Dong. E então as luzes se apagaram e eu pude escutar o rugido seguido do uivo do meu perseguidor no meio da rua.
  Ele tinha me encontrado!
  Agora teriam que disputar pra ver quem ia me matar primeiro.

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