𝙄

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O match inesperado

20/07/2019

Enquanto a fina luz da manhã atravessava o vidro da janela cobrindo meu corpo como um véu, escuto o despertador do meu celular ecoar pelo meu quarto. Espreguiço-me sentindo minha mente despertar, ativando todas as funções do meu corpo.

Meus olhos varrem o quarto que está praticamente vazio, onde algumas caixas de papelões e malas preenchiam o piso de cerâmica marrom. Afinal amanhã eu estaria me mudando para uma residência perto do centro, por conta do noivado de minha mãe.

— Ceci – noto a porta de madeira do meu quarto abrir vagarosamente, dando passagem para minha vó, Rosa Pereira, adentrar. — Irá tomar café da manhã? Recém fui na padaria pegar alguns cacetinhos, estão bem quentinhos.

— Bom dia vó, logo já irei – respondo sentando sobre o colchão macio, esfregando meus olhos que carregava tons de café.

A mesma apenas concordou sorrindo gentilmente e desapareceu, deixando a porta entreaberta como sempre. Por conta disso, uma bola de pelo branco e preto passou sossegadamente pelo espaço e pulou sobre a cama.

Safira possuía dois anos de idade e era uma verdadeira sapeca, devo dizer que ela é meu despertador pela madrugada e minha sombra pelo dia.

Encaro as órbitas amareladas e a meia-lua que ficava ao lado do seu focinho. Levo minha mão até sua cabeça e deixo um chamego, fazendo-a derreter e deitar sobre as cobertas.

Safira entrou em vida de surpresa, eu estava voltando para casa após ficar algumas horas da tarde no meu colégio, Escola Estadual de ensino médio Dr. Filho Magalhães, por conta do turno inverso. Uma esquina antes de chegar em minha casa, um filhote vagava sem rumo pela rua de terra bastante magro e cheio de pulgas. No mesmo instante, tirei o moletom que estava guardado o calor de meu corpo e enrolei Safira, levando para casa em seguida.

Tive que prometer inúmeras vezes que cuidaria bem dela e limparia qualquer sujeira que fizesse, uma semana depois minha família já idolatrava a pequena frajola.

Durante meus dezoitos anos de vida, fui criada por minha mãe e minha vó, sendo as mulheres mais importantes e fortes que já conheci. Quando minha mãe soube que estava grávida de mim aos dezessete anos, o auge da sua adolescência, meu pai biológico imediatamente sumiu do mapa alegando que a criança não era dele.

Mamãe permaneceu trabalhando meio-período em uma pequena loja de roupas, Doce carinho, até que no sétimo mês de gestação, as complicações chegaram e ela teve que colocar um atestado. Mas por sorte, a dona entendia a situação e quando mamãe estivesse disposta depois do meu nascimento, ela poderia voltar.

Com quase nove meses de gestação, mamãe se formou no ensino médio, segurando o diploma na mão comigo remexendo em sua barriga, até hoje mamãe comenta que foi o dia mais incrível da vida.

Durante meus primeiros anos de vida, dividimos seu antigo quarto, quando os anos passaram, mamãe mandou construir um quarto ao lado de minha avó. Por conta disso, permaneci no pequeno cômodo enfeitado de fotografias antigas de minha mãe.

Até hoje nunca tive vontade de conhecer meu pai, se assim posso denomina-lo, mesmo tendo reconhecimento dele aos dez anos por curiosidade, porém não fazia diferença na minha vida. Eu cresci em um ambiente infestado de amor e carinho, mamãe e vovó nunca deixaram faltar nada para mim e eu sou grata por tê-las em minha vida.

Suspiro pesadamente, saindo do meio das cobertas aconchegantes, sentindo o calor fugir do meu corpo, afinal estávamos no final de julho, ou seja, o inverno estava presente. Calço minhas pantufas de joaninha enquanto enrolo meus cabelos cacheados em um coque, afinal estavam parecendo uma juba de leão.

Meu cupido é um felino [FINALIZADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora