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Não invente festas

24/11/2019

Em duas semanas, minha mente fervilhou com as preparações de uma festividade, que na minha percepção é apenas mais um motivo para gastar dinheiro e passar no crédito, para ter um ataque cardíaco com a fatura do próximo mês. Mas, me permiti dessa vez, organizar uma festa de aniversário de dezenove anos para Cecilia Pereira, eu mesma.

Decidindo ignorar o teto com falta de verniz que se tornou atraente há vinte minutos, ergo meu corpo vislumbrando a janela do meu quarto aberta, permitindo o único resquício de luz que iluminava o ambiente escuro. De trás do vidro, era possível ver Geovane organizando uma churrasqueira e mamãe na volta segurando os espetos, ao mesmo tempo em que Biel gargalhava de Peixoto tentando conectar uma música.

Aproveito para coçar minha nuca e espreguiçar os braços que trabalharam suficientemente bem nessa semana agitada. Apesar da minha festa ser hoje, a data fiel do meu aniversário, é vinte e três de novembro, mas por cair numa sexta-feira esse ano e alguns dos meus convidados trabalharem no sábado de manhã, decidi marcar para a noite, antecedente de domingo.  

— Ceci? Está aí dentro? – escuto uma voz feminina ecoar de trás da porta, em seguida sua silhueta surge segurando um copo de água. — Vai dormir enquanto a festividade começa? Está bem, sobra mais cerveja.

— Eu já vou me arrumar Lu.

— Tu está de toalha faz vinte minutos Cecilia, está esperando a fada madrinha? – Luara questiona adentrando e ligando o interruptor, clareando o cômodo arrumado. — Não achei que faria esse papel, mas tudo bem – resmunga e ilumina o quarto, formando uma pose e elevando sua mão, como se estivesse limpando o ar —, boa noite mimosa! Eu vim para fazer tua noite um encanto... está bem, eu não sou boa para isso.

— Me prometa nunca mais fazer isso – retruco retirando a toalha enrolada em meus cabelos e pendurando-a na porta do guarda roupa. — Minha fada madrinha, eu já irei... vou me arrumar.

— Está bem Cecinha, estamos esperando no pátio... se bem que tu está escutando tudo – comenta antes de sair pela porta e me deixar sozinha novamente.

Suspirando, decido levantar e fechar a janela que quase ninguém havia acesso pelas plantas trepadeiras. Movo meu olhar para a roupa separada em cima da cadeira, um vestido com tecido macio rosa-claro com morangos espalhados por toda sua extensão. Visto-o, observando pelo espelho o decote em v, deixando exposto meu pescoço com o colar que meu namorado havia me presenteado quando começamos a namorar. Sento-me na cama para vestir as sandálias douradas sem salto, deixando uma perna amostra por conta da fenda em um dos lados do vestido.

Após finalizar meu cabelo, deixando-o com os cachos definidos e soltos na altura do ombro, alcanço meu celular e caminho para o pátio decorado e organizado com mesas de plástico que Geovane conseguiu com vovó. Havia uma faixa avermelhada escrito "Feliz dezenove anos Cecinha".

Algumas linhas brancas com pequenas flores de papel coloridas, decoravam a cima de nossas cabeças, formando uma teia de enfeite.

— Eu disse que ela estava demorando para ficar mais linda – Luara murmura mordiscando um pedaço de pão de alho que mamãe segurava.

— Demorou tanto tempo pra continuar feia? – Gabriel questiona cruzando os braços. — Coitada.

— Vai pegar as carnes para teu pai guri – mamãe exclama ao mesmo tempo em que se aproximava de mim. — Está encantadora querida... irei ajudar teu irmão, tua vó está na sala assistindo novela, não perde por nada.

Observo-a se distanciar arrumada em um vestido rodado mostarda, os fios encaracolados se mantinham como sempre em um coque, permitindo várias molas caírem, salientando os ombros nus por conta da alça fina do tecido.

Meu cupido é um felino [FINALIZADO]Where stories live. Discover now