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Coisas preferidas

25/11/2019

Silêncio. Era tudo o que se ouvia no cômodo escuro. Mas minha mente batucava por conta das músicas que começaram a se tornar altas demais, as quais já foram desligadas a uma hora. Apesar do meu corpo se sentir esgotado, meus olhos se recusavam a fechar e adormecer, fazendo-me ficar acordar em plena madrugada. Era possível escutar os roncos dos outros pelo corredor. Os latidos dos cachorros das casas vizinhas. Carros passando pela rua asfaltada.

Certo, talvez não estive tão silencioso.

Safira dormia aconchegada na beirada da cama, em uma posição que facilmente seria desconfortável para um ser humano. Mas para a felina, parecia uma das melhores, pois seu ronronar era uma trilha sonora da madrugada. A mesma se manteve na volta durante a festividade, esperando uma brecha para ganhar um pedaço de carne e até mesmo brócolis.

Mas eu estava acordada. E mais viva e pensante do que nunca.

Após fatiar o primeiro pedaço do bolo de aniversário e segura-lo no pratinho plástico avermelhado, raciocinando quem poderia ser o ganhador daquele privilégio. O que, sem querer, desencadeou uma grande discussão de quem merecia aquele pedaço generoso. No final, havia apenas uma opção plausível.

Se a primeira opção foi entregar para a pessoa mais importante e considerar os anos de convivência, pode desconsiderar essa ideia. Sem brincadeira. A minha mente funciona de outra forma.

Com um garfinho de plástico, abocanhei o pedaço que estava em minhas mãos. O quê, sem dúvidas, chocou todos que estavam presentes. Alguns resmungos abafaram a música. Mamãe acabou brigando comigo pelo ato, mas não sustentou o personagem por muito tempo e me ajudou a servir. Após isso, todos começaram a rir da situação.

Quando notei, já estavam todos dançando com os pratinhos na mão e copos cheios de cervejas. Mamãe e Geovane acabaram indo levar vovó para casa dela, já que a mesma afirmou que estava velha demais para a agitação e que preferia a própria cama para adormecer. Peixoto havia levado Ju para casa dormindo em seus braços, sua irmã havia comido o bolo numa felicidade e minutos depois desabou na cadeira.

As horas foram passando, as estrelas se moviam conforme as músicas tocavam. Os coolers com gelo, ia aos poucos, se esvaziando. Já havia sapatos deixados de lado para sentir a grama úmida, bebidas sendo viradas. Apesar das vinte latas de cervejas dentro de uma sacola plástica estarem amostras, não havia um escândalo sequer de bêbados.

Meus amigos aguentavam demais. Já estavam acostumados demais com a rotina de bebedeira?

Uma hora havia coreografias de músicas que nunca havia escutado, e de repente, todos estavam abraçados enquanto cantava junto com o cantor jão alguns dos seus sucessos. Bêbados que sentiam a música com sentimento.

Em algum momento, apenas senti a mão de Guilherme me puxar. Uma música com melodia lenta havia começado. Seus braços rodearam minha cintura e os meus, seu pescoço. Nossas testas se conectaram, deixando de lado o suor. E ali, ao redor dos nossos amigos, dançamos a coreografia das estrelas.

— Eu te amo aniversariante – suas palavras ainda ecoavam em minha mente, disparando meu coração.

Quando a música encerrou. Todos aplaudiram. Flashs disparavam. Provavelmente, mais tarde eu receba diversas mensagens e comentários do tipo "vocês são muitos fofos" ou "nunca imaginei te ver assim". Às vezes, acredito que meus amigos pensavam que eu iria ser a tia solteirona – rica – que tinha pelo menos dez gatos pela casa.

Meu cupido é um felino [FINALIZADO]Where stories live. Discover now