𝙓𝙑𝙄𝙄

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Nunca esconda a verdade

06/10/2019

Gabriel demorou para voltar em casa naquela madrugada, as horas passavam, o silêncio reinava sobre os cômodos e meus olhos não conseguiam se acalmar. Safira mordeu minhas coxas, pelo menos duas vezes, ranzinza por eu estar me mexendo tanto entre as cobertas.

Eu não estava desejando que meu meio-irmão descobrisse dessa forma meu relacionamento com Guilherme, principalmente por os dois serem melhores amigos desde pequenos. Meu planejamento, era contar em um momento em que toda a família estivesse presente – apesar de mamãe e Geovane já saberem –, seria um recado oficial para todos, mas acabou indo tudo por água baixo e me restou esperar.

Pela décima vez, movo meu corpo, deixando minha barriga para cima e encaro o quarto escuro, apenas uma fina luz da lua deslizava até o chão, suspiro esfregando as pontas dos dedos entre minhas pálpebras cansadas. Após alguns segundos, minha cabeça se sentiu zonza demais e desistiu desligar, por alguns minutos adormeci sentindo o calor do tecido acalentar meu corpo.

Até que de repente, um ruído tomou conta dos meus ouvidos, me fazendo arregalar os olhos e levantar da cama em instantes, acabando acordando uma frajola dengosa – Safira tornou a se deitar novamente em outra posição e me ignorou. Estico meu braço esquerdo até a mesinha de cabeceira e sou cegada por conta da luz do celular, era apenas três horas da madrugada.

Calço meu chinelo ao lado da cama e caminho pelo corredor estreito, sentindo o silêncio habitual, até que uma silhueta na cozinha me fez estreitar os olhos, afim de enxergar melhor, porém, era impossível, uma vez que sou míope e as luzes estejam apagadas.

— Eu te acordei? – questiona se debruçando sobre o balcão, ao me aproximar pude notar que estava segurando um copo de vidro com uma água cristalina. — Ou já estava acordada?

— Eu acordei agora... aonde tu estava? – pergunto caminhando até o balcão e ficando em sua frente. — Gabriel, eu...

— Não, Cecilia, tu não tem que me explicar nada – me corta, colocando o copo de volta sobre a superfície de madeira. — É tua vida, não a minha, eu não posso simplesmente ficar bravo..., mas sim chateado por não me contarem.

— Eu sei, eu estava planejando te contar hoje no almoço... na verdade para todos na casa de vovó, mas acabou que não ocorreu como eu queria – murmuro.

— Desde quando?

— Hum?

— Desde quando vocês estão conversando? – repete me encarando, era possível ver o franzido de suas sobrancelhas.

— Desde agosto... – respondo vendo-o concordar —, éramos colega de sala de aula, como tu já sabe... acabamos dando match no tinder, mas eu tinha excluído minha conta e desinstalado, eu já estava farta..., mas então quando nós nos mudamos e eu fui atrás de Safira, lá estava ele... e eu, não sei explicar o que eu senti quando o vi, mas fiquei surpresa.

— Então, quando ele vinha aqui, vocês fingiam que não se conheciam? – questiona cruzando os braços em seu peito.

— Sim...

— Vocês são tão burros assim?

— O quê? Não...

— Então por que não falaram desde o início? Teriam evitado todo esse transtorno, vocês podiam ter até mais tempo juntos... de ti eu já esperava esse comportamento, tu tem sentimento de uma pedra e não venha retrucar..., mas o Guilherme, se ele arranjasse uma namorada, iria ir para qualquer canto com ela.

— Eu pedi para ele não falar, ele insistiu, mas eu fui dura demais e acabamos brigando – comento relembrando.

— Sim, tu é uma porta, até para falar que me adora, tu demora uma eternidade – concorda me fazendo rir nasalmente.

Meu cupido é um felino [FINALIZADO]Where stories live. Discover now