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Incêndio

02/11/2019

Naturalmente, o mês de novembro sempre iniciava com previsões de chuva durante uma semana inteira, folgando em apenas um dia. O que afastava brutalmente o calor, impregnando os momentos friorentos, tornando as manhãs acinzentadas e gélidas, obrigando os cidadãos de Caxias do Sul vestirem pelo menos um moletom confortável.

Escorada no arco da janela de madeira, observo o jardim do pátio ser abençoado com várias gotículas de chuva que caiam intensamente, pousando nas folhas esverdeadas, deslizando em câmera lenta até a grama. O céu pálido clareava a tarde silenciosa presente pelos cômodos de casa. Era apenas mais um sábado em que eu estava de folga e curiosamente – ou milagrosamente – eu já havia completado todas as atividades relacionadas a faculdade e não havia sequer um resumo para preparar.

Com a última muda de roupa dobrada, deposito a blusa avermelhada em cima do pequeno monte de roupas curtas.

— Que tal fazermos um bolo de chocolate? Eu estava afim de algo doce – escuto Peixoto questionar aconchegado em minha cama, encarando a tela do celular, ao mesmo tempo em que Safira circulava seus pés.

— Pode ser, acho que tem todos os ingredientes – respondo caminhando até a porta do quarto e indo em direção a cozinha, escutando os passos atrás de mim. — Tu será meu aprendiz hoje.

— Sim senhora! Apenas me diga o que fazer, que farei – argumenta ficando ao lado do balcão.

Flexiono meus joelhos e abro a porta do armário em minha frente, procurando os ingredientes necessários para a mistura de bolo. Era raro as vezes que mamãe comprava pacotes de bolo prontos, e quando trazia, em um dia já era utilizado. Ao mesmo tempo em que eu ia alcançando os pacotes nas mãos de Peixoto, organizava algumas embalagens entreabertas. Em seguida, me direciono até a geladeira em busca de fermento e leite de avelã.

Enquanto eu narrava para meu namorado as medidas de cada ingrediente, aproveito para alcançar a batedeira em cima do balcão, escondida dentro de um enfeite de tecido que vovó fez.

— Eu fiz uma vez um bolo de cenoura – Peixoto narra ajeitando os pacotes em cima do balcão —, mas eu não sei realmente o que eu fiz, pois o bolo afundou, ficou uma placa de duro e nem o cachorro do vizinho quis comer.

— Me lembra sempre de nunca deixar tu chegar perto de qualquer panela ou forma – peço notando-o bufar, no mesmo instante, encaro seus olhos vendo-o enfeitar os lábios com um sorriso exagerado. — Eu namoro uma criança mal criada.

Um a um, os ingredientes foram acrescentados, na mesma medida que Guigo supervisionava o utensilio doméstico. As órbitas escuras fixavam na base preta, onde uma massa homogenia ganhava uma coloração marrom, por conta do achocolatado que eu havia adicionado.

Aproveito para procurar uma forma redonda após adicionar todos os itens dentro do objeto de plástico, em seguida unto a superfície com manteiga e farinha de trigo, para assim o bolo sair com maior facilidade.

— Agora... despeja dentro da forma, é bom rapar tudo – aviso recolhendo os utensílios utilizados e colocando dentro da pia, observando Guilherme lamber os dedos sujos de massa de bolo crua. — Não... não é para comer a massa, faz mal.

Peixoto parecia uma criança pequena após alguém preparar um bolo e deixar comer o resto que ficou dentro do pote.

— Faz mal, mas é bom meu amor – murmura sorrindo e limpado os dedos lambuzados.

Nego com a cabeça e ligo o forno do fogão, em seguida levo a forma com a massa de chocolate até às grades e fecho a porta, deixando por cerca de quarentena minutos ou mais. Antes que eu pudesse ir até a pia cheia, Guilherme havia se posicionado na frente e começado a lavar alguns talheres.

Meu cupido é um felino [FINALIZADO]Where stories live. Discover now