𝙓𝙑𝙄

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O entrelaço dos teus cachos

05/10/2019 

As manhãs gélidas foram interrompidas por dias amenos, não havia frio e nem mesmo o excessivo calor. Não havia palidez ao redor do céu, até mesmo a brisa gelada que rodeava as calçadas de Caxias foram substituídas pelo ar agradável da primavera. O calor aumentava gradativamente, mas sem ultrapassar os 20° graus célsius.

E foi assim que o sábado amanheceu, sem rastro de geada pela grama ao acordar cedo e nem mesmo a neblina que servia como uma cortina. Havia apenas sons do cantarolar dos passarinhos, os raios solares que atravessam sem piedade nossa pele e a fragrância das flores. Pela janela do meu quarto eu conseguia ter um vislumbre do rastro de Safira correndo atrás de uma borboleta monarca, as asas membranosas alaranjadas detalhadas em preto, batendo sem parar, rodeando a frajola.

Eu estava com os braços escorados sobre a superfície da madeira, arrumada em uma jaqueta jeans escura, batucando a ponta dos meus dedos esperando os minutos passar. Meu estômago se contorcia sem piedade, como se eu fosse apenas uma garota de quinze anos saindo pela primeira vez com o guri que eu estou afim.

Após finalmente decidir desabar para Guilherme sobre meus sentimentos verdadeiros em relação a ele, pude sentir meu peito esvaziar e meus ombros relaxarem. Às vezes acabamos nos trancando com nossas ideias, imaginando possíveis variantes e assim, sentindo o medo nos impregnar, roubando nossa alma e vontade de viver com coragem, o que é, sem dúvidas, uma decisão horrenda. Esconder nossas emoções para nós mesmo acaba sendo apenas uma azaração e não há um antídoto para desfazer. Logo após chegarmos na universidade iluminada, notando que havíamos chegando com cinco minutos de antecedência, Peixoto questionou se eu teria um horário vago no sábado à tarde, pois de acordo com ele, teríamos um terceiro encontro em um parque da cidade.

Aproveitamos para emendar um pequeno piquenique, organizando uma cesta que vovó me emprestou para guardar um bolo de cenoura com cobertura de chocolates, alguns pasteis de soja que eu fiz pela parte da manhã e uma garrafa com suco de laranja.

— Ceci – meu nome é pronunciado e a porta range para trás, dando espaço para mamãe adentrar sorrindo. — Guilherme está na sala te esperando, recém chegou... quer que ele venha aqui?

— Já estou indo mamãe, obrigada – agradeço indo até a cama pegando minha inseparável mochila e caminho pelo corredor acompanhando-a. — Não irei demorar, estarei em casa antes das vinte horas.

— Querida, não se preocupe... eu confio em ti, apenas aproveite o dia – argumenta apoiando sua mão em meu ombro e apertando em seguida. — Aqui está ela querido, aproveitem.

Observo a silhueta de Peixoto perto da porta da frente, as costas eretas enquanto as pernas longas balançavam suavemente, as mãos em frente ao corpo entrelaçadas, como se estivesse segurando algo dentro delas.

— Acho que nossa carona já chegou – murmura enquanto me aproximo dele, fazendo-me arregalar os olhos.

— Como assim? Então, vamos! Se não iremos perder o ônibus Guilherme – exclamo pegando-o pela mão e correndo para fora de casa, tentando ir até o ponto de ônibus. — Devia ter me apressado, se perdemos esse ônibus, teríamos que esperar até o outro.

Até que meu braço é puxado para trás, obrigando-me a virar o corpo, fazendo-me notar que o garoto posicionando atrás das minhas costas, havia parado na calçada segurando um riso entre os lábios pressionados. Franzo o cenho largando sua mão, esperando alguma explicação.

— Não iremos de ônibus hoje.

— Iremos voando? – questiono ajeitando a mochila e percebendo que eu havia esquecido a cesta de palha em cima do balcão da cozinha.

Meu cupido é um felino [FINALIZADO]Where stories live. Discover now