𝙄𝙄

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Novos ares

21/07/2019

Enquanto meus tênis atritavam contra o chão em passos de tartaruga, seguro com meus braços uma caixa de papelão onde alguns pertences meus estavam. Logo após eu acordar notei as enormes olheiras embaixo dos meus olhos no espelho do banheiro, afinal naquela noite eu não havia conseguido dormir direito, a imagem da tela insistia em surgir na minha mente.

Para ser sincera, no momento em que me deparei com a tela com fundo escuro transparente e o enorme match, eu entrei em pane. No fundo, eu não estava esperando que Guilherme me curtisse, nós raramente trocamos palavras na sala de aula – apenas no segundo ano, quando ambos precisavam passar em matemática, acabamos conversando por três dias ajudando um ao outro por conta da maldita matriz inversa –, depois disso nem frases grandes eram faladas, mesmo estando no mesmo grupo de lanche para arrecadação de dinheiro para a formatura.

Não que Guilherme fosse arrogante ou estúpido, ele era apenas quieto, o habitual dele era sentar no fundo com seu grupo de amigos bagunceiros. Era engraçado olhar para trás e presenciar seus amigos de galinhagem e ele completamente sério escrevendo no caderno.

Instantes depois que peguei o celular em minhas mãos enquanto Luana cantarolava em meu ouvido que viveríamos um romance, decidi excluir minha conta e finalmente esquecer esse aplicativo de relacionamento. Eu poderia me arrepender futuramente? Possivelmente, mas tenho plena consciência que ficarei bem.

— Hoje tu está parecendo uma tartaruga – meu meio-irmão provocou ajudando minha mãe a carregar uma mala.

Desde que mamãe começou a namorar, eu havia conhecido o filho do meu padrasto, Gabriel Pinto, no começo era bizarro a ideia de ter um irmão, mas com o tempo fui acostumando e percebendo o quão incrível era ter alguém para se apoiar. Ele acabou se tornando meu irmão mais velho, sendo um ano de diferença.

— O que tu quer escova de bomba de chimarrão? – respondo encarando-o arregalar as órbitas escuras. O cabelo raspado por conta do serviço militar, deixava evidente o maxilar definido constatando uma pele cheia de melanina.

— Sabia que eu sou só alguns centímetros maior que tu? – pergunta fazendo até mamãe soltar um riso, o que fez Biel bufar.

— Grande coisa, baixinho...

— Chega os dois, vamos terminar de colocar as coisas no carro – mamãe comenta em voz alta, chamando nossa atenção, antes de seguir meu caminho, mostro a língua para Biel.

Contando meus passos, chego até o carro de Geovane sentindo o frio atravessar meu rosto quente, o mesmo estava arrumando o porta-malas com algumas caixas. Os cabelos curtos pretos e um cavanhaque faziam o ter seu charme, Gabriel era exatamente uma cópia dele, exceto seus olhos, que possuíam cor de avelã.

— Pode me dar essa caixa guriazinha – pede mostrando seus dentes alinhados. — Falta mais quantas?

— Só tem mais uma, mamãe está trazendo com o Biel uma mala gigantesca – respondo depositando a caixa em seus braços e notando que uma silhueta se aproximava de onde eu estava.

— Eu vou sentir tanta saudade tua Ceci – minha melhor amiga diz e em seguida envolve seus braços em meu corpo, apertando forte.

— São nove horas da manhã sabia? – murmuro fazendo-a soltar um riso pelo nariz.

— Tu é mais importante, depois me envia o endereço, vou te visitar todos os dias – comenta desvencilhando do abraço e encarando Geovane. — Só se o tio deixar, é claro.

Meu cupido é um felino [FINALIZADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora