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Noite de jogos

26/10/2019

Uma semana após mentir descaradamente para Guilherme, os dias voaram pelo mês de outubro. Com a chegada da primavera, enquanto as manhãs e as tardes se consumiam rapidamente, a noite custava a evaporar.

Para ser sincera, a minha habilidade em contar mentiras e até ocultar determinados detalhes são os meus pontos fracos, com toda certeza, se eu fosse uma personagem de vídeo game, esse seria o motivo de eu morrer em um momento difícil. Porém, não. Eu não estou segurando um segredo catastrófico que irá acabar com os sentimentos de Peixoto, tampouco encerrar o que nós temos. Apenas planejei algo diferente do habitual.

Primeiro detalhe do segredo, além de não possuir a facilidade em mentir, também não possuo dom em construir ou elaborar presentes, geralmente eu apenas vou em uma loja e compro a primeira coisa que eu vejo e que me faz lembrar de determinada personalidade. Entretanto, nessas últimas semanas vasculhei a internet inteira em busca de "presentes românticos para presentear a pessoa amada", até que o Pinterest foi minha fonte de salvação. Eu consegui demorar uma semana para finalizar a surpresa que poderia ter sido feita em pelo menos, três horas por qualquer outra pessoa.

Segundo detalhe e o mais complicado: conseguir guardar essa informação e não comentar com Guilherme, apesar de conseguir sozinha soltar alguma frase referente ou se manter estranha com certas perguntas. Durante quinta-feira à noite, enquanto estávamos no PUB, meu coração quase explodiu dentro do meu peito ao escutar meu namorado questionar sobre segredos. Por que é tão difícil guardar para si mesmo surpresas? Era como se eu fosse uma criminosa.

E o último detalhe que quase me causou um pânico nos meus divertidamente, conseguir convidar Guilherme para vir aqui em casa para poder entregar o presente. O que não foi tão difícil, afinal Gabriel já havia convidado seu melhor amigo para uma "noite de jogos", o que acabou me incluindo e até mesmo meus pais.

Ao tempo em que penteava meus cabelos úmidos com minha escova avermelhada quadrangular com cerdas espalhadas por toda região, observo e aspiro a brisa do anoitecer desse sábado caloroso no pátio da minha residência. A luz do luar refletia nas folhas esverdeadas das plantas nos vasos, iluminando algumas florescidas e outras adormecendo. Aproveito para sentar no banco de madeira que permanecia ali em todas as estações e suspiro pesadamente, aliviando o peso em meus ombros.

Os dias calorosos vão chegando e a cafeteria se torna ainda mais movimentada, o que deixa sempre meus cachos em pé. E me faz implorar por um banho frio, me privilegiando em lavar meus cabelos.

Após pentear os fios, que segundos depois se enrolavam em pequenos cachos, volto para dentro, escutando a risada familiar ecoar pelo corredor. Imediatamente, meu estômago sacode dentro do meu corpo, me fazendo lembrar da ideia de presente que tive. Alcanço meu celular em cima da minha cama e decido mandar uma mensagem para Guilherme, o qual já havia me questionado se estava tudo bem e se eu não tinha nada para contar.

19:53 Cecilia Pereira — Pode vir aqui no quarto?

19:54 Guigo — Por acaso hoje é o dia da minha morte?

19:54 Cecilia Pereira — Deixa de bobagem, só vem.

Antes mesmo de conseguir abrir a porta do meu guarda-roupa, uma silhueta ultrapassou o vão da porta e se prendeu ali, cruzando os braços em cima do peito e me fitando como se esperasse uma explicação lógica.

Apenas alternei meu olhar para dentro do móvel, observando uma caixinha de papelão cheia de bolinhas. Envolvo minhas mãos ao redor, escondendo-a atrás das minhas costas, notando Peixoto erguer uma das sobrancelhas.

Meu cupido é um felino [FINALIZADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora