𝙓𝙄𝙑

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A lacuna que faltava

29/09/2019

Minha mente despertou ao ouvir a chuva forte atritar com força sobre as telhas, o vento uivava balançando fracamente a janela do meu quarto. Talvez fosse pela falta de sono durante a madrugada, onde mal consegui pregar o olho e ter que aguentar meu despertador tocar irritavelmente pelo quarto.

Aproveito para sentar sobre o colchão, sentindo minhas costas doloridas por dormir em diferentes posições, tentando adormecer. Movo meu olhar para o cômodo iluminado pela janela, onde Safira observava atentamente a chuva que escorria pelo vidro.

Eu estaria mentindo, se dissesse que estava tudo bem, mas desde pequena aprendi a nunca mentir e nunca soube. Após adentrar minha residência ontem à noite e me acolher em meu santuário, eu desmontei sobre o piso, sentindo meu peito se afundar em mágoas. Eu não soube como lidar e apenas senti a consequência me esfaquear sem piedade, eu apenas tive que observar as costas curvadas por um erro meu.

— Ceci? – uma voz familiar sussurrou no outro lado da porta, chamando minha atenção. — Vou entrar.

Sem ao menos responder, observei os cabelos acastanhados colorirem o ambiente e me atentei as órbitas preocupadas, me encararem com ternura.

— Bom dia Luara – murmuro curvando meus lábios, notando a negar com a cabeça. — O que foi?

— Depois argumenta que nunca se apaixona ou sofre por amor... – debocha me fazendo rir nasalmente. — O que aconteceu entre vocês dois? Eu consegui entender em um minuto.

— Eu não sei explicar..., mas eu acabei magoando-o Lu – confesso deitando novamente, me encolhendo entre as cobertas calorosas. — Eu sou uma idiota.

— E por que tu magoaste ele?

— Por que enquanto ele queria me ouvir e escutar meus problemas, eu apenas soube afastar ele..., mas eu – comento encarando o forro amarronzado —, eu não sei ao certo.

— Tu está com medo de se magoar? – questiona sentando ao meu lado, me obrigando a encarar seu rosto. — Medo de se entregar e não ser suficiente? Medo dele ir embora?

— Sim..., mas em nenhum momento ele foi estúpido ou até mesmo insensível, ele sempre foi doce – relembro —, eu que sou uma estúpida por achar que ele me faria mal.

— Sim, tu é – concorda batendo em minhas pernas por cima da coberta. — Agora não adianta chora as pitangas, toma um banho quente e vamos!

— Afinal, tu está aqui para me ajudar ou para piorar a situação? – questiono retirando a coberta, revelando meu pijama descombinado, sendo minha blusa larga com uma estampa qualquer e meu short de pijama com vários patinhos.

— Eu estou aqui para ser teus segundos olhos e segunda mente – responde indo até a porta e girando o pescoço, me fazendo notar seu sorriso —, e também conselheira amorosa nas horas vagas, e espero que meu trabalho não seja em vão.

Observo-a sumir do meu campo de visão, arrastando os chinelos pelo corredor. Suspiro e me direciono até meu guarda-roupa, talvez Luara esteja certa, um bom banho morno poderá ajudar um pouco.

Quando a vida não está caminhando como queremos e todos os pensamentos se tornam estressantes, todos dizem que uma bela ducha morna acalma todo o barulho que a mente faz. E bom, na minha situação, acabou apenas agravando, se eu achava que não poderia pensar mais, eu estava bastante enganada. Cada vez que eu fechava meus olhos, apenas uma imagem surgia e ela machucava.

Rapidamente, enxuguei meu corpo úmido com a muda que eu havia escolhido e não tardei de adentrar a sala de estar, onde uma música gaúcha tocava baixinho no rádio e gargalhadas abafavam a melodia. Todos estavam acordados e animados, uma cuia com erva preenchida rodeava pelas mãos de minha mãe para vovó que sorria docemente.

Meu cupido é um felino [FINALIZADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora