𝙓𝙄

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Carícias calorosas

24/08/2019 

Se eu pegasse uma caderneta e uma caneta, com toda certeza eu iria descrever os milhares motivos para uma pessoa não ultrapassar os limites referentes a bebida alcoólicas. Acredito que se existisse um manual de como não passar vergonha, eu compraria pelo menos dez cópias e deixaria sobre cada móvel da minha residência.

Um exemplo bastante conhecido após deixar o álcool subir a mente – principalmente se insistir em beber seguidamente cerveja quente –, é estar dançando em cima do bar, enquanto seus amigos gritam animados, chamando a atenção de todos que estavam no local, aproveitando jogar notas de dois pilas e para completar, filmando o desastre da noitada.

Mas no meu caso, felizmente por ter um cérebro racional que não se deixa abater por doses alcoólicas, foi completamente diferente. Invés de passar vergonha na frente de rostos desconhecidos que eu encontraria por uma das ruas de Caxias, fui presentada por algo muito melhor: a famosa ressaca.

Era como se todo teu corpo te odiasse por te enfiado goela abaixo bebidas coloridas e amargas, te devolvendo como um soco de punho fechado bem no meio da tua testa.

Viro meu corpo molenga para o lado, sentindo minha boca tão seca quanto minha garrafa avermelhada ao meu lado. Aproveito para esfregar meus olhos inchados e com resquícios de sombra bege.

Para melhorar a situação que eu estava, através do vidro da minha janela, era possível ver o dia ensolarado e os raios solares atravessarem a superfície, deixando o cômodo familiar iluminando. Por conta da claridade, notei que eu havia dormido de roupa, apenas sem meus tênis que estavam ao lado do meu guarda-roupa e meu casaco, pendurado sobre a madeira escura.

Movo meus dedos entre as cobertas bagunçadas, tentando procurar meu celular, o que sem dúvidas foi difícil, estar zonza e sonolenta, te faz parar a cada minuto para poder raciocinar os próprios movimentos. Após insistir, minha mão calorosa sentiu a superfície gélida e fina.

Nesse mesmo momento, mamãe adentrou meu quarto, colocando seu pescoço para dentro, fazendo-me notar os fios encaracolados presos em um coque frouxo.

— Bom dia Ceci, vim para te acordar... – murmura enquanto seus olhos varriam o local tentando segurar o riso —, mas como tu acordou, melhor ainda... Vá tomar um banho para acordar, eu separei um remédio para dor de cabeça pra ti tomar... gambá.

Encaro a porta se fechar novamente, me deixando sozinha no ambiente. Aproveito para deixar meu corpo afundar sobre o colchão outra vez, meu cérebro ainda processava que já se passavam das dez horas e eu estava enfurnada dormido em meu quarto.

Apesar de meu corpo estar relutante, obrigo-o a levantar da cama e ir em direção ao banheiro, para poder me banhar e assim tirar a sonolência que estava impregnada em meu corpo. Apenas pego uma peça de roupa qualquer e me direciono para cômodo ao lado.

Em seguida que senti as gotículas da água quente deslizarem pelo meu corpo nu, deixei minha mente descansar e relembrar da noite passada, umas das únicas vezes que me deixei beber suficientemente para esquecer a semana pesada. O que me fez automaticamente lembrar de Guilherme e nosso pequeno diálogo no ponto de ônibus.

Eu estava errada em querer manter em segredo?

Afinal, não éramos namorados, estávamos apenas desenvolvendo uma relação que estava ficando cada mais forte e sentimental. Em minha mente, o mundo com toda certeza poderia saber sobre nós dois, mas estaríamos escondidos demais para ele perceber.

Meus pensamentos acabam sendo encerrados, após sentir o chuveiro diminuir a pressão e assim, queimando a pele em minhas costas com a fina linha de água fervendo que escorria. Bufo e movo novamente o registro, tentando finalizar meu primeiro banho do dia.

Meu cupido é um felino [FINALIZADO]Where stories live. Discover now