capítulo 14

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Não ofereço resistência. Abaixo minha cabeça com a condição de que eles não tocarão nos Potterfield. Me sento no carro ao lado de um homem. Espera. Não é qualquer homem. É o cheiro de Marcus!

Levanto meu olhar. Realmente é ele.

-Por que está fazendo isso...? -Pergunto o observando

-Eu te disse que não o deixaria ser vendido. Você vai achar alguém melhor...-Marcus tenta terminar, mas eu o interrompo.

-Me separando do pai da minha filha?

-Quieto, Loui! Vou te levar pra casa. Você vai se casar com outro, viver uma outra vida! Vai poder escolher!

-Eu escolho ficar!

-Você não tem essa opção. Fique quieto! -Marcus grita comigo como nunca havia gritado antes. O encaro irritado, e quando menos espero, minha bochecha arde. Sua mão ainda está levantada ao lado do meu rosto. Boto a mão em cima da bochecha ofegante. -Loui... Desculpe... -Ele tenta se aproximar, mas eu me afasto. Não falo mais nada.

Fico sentado no banco esperando a viagem acabar. Ao sair do carro, somos postos no avião. Me algemam com algemas para crianças e fico ligado a  Marcus e sinceramente, não reclamo. Me sento no banco do avião e cubro a parte de frente da minha blusa com um casaco por ela estar molhada novamente.

Sinto isso toda vez que penso em Alice. Como se meu peito se enchesse e vazasse. Abaixo a cabeça triste por não poder mais acompanhar minha pequena.

-Está vazando? -Pergunta Marcus. -Aqui. -Ele mexe na mochila e me entrega uma garrafa de água. Não pego nem reajo.-Loui. Toma. -Olho para ele com raiva. Ele aproxima seu rosto de mim para me dar uma bronca, mas antes que ele abra a boca para falar, cuspo nele. Ele se limpa e me encara.

Ficamos alguns segundo assim, até ele pegar a garrafa abrir e segurar minha cabeça. Outro homem vira a garrafa na minha boca. Chuto ele me afastando, mas ele nem se mexe. A garrafa acaba e estou completamente molado.

-Isso é pra você aprender. Vai ter que nos obedecer se quiser escolher alguma coisa. Que merda Loui! Você não entende? -Não respondo, logo ele me deixa em paz. Não durmo durante a viagem, mas ao sair do avião, estou novamente na velha ford.

Agora não estou mais algemado, mas sim amarrado. Meus punhos, meus tornozelos e minha boca. Estou no banco de trás, sei pela falta de cintos. Tento me soltar, mas quanto mais eu tento, mais firme fica o nó.

Deito a cabeça desistindo. Fico em posição fetal em silêncio esperando o carro parar.

Quem diria que uma memória boa da minha infância se tornaria meu inferno. Sinto o cheiro de alguém familiar no banco da frente, mas não é Marcus...

Desisto de tentar descobrir. Se passam 20,30, 40, 50 minutos, uma hora, duas horas, duas e meia e enfim o carro para. A porta onde eu estava é escancarada. Sinto o vento frio em meu corpo. Levanto a cabeça para olhar quem é.

Mamãe... Ela me puxa do carro e me acomoda em seus braços, se sentando no chão. Sinto suas lágrimas molharem minha cabeça. Não consigo falar devido a fita na minha boca.

-Loui... -Ela fala chorando. Alguém me levanta pelos ombros, mais forte do que deveria e me levanta. Vejo as pessoas do nosso grupo/alcateia em volta me olharem chocados. Afinal, estou mais magro e com o corpo mais definido do que saí de lá. Também desrespeitei uma regra do clã, ômegas tinham que ter cabelos pelo menos na cintira e os meus no momento estavam a uns 3 dedos a cima do ombro.

-Trouxemos de volta um filho do clã! Quem não pagar o que deve, terá seus bens arracados! Não atoa que somos os Dauphine! Nossos ômegas são nosso melhor produto e temos que proteger a qualquer custo! -É o lider do clã. Marcus está logo ao seu lado de cabeça baixa. Quando me abaixo, os curandeiros se aproximam de mim e me levam até a casa-hospital.

Me sento na maca enquanto eles me desamarram e prendem agora na maca, ja que não queriam de jeito nenhum que eu fugisse.

Depois do exame, acabam descobrindo que não sou mais virgem e que inclusive tive um filho. Pelo espanto deles, sei que não os contaram. Pelo menos. Saio algemado com meu irmão e entro em casa.

Depois de receber carinho dos meus pais e uma bronca do meu irmão, vou dormir. Meu peito fica pesado, deito minha cabeça no travesseiro e choro baixo. Não posso levantar, pois meu punho direito está algemado na cabeceira.

-Querido... -Ouço a voz do meu pai. Escondo o choro e evito o olhar. Vejo ele se sentar na beira da minha cama. -Não chore, pequeno... -Fala ele secando minhas lágrimas. -Quer alguma coisa?

-Minha filha, meu marido... -Falo baixo.

-Ela está com quanto tempo? Queria tanto conhecer minha netinha...

-Alice fez uma semana ontem...

-Meu deus! Como que ousaram te tirar de perto do seu bebê tão pequeno!? -Abaixo minha cabeça. -Vamos dar um jeito, querido. Nem que eu tenha que vender tudo, vou te levar de volta.

Vendido + PerdidoWhere stories live. Discover now