cap 2 - Nós não precisamos dançar

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título: We Don't Have to Dance- Andy Black
Postado em 15 de Agosto de 2022
Em revisão (21 de Julho de 2023)

/Brian/

Acordo puto. Não tem como usar eufemismo. Cleo abre a porta do meu quarto com tudo derrubando uma pilha de DVDs que eu tinha organizado por cor. Mas não fico puto com ela, pois o que me deixa puto é que mamãe está logo atrás.

-Meu Deus, Brian... Quanta tralha! -Reviro os olhos e volto a afundar a cabeça no travesseiro, virando pro lado. Mas Mamãe puxa minhas cobertas e começa a dobrar. -Nada disso. Está um sábado de sol e seu pai fez café da manhã. Vamos arrumar aqui enquanto você come, tá bom?

-Que saco, me deixa! -Falo me virando novamente na cama.

-Nada disso. Você tem que me obedecer. Eu sou sua mãe, esqueceu? Vai descer agora e ter um café da manhã maravilhoso com seus irmãos e seu pai, me ouviu, mocinho? Sabe do que eu sou capaz. -Fala enquanto eu bufo. Me sento na cama.

-Nada de mexer nos meus DVDs nem na minha guitarra. Muito menos o Amp. -Falo encarando mamãe enquanto ele cata blusas no chão do quarto. Me levanto e puxo uma calça leggin e uma blusa que por acaso é do Fall Out Boy e vou pro banheiro me trocar. Saio em disparada porque nem quero ver a merda que os dois estão fazendo no meu quarto. Saio correndo os degraus para a cozinha.

-Finalmente... achei que a bela adormecida não iria acordar. -Comenta papai rindo assim que eu cruzo a porta.

-Achei que pudesse passar um dia sem nenhum chato me incomodando. -Respondo de automático e me sento. Louisa me encara e eu faço uma careta para ela.

-Sabe que se sua mãe te ouvir falando assim...

-Por que você tem tanto medo da mamãe, ein? -o interrompo encarando ele. -Quem deve teme.

Papai respira fundo e me dá um sorriso como se tentasse se acalmar. Alex olha pra mim negando com a cabeça e enquanto eu Rio alto da reação dos presentes na mesa.

-Por que não se esforça um pouco para tirar essa nebulosidade toda em seu semblante?

-Me protejo por voar tão perto do sol. -Respondo citando Hamlet. Alice me olha por cima do copo de suco. Mais uma pra negar com a cabeça.

-Brian, não há nenhum Cláudio aqui. Ninguém matou seu pai para casar com a sua mãe.

-Ah é? -Pergunto cruzando os braços e o olhando intimidador. Papai se levanta, respira umas duas ou três vezes e se senta novamente. Estendo 3 dedos e vou abaixando um por um. Assim que abaixo o último dedo, espero o grito.

-Chega! Já para o seu quarto!

-Está ficando muito previsível, Cláudio. E pra sua informação, é o que eu mais quero.-Me levanto pegando um copo de suco. -Mas estão limpando meu quarto.

- Não me interessa. Suba e limpe você mesmo.

-Muito obrigado. -Sorrio e saio da cozinha vitorioso. Combo! Ninguém me perturbaria o resto do dia e nem precisaria comer! Subo para o meu quarto e falo gentilmente para mamãe que eu limparia tudo aquilo sozinho. E foi o que eu fiz nas primeiras duas horas. Tudo impecável. Até mesmo abri a janela para deixar a luz entrar. Em seguida, dormi. Dormi horas e mais horas como precisava. E quando acordei   já eram 17 horas e sol estava quase indo embora. Significava uma noite de jogatina online ou uma festa clandestina para qual eu fugiria, usaria de uma maconha ou uma heroína e voltaria no dia seguinte com a mesma cara de anjo falando que é só uma dor de cabeça.

Jogo no Google as festas abertas pela região e acho uma perfeita. 22 h, eu sairia pela porta dos fundos e entraria em um carro de aplicativo para a tal boate. Umas 3, eu estaria bêbado demais para andar, então deixei um carro agendado para essa hora. Me recuperaria na uma hora de distância da boate até aqui e entraria escondido com ajuda de Alex. Diria que perdi minha chave ou qualquer coisa.

Esse era o plano infalível. Pelo menos era.

Comecei a me arrumar quando as luzes se apagaram, 21horas em ponto. Alex ainda estava na sala vendo televisão com Julia e Louisa estava no corredor fazendo algo. Termino de me arrumar as 21:30 e espero em silêncio e com a luz apagada para que ninguém note que estou acordado. Mamãe costuma passar reto pelos quartos de luz apagada e porta fechada. Quanto menos tempo perderem, melhor para Mamãe brincar de cavalinho. Ploc ploc ploc. Rio baixo com esse pensamento.

É nojento imaginar que em algum momento metade de mim foi um líquido branco dentro do saco do meu pai. E a outra metade tava lá sambando pelo sistema reprodutor da minha mãe. Pior. Eu passei 9 meses num líquido dentro do útero da minha mãe que de vez em quando meu pai liberava porra bem pertinho de mim. E eu era tipo, um feto. Quantas vezes será que meus pais tentaram até conseguirem? Com esse monte de filho, eles deviam fazer todo dia, umas duas vezes. O loco...

Nesses pensamentos bizarros, me distraio e dão 22:07. É agora. Meu quarto, no segundo andar, facilita muito minha fuga. Essa arquitetura moderna fazia ter um gramado a uns meio metros de distância da minha sacada. Me apoio na grade e me jogo para frente. Passo uma perna depois a outra e vou segurando as grades para descer em segurança. Óbvio que para não estragar meu cabelo.

Assim que meus all star tocam o chão, corro para a mata. Lá havia um muro baixo que eu facilmente pularia. E foi o que eu fiz. Já na rua, pedi um carro de aplicativo e fui. Juro que achei estranha a saída que o motorista deu, mas depois de uma hora exata, chegamos na festa. Paguei com o cartão clonado do papai e corri para a entrada.

Assim que entrei, vi um mundo que jamais havia me deparado antes. Quanta gente bonita, quanta bebida, quanto baseado. Via tudo refletido em peles suadas que escapavam de cos de calças coladas e braços descobertos, parte cobertos por bandanas brancas, vermelhas, pretas e azuis.

Mas uma em específico me chamou atenção. A bandana dele era amarela. Combinava perfeitamente com a sua blusa do Guns. Seu cabelo era parte pintada de vermelho e parte de um preto absoluto, cacheado e com uma bela tatuagem de ondas que descia de seus ombros até os cotovelos, onde será que ela começava? Céus, esse emo estava me deixando louco. Mas ele parecia ser maior de idade, estava com um copo de whisky no mesmo braço que portava a bandana. Não era burro, sabia que aquilo indicava suas preferências. Estava na publicação da festa. Os de branco eram os virgens e ômega, como eu. Os de preto eram ômegas não virgens. Azuis, betas. Vermelho, alfas. Mas amarelo? O que significaria isso? Preciso saber. Me aproximo dele quando começa a tocar good girls, bad guys. Finjo que estou destraído enquanto tropeço nele. Ele me segura pelo ombro com a mão livre. Me aproximo mais e peço desculpa.

-Nada. -Vejo ele pegar meu braço-Espero que curta. E que na próxima, venha com uma preta. Qual o seu nome?

-Bry.

-Curta bastante, Bry. -Ele sorri enquanto passo. Olho para ele enquanto vou andando. Seus olhos não estão nos meus. Estão olhando diretamente para minhas costas, só que um pouco mais para baixo. Não para minhas botas, mais para cima. Isso, no meio. Olhos bem na minha bunda. Dou um sorrisinho para ele e continuo a andar. Vou para perto de umas omegas que estavam fumando uns baseados. Pego um e tateio os bolsos para achar um isqueiro.

Sinto uma mão no meu ombro e me viro vendo um Alfa aparecer por trás de mim. Sorrio gentilmente. Pego o isqueiro e acendo. Vejo uma mensagem escrita. "Se quiser foder, sorria e pisque enquanto devolva". Reviro os olhos e entrego para ele. Faço o que estava escrito no isqueiro e Rio para ele. Dou uma tragada no cigarro e logo depois ele tira da minha boca dando outra e depois devolve para mim. Estendo minha mão e ele pega. Assim, vamos andando até um quarto. A luz no caminho estava bem ruim, apenas quando achamos um quarto vazio. Fico deitado de bruços na cama com o cigarro na boca enquanto ele procura um interruptor. Assim que as luzes se acendem, ouço uma voz comum.

-Taporra. -Não, não, não isso é impossível, não não, NÃO.

Abro os olhos e MEU DEUS, É...

Vendido + PerdidoWhere stories live. Discover now