cap 6 - meu imortal

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//Brian//

Acordei me virando no colchão mofado do porão. O cheiro de mofo estava me deixando terrivelmente tonto. Sinto uma queimação na garganta e corro para a pia do meu cativeiro. Despejo todo meu estômago ali.

Quando termino, estou completamente sujo. Consigo ver pelo meu reflexo no espelho quebrado. Minha blusa de manga comprida está com manchas de poeira e já não aguenta o frio que está fazendo. Olhando pela pequena fresta de luz, sei que está de noite ainda, mas ao invés de ir deitar, me sento no sofá quebrado encarando a parede, sussurrando músicas na minha cabeça.

Será que ainda procuram por mim?

Me vem esse estalo na cabeça. Já se foram dias desde que a mulher levou meu Vincent. Sinto muita falta dele. Me permito chorar um pouco, mas por que acho que nunca seria uma boa mãe e... agora ele tem uma nova casa e nunca vai se lembrar de mim. Provavelmente estou grávido novamente e isso vai acontecer de novo.

Meus dedos encontram novamente o caco de vidro que guardava entre as molas do sofá. Subo a manga da blusa já manchada de sangue e deslizo o caco pela pele já ferida enquanto tento me distrair da dor emocional. Um... dois..  três... quatro... vinte... trinta. Merda, estou sem espaço.

Subitamente, a porta se abre. Vejo a silhueta de minha esposa. Meus olhos demoram a se adaptar a luz, e quando se adaptam, ela já está descendo as escadas. Ela se senta do meu lado e eu viro o rosto para a parede, cobrindo o que fiz com as mangas, inutilmente, pois sangue ainda manchava o tecido.

Na minha visão panorâmica, vejo sua mão estendida em uma altura baixa de forma paciente. Nego com a cabeça. Ela sussurra alguma coisa e me mantenho rígido, rezando para que ela desapareça dali. Por um instante, acho que deu certo, mas não. As molas rangem quando ela se levanta. Logo ela entra novamente em meu campo de visão quando se agacha na minha frente, estendendo a mão novamente.

Seu rosto é sereno e seus olhos compreensivos.

-Você está fazendo isso por minha culpa? -Ela sussurra. Seu sotaque é péssimo. Não sei onde ela havia aprendido aquilo, mas me surpreendo. Afirmo com a cabeça em silêncio. Ela se levanta e beija minha testa suavemente. Minha visão fica turva devido a baixa pressão e antes que minha cabeça penda para trás, sinto seus braços em volta de mim. Meu corpo fica leve e solto o caco de vidro no sofá enquanto ela me carrega no colo para o andar de cima.

Ela me leva por mais um lance de escadas e começo a sentir tremores por todo meu corpo. Eu lembrava daquele lugar, eu lembrava de como ela me forçou, eu lembrava dessa sala, eu lembrava dessas paredes... O pânico me consome e começo a me debater e soluçar em seu ombro, mas seu aperto apenas fica mais forte. Meu pânico apenas se intensifica quando ela cruza a porta do quarto e me leva até um banheiro, me soltando no chão e trancando a porta atrás dela.

Estou paralisado, enquanto ela tira minha camisa. Solto um grunhido conforme o tecido se descola dos cortes estancados. Ela estende meus braços analisando bem e vasculha o armário a procura de algo. Ela volta até mim com um algodão e um vidro em mãos. Me encolho tentando escapar dela, mas sinto apenas um toque gentil do algodão desinfetando os ferimentos.

E ela faz isso com meus dois braços. Em seguida, pega uma pomada e passa em meus braços, dando beijos no final. Sinto uma vontade maior ainda de cortar meus braços fora. Ela me sorri e vasculha o bolso, tirando um celular.

Clica em alguns botões e digita algo. Logo uma voz mecânica fala.

Me desculpe, eu nunca quis que fosse ser assim. Ah, se você soubesse o quanto você significa pra mim... eu sei que não sou a melhor esposa, mas quero fazer isso de agora em diante.

Vendido + PerdidoWhere stories live. Discover now