Capítulo 15 - Promessa

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Era um dia ensolarado de primavera. A estrada lamacenta e repleta de pequenas poças refletia o brilho intenso do sol. Pequenas ondas bidimensionais se formavam nas poças à medida em que rodas pesadas passavam pela estrada. Uma face sorridente despontava pela janela da carruagem.

Uma garota de pele tão branca quanto as nuvens, cabelos tão negros quanto a noite e olhos tão azuis quanto o céu. Ela se debruçava sobre a janela e se maravilhava com a paisagem que via. Seus olhos brilhantes para com nada mais do que campinas, árvores e viajantes que passavam pela mesma estrada.

Eu observava toda aquela cena de forma dinâmica, como se eu estivesse lá, apesar de que não me encontrava em lugar algum. Era como se meu corpo não pudesse existir naquela visão. Minha mente também não correspondia a nada, era envolta em nevoa e vazio. Tudo o que eu podia fazer era continuar observando como um espectador alheio a realidade.

— Como é bom respirar o ar puro do campo — sibilou a garota puxando um longo suspiro.

A luz do sol que esculpia sua face foi sobrepujada por uma silhueta não muito amigável. Um homem de aparência dura e carrancuda, armadura pesada, cavalgava ao lado daquela janela.

— Princesa, é melhor voltar para dentro da carruagem. Estaremos em apuros se alguém te ver aqui — repreendeu o cavaleiro.

— Saia da minha frente, está tapando a visão, Sir Johna — respondeu ela, franzindo o cenho e estufando as bochechas.

— Minha princesa, por favor... obedeça a Sir Johna. — Uma terceira voz, vinda de dentro da carruagem chamava a atenção da garota.

A princesa recolheu-se para dentro, se sentando com os braços cruzados e cara emburrada. O cavaleiro apenas assentiu e apressou o trote, se juntando ao restante da escolta.

A carruagem seguia rumo à estrada real, mas antes precisaria passar por outras estradas perigosas. A escolta era rigorosa e os soldados se mantinham atentos a todo momento. Eram um total de doze cavaleiros fortemente equipados. Provavelmente havia outros nos derredores também.

— Do que adianta me deixarem sair daquele castelo para ficar presa o dia todo nessa carruagem? — resmungou a princesa ainda com a cara fechada.

— Você sabe que fazemos isso para proteger você, não é? — discutiu a senhora que se sentava ao lado da princesa.

A garota a encarou, procurando uma resposta plausível, mas não encontrou, então apenas assentiu. A senhora de cabelos grisalhos soltou um leve sorriso, emoldurando suas rugas da idade. Ela levou a mão à cabeça da princesa, a afagando.

— Olhe só para você, como um pequeno pássaro preso em uma gaiola, querendo voar a todo custo. Mal sabe o quanto pode ser perigoso lá fora.

— Você e suas metáforas chatas... — bufou a princesa, se debruçando novamente sobre a janela, mas dessa vez sem colocar a cabeça para fora.

— Ainda é cedo princesa, mas um dia você entenderá. — A senhora esboçou o mesmo sorriso acolhedor novamente, então deu dois tapinhas na poltrona, sinalizando para que a princesa voltasse a se sentar.

— Não! — urrou a princesa com um pulo, ficando em pé na carruagem. — Eu não acho que um dia irei entender nada disso. Eu não pedi para ser uma princesa, não pedi para ter essa vida. Eu não quero que vocês me protejam, eu não quero mais viver presa. — Ela então desatou a chorar.

— Princesa, eu... — A cuidadora levou sua mão até a princesa, tentando consolá-la, mas parou num susto quando a princesa gritou novamente:

— Parem a carruagem, agora!

O Matador de Deuses - TenebrisOnde histórias criam vida. Descubra agora