Capítulo 12 - Gelo

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Meus Pulmões doíam por causa da fumaça. O meu desespero aumentava a cada passo. O medo de ver tudo o que eu tinha sendo arrancado de mim, o medo de perecer daquele modo, empalado, ou em uma pilha de corpos queimando em uma fogueira, o medo de minha mãe ser um daqueles muitos corpos.

Eu levantei a cabeça. Algo me chamou atenção.

Mais à frente, vi alguns homens com armaduras negras pesadas. Pareciam se divertir com algo. Eram as garotas do vilarejo. Eles estavam... virei o rosto para não ver o que eles estavam fazendo com elas e dei a volta por trás da casa de uma velha senhora que jazia totalmente em chamas. Esperava que pelo menos ela tivesse a sorte de morrer dormindo lá dentro.

Ao fundo eu escutava os gritos de desespero das garotas. Olhei de soslaio e pude ver gaiolas com algumas outras mulheres, e no meio delas, estava Rarold. Provavelmente o confundiram com uma garota.

Em frente àquelas gaiolas, outros dois soldados se divertiam espetando um garoto gordo com uma lança. Era Gordon, que corria desesperadamente de um lado para o outro, fazendo os soldados rirem com a cena de desespero do garoto.

Eu cerrei os punhos, queria ir ajudá-los, mas o que eu poderia fazer? Eu não era capaz de derrotar nem mesmo um daqueles soldados, quanto mais lutar contra tantos. Dei as costas e corri até minha casa, com os gritos de desespero daquelas pessoas em meu encalço. Em minha mente, eu só podia me desculpar.

Me desculpe Rarold, me desculpe Gordon.

Lá estava a última casa do vilarejo, a minha. Subi cambaleando pela estrada de pedra e lama seca. Meu coração saltava pela minha boca. Ela tinha que estar viva, quando eu subisse aquela estrada tudo estaria normal, minha casa estaria intacta e ela estaria me esperando com seu sorriso e de braços abertos.

Mas... não foi isso o que aconteceu.

A minha casa, assim como todas as outras casas, ardia em chamas. Um véu de chamas cobria a casa inteira, a devorando como feras famintas e sedentas por consumir tudo em sua volta.

E lá estava ela. Minha mãe, bem em frente à casa. Eu estremeci e um frio percorreu por toda a minha espinha. Meus sentidos estavam no limite, eu não conseguia reagir, gritar ou se quer andar até ela.

Uma poça de sangue escorria lentamente de seu corpo, reluzindo em contraste com as chamas. Seus olhos, fitando o além, já sem nenhum brilho e seu corpo imóvel sobre a grama chamuscada. Aquela imagem... era algo que eu levaria para o resto de minha vida.

De costas para mim, uma garota usando a mesma armadura negra dos outros homens, que eu vira antes. Ela parecia nem mesmo me notar, estava agachada, olhando o corpo de minha mãe. Seus cabelos loiros esvoaçavam junto à fumaça.

Mas eu estava errado, ela me notara. A garota se virou em minha direção.

Era Nara.

Seu olhar era completamente diferente do que eu conhecia. Um olhar sombrio e distante. Seu sorriso, que eu sempre amei, sumira completamente. Em sua mão, segurava uma espada, imaculada por sangue. Eu não queria acreditar, será que ela... não, ela não faria isso. De todas as pessoas neste mundo, eu não podia acreditar que ela faria isso.

— Por que você veio Jack? Eu pensei ter dito para você ficar lá. — Ela falava sem me olhar nos olhos.

Eu não conseguia dizer nada. Cai para trás, um pânico me dominava naquele momento.

— N... N... Nara... não! Você... não foi você. Não foi... — Minha voz sumia aos poucos. Eu queria me convencer de que eu estava enganado, que meus olhos não estavam certos no que viam.

O Matador de Deuses - TenebrisWhere stories live. Discover now