Capítulo 31 - O Que Não Pode Morrer

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Ano de 1720, Inverno. Nova Taidin.

— Sir Jack?

Acordei me sentindo estranho ao ouvir a voz distante de Friedy me chamar. Não é por menos, eu havia adormecido dentro da fonte. Me levantei, sentindo meu corpo enrijecido.

— Por quanto tempo fiquei aqui? — perguntei a Friedy, enquanto ele me trazia uma toalha.

— Três horas. Você adormeceu dentro da fonte. — Friedy estendeu a mão oferecendo a toalha.

— Pelo visto..., mas parece que agora estou inteiro, só preciso de um tempo para meu sangue voltar a circular pelo meu corpo — respondi enquanto me secava e colocava roupas limpas que Friedy trouxera.

Friedy matutou por alguns segundos, então continuou:

— Por favor, me acompanhe até meu pai, ele precisa falar com você urgentemente.

— Espera, você é filho do Altair? — Esbocei uma reação surpresa. — Pensei que fosse um servo, ou coisa parecida.

— De qualquer forma eu sirvo ao meu pai, talvez seja uma função parecida — disse Friedy, dando de ombros.

Nos dirigimos até os aposentos de Altair. Uma grande sala no andar mais alto do prédio. As janelas davam uma vista bem ampla do restante da cidade baixa, mostrando que a cidade era bem maior do que eu imaginava. Havia muitas casas descendo até o fundo da imensa caverna. No centro da sala, estava Altair sentado à uma mesa, acompanhado de um jogo que eu conhecia muito bem.

— Bem melhor assim, Jack. — Altair acenou para que eu me juntasse a ele. — Vamos, me acompanhe em uma partida de Setsui.

Eu reconhecia aquele tabuleiro. Há alguns anos, costumava jogar contra Altair e vencia todas, desde então, ele alegava que fora sorte de principiante. Mal sabia ele que, setsui, é um jogo de estratégia pura. São vinte e quatro peças dispostas para cada jogador, o objetivo é eliminar a peça principal, o imperador. Para isso, devemos sacrificar várias de nossas peças. Eu posso dizer que, é impossível vencer esse jogo sem sacrificar quase todas elas.

— Ainda joga esse jogo idiota? — Movi a primeira peça, o soldado. A peça mais fraca e descartável do jogo, mas que tem sua importância, como todas as outras.

— Desde que perdi para você, eu venho treinando muito, mas infelizmente nunca mais achei um oponente que conseguisse me vencer como daquela vez. — Ele moveu seu soldado também.

— Mas não viemos até aqui simplesmente para jogar, não é? — falei, movendo mais um soldado.

— Não, na verdade, eu quero saber o que estava fazendo deste lado do reino. — Ele usou o arqueiro para destruir um de meus soldados.

— Vim atrás de um exército — respondi deixando mais um soldado como isca, para que atraísse seu arqueiro até mais perto. — O rei da Cidade Imperial do Leste me prometeu homens e provisões em troca de que eu eliminasse as feras que atravessaram as montanhas para essa parte do reino. Eu fiz como o prometido, mas ele não cumpriu sua parte do acordo. Nossa desavença não terminou muito bem, no fim, eu vim parar aqui com menos homens do que quando comecei essa jornada, e o rei... Sem seu exército.

— Entendo... Bem que desconfiei que aquela avalanche tinha algo a ver com você. — Altair parecia pensativo, relutante em fazer sua próxima jogada. — Eu ouvi boatos de que alguém estava reunindo um exército afim de derrotar Tenebris. Esse alguém teria conseguido juntar os exércitos de Harenae e do Reino Oriental. Pensei que poderia ser você, mas os boatos informam ser uma mulher.

— Uma mulher? — Esbocei uma resposta surpresa, mas voltei a focar no jogo em seguida. Eu finalmente consegui destruir seu arqueiro, mas tive que sacrificar três dos meus soldados. — A única pessoa que poderia fazer isso, está morta. Como soube dessas notícias?

O Matador de Deuses - TenebrisWhere stories live. Discover now