Capítulo 29 - Entre a neve e o fogo

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É interessante como no inverno, tantos os animais quanto os humanos, preferem se acolher em suas casas. As plantações não crescem, as árvores não dão seus frutos e seus galhos ficam tão secos quanto o mais inóspito deserto. Em razão disso, guardamos provisões para o inverno e passamos a maior parte do tempo em nossos refúgios, fugindo do frio incessante. Eu mentiria se dissesse que não queria estar em uma casa quente, com uma bela xícara de chá, ao lado de uma lareira aconchegante. Mas não era isso que eu estava fazendo.

— Vamos garoto idiota, não se distraia — repreendeu a garota, me acertando um golpe bem no estômago, enquanto eu me distraía por um segundo em nosso treino.

— Não precisava me acertar desse jeito — chiei em ruídos vergonhosos, enquanto me contorcia de dor. É curioso como um soco na barriga pode doer tanto.

— Vamos, me ataque — provocou ela, jogando seu florete no chão. Provavelmente estava se exibindo novamente, mas eu não deixaria dessa vez.

Eu a ataquei com minha espada, tentando acertá-la com um golpe de estocada. A garota simplesmente afastou meu braço com suas mãos, fazendo com que eu errasse o golpe e me desarmasse facilmente. Agora ela estava com a minha espada e eu novamente derrotado. Levantei as mãos em sinal de rendimento.

— Se continuar com golpes previsíveis assim, até uma criança será capaz de te desarmar — gabou-se a garota. — Vamos, sua vez de tentar me desarmar.

— Me ajudaria se você me explicasse como faz.

Ela bufou e revirou os olhos de forma bastante impaciente. Apontou sua espada em minha direção e mandou que eu chegasse mais perto.

— Muito bem, venha cá. Primeiramente você vai afastar o meu braço para desviar o golpe e depois vai levar sua mão ao punho do oponente. — Fiz exatamente como ela disse. — Isso, agora você passa sua mão por baixo da minha, pegando na articulação, pois as articulações são mais fracas.

— Principalmente as de damas indefesas — provoquei com um sorrisinho de lado.

— Ah, é? — Ela agilmente conseguiu tirar minha mão de seu punho e levou a espada em meu pescoço novamente. — Se distraiu, foi morto de novo — disse ela. Eu engoli em seco. — Mais uma vez.

Ela apontou a espada novamente para mim. Eu tentei de novo e consegui tirar a espada de sua mão. Então apontei em sua direção. Não pude deixar escapar o risinho de deboche.

— Pelo visto aprendeu rápido. — Seu rosto inexpressivo me impedia de saber se ela estava contente ou irritada com aquilo.

Antes mesmo que eu tivesse tempo para dizer algo, ela usou a mesma técnica, mas dessa vez levou meu braço às minhas costas e começou a torcê-lo, fazendo com que eu derrubasse a espada e ficasse totalmente rendido.

— Mas continua se distraindo — ela falou em meu ouvido, me distraindo ainda mais. Sua voz suave e seu doce cheiro seria algo bom se ela não estivesse torcendo meu braço. — Em uma luta de verdade, você não terá tempo nem mesmo para pensar, quanto mais para piadas e risinhos.

Ela me soltou, pegou seu florete do chão e se sentou sobre um tronco caído. Parecia impaciente comigo. Não é para menos, estávamos treinando há uma semana e eu parecia não ter progredido tanto assim. Não era por falta de esforço, mas ela não sabia ensinar tão bem. Na verdade, ela mais se exibia do que ensinava.

— Você reclama demais também, garoto. — Ela cruzou os braços e me encarou com sua face chata de sempre. — Se continuar assim, não precisa nem mesmo prestar o exame, você não vai passar de qualquer forma.

— Eu estou tentando fazer o meu melhor, mas fica difícil com você me batendo a cada erro que cometo. — Eu estava totalmente exausto e agora com o braço dolorido. — E além do mais, eu tenho nome sabia? Me chamo Jack, e não entendo por que me chama de garoto se eu tenho a sua idade.

O Matador de Deuses - TenebrisWhere stories live. Discover now