Capítulo 28 - Fria como o gelo, branca como a neve

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Eu estava atrasado

Hughes pediu ajuda para acender o forno da taverna e isso demorou mais do que eu esperava, me custando quase meia hora. Era um forno velho de ferro fundido que utilizava mais lenha do que devia. Não era um trabalho tão simples para que eles pudessem fazer sozinhos.

Cheguei arfando no mesmo local em que nos encontramos no dia anterior e a garota não estava lá. Minha esperança de ter um treino decente parecia ter ido por água a baixo. Eu me sentei para recuperar o fôlego da corrida e fiquei fitando a árvore surrada, pensando no que faria em seguida.

— Está um pouco frio para se sentar nessa neve gelada, não acha? — Ouvi uma voz por detrás, uma voz rouca, aparentava ser a voz de um homem velho.

Eu me virei e deparei com um senhor de idade. Cabelos grisalhos e bem ralos, revelavam sua calvície. Seus olhos azuis me fitavam de um modo curioso. O velho estava sentado em um banco, tomando uma xícara de algo que, pelo cheiro, era chá. Eu me lembrava daquele velho. Ele se sentava naquele mesmo banco todas as manhãs no mesmo horário.

— Não me importo com o frio — respondi indiferente.

— Ha! Os jovens de hoje em dia, pensam que são de ferro, que não ficam doentes e são imunes a qualquer coisa. — O velho deu uma risada, então tomou mais um gole de seu chá. — Eu falei a mesma coisa para uma menina agora há pouco e ela teve a mesma reação que você.

— Espera, você diz, uma garota loira? — perguntei a ele com um lampejo de esperança.

— Sim, ela parecia esperar por alguém... — Ele colocou a mão no queixo, como se estivesse matutando algo. — Espera... ela estava esperando por você?

— O senhor é bastante perspicaz. — Eu me aproximei dele e sentei ao seu lado no banco. — Sim, ela estava me esperando e foi embora porque eu me atrasei.

— Ah... garoto, não se deve deixar uma dama esperando, embora eu já tenha feito muito disto quando tive a sua idade. — O velho soltou uma gargalhada. — Mas se você correr, talvez possa alcançá-la. Nunca se deve desistir de sua amada.

— Ei espera, ela não é minha... — Eu ia argumentar, mas vi que ele estava completamente convencido do que dissera. E eu também não tinha tempo, eu deveria ir atrás dela o mais rápido que pudesse. — Esquece, você sabe para onde ela foi?

— Ela foi em direção ao lago, seguindo a trilha em frente. — Ele apontou para uma trilha de mata fechada entre galhos e folhas congeladas, que parecia estar menos acessível ainda com a neve espessa e uniforme que se formava pelo caminho.

O parque lírio era bem maior do que um parque comum. Na verdade, era uma floresta enorme. Seus limites iam além das muralhas da cidade branca. Existia uma variedade enorme de árvores e plantas de todos os tipos, sem contar os animais silvestres. Era tão grande que era bem possível se perder naquela floresta. Por isso, tive um certo receio ao olhar para aquela trilha estreita.

— Obrigado, senhor... qual o seu nome mesmo? — Eu estava tão tenso que esqueci de perguntar seu nome e de me apresentar.

— Me chamo Gauen, muito prazer — cumprimentou ele, tomando calmamente seu chá.

— Me chamo Jack. Obrigado por sua ajuda — saudei-o, me levantando em seguida e já correndo apressado em direção à trilha.

— Hum... Jack... entendo... — Ouvi ele resmungar aquelas palavras ao longe. Ele aparentava sorridente e ao mesmo tempo pensativo.

· · • • • ✤ • • • · ·

Cheguei ao lago o mais rápido que pude. Eu olhava para todos os lados, tentando encontrar a garota, mas aparentemente não estava mais lá. Não era novidade, eu estava muito atrasado, provavelmente ela já tinha se cansado de esperar e ido embora.

O Matador de Deuses - TenebrisWhere stories live. Discover now