Capítulo 26 - A Amazona Branca

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Ano de 1710, Inverno. Cidade Branca.

Dez anos atrás.

A garota de olhos castanhos e cabelos loiros me olhava com certa desconfiança, incerta do que fazer com a minha investida. Minutos antes eu a confundira com Nara e corri até ela de um jeito afoito, segurando seu braço.

— O que você pensa que está fazendo? — disse a garota, estreitando seus finos lábios.

— Eu... me desculpe eu te conf... — Eu já ia me desculpando, quando ela me interrompeu subitamente.

— Vamos, não fique aí parado, me ajude a parar o sangramento do nariz dele. — Ela me deu um pedaço de pano molhado para que eu colocasse no nariz do bêbado.

O cavaleiro estava tão bêbado que nem mesmo se importava com a dor, as vezes até ria quando a garota pressionava seus ferimentos. Estava apoiado ao cocho dos cavalos. A água já tinha ficado vermelha por causa do sangue.

— Ei, me ajude a levantá-lo, preciso levá-lo para casa. — A expressão da garota não mudou desde o começo. Na verdade, tinha um olhar um tanto quanto inexpressivo, como se ela não tivesse tanta empatia pelo bêbado quanto aparentava.

O cavaleiro era pesado, fazendo com que tivéssemos dificuldade para carregá-lo pelas ruas da cidade. E por incrível que pareça, ninguém se oferecia para nos ajudar. Em alguns momentos, o cavaleiro soltava algumas palavras impossíveis de se entender, provavelmente delirava. Continuamos andando com um de seus braços em meu ombro e o outro sobre o ombro dela. Durante todo caminho, ela não trocou nenhuma palavra comigo e nem mesmo reclamou do peso do cavaleiro.

— Que jeito de terminar uma manhã, né? — falei, tentando quebrar a tensão do momento. Ela simplesmente me ignorou, como se não tivesse ouvido o que eu dissera.

Finalmente chegamos ao que parecia ser a casa do cavaleiro, era grande e bonita, paredes brancas, como todas as casas, e um muro feito de trepadeiras em volta. Aparentava também ser enorme por dentro.

A garota olhou para mim e finalmente resolveu falar.

— Eu assumo daqui. Pode soltá-lo. — A expressão inanimada de sua face já começava a me irritar.

— Por favor, me deixe ajudar a levá-lo, ele é muito pesado para você carregar sozinha — insisti.

— Eu posso me virar daqui em diante. — Ela o ajeitou no ombro e começou a andar. — Não preciso mais da sua ajuda.

— E-eu... — Pensei bem no que falar para não a irritar mais. — Posso ao menos saber o seu nome?

— Não — respondeu a garota sem nem mesmo hesitar. Eu fiquei atônito com tamanha grosseria.

Fiquei apenas observando os dois entrarem na casa, enquanto pensava no quão idiota eu fui por me meter em algo que não era da minha conta. Estava com os ombros doloridos de tanto carregar um bêbado pela cidade, com a roupa suja de sangue e no meio da cidade alta.

Farto com o que ocorrera, resolvi voltar à taverna, precisava lavar aquele sangue todo de minhas roupas. No caminho, algo me chamou a atenção, notei uma pequena aglomeração em frente a um mural. Me enfiei entre àquelas pessoas para ver o que chamava tanta atenção. Era um cartaz.

"Exame de admissão para cavaleiro".

Eu não podia acreditar no que eu estava lendo. A data dizia que faltava um mês para o exame. Eu sabia que seria a minha única e melhor chance de me tornar um cavaleiro, e eu não poderia desperdiçá-la.

· · • • • ✤ • • • · ·

Nas semanas seguintes eu me empenhei ao máximo em treinar para o exame. Graças a bondade do taverneiro, consegui achar um lugar para dormir de graça. Ele me oferecera um quarto no sótão em troca de serviços na taverna. Eu o ajudava com tarefas simples, desde cozinhar, a servir bebidas para os cavaleiros, além de evitar brigas no local. Graças a isso, consegui obter muitas informações sobre os cavaleiros.

O Matador de Deuses - TenebrisOnde histórias criam vida. Descubra agora