Diogo Novais
— Bom dia! — disse animado.
Minha semana não poderia ter começado melhor. Com um domingo perfeito daqueles, eu não precisei de muito na minha folga. A segunda-feira foi leve, até levantei cedo pra caminhar com o Hulk, teve direito até a banho de mar, com roupa e tudo.
— Bom dia! — Thiago respondeu amarrando o cadarço de um dos seus coturnos — Que foi que tá de bom humor logo cedo, dando "bom dia" sorrindo? — perguntou com estranheza.
Realmente era de se estranhar. Eu chegava em silêncio e só conseguia me comunicar realmente depois de onze da manhã.
Suspirei ainda sorrindo e abri minha bolsa, pegando a minha farda e começando a me vestir.
Eu não conseguia esquecer! A todo momento eu lembrava da Amanda, de nós juntos.— Vai fazer mistério? — jogou sua boina em mim.
— Não, só tô pensando. — sorri, abotoando o blusão cinza camuflado — Acordei bem, descansado. Só isso. — o respondi.
— E os pesadelos? Parou? — me olhou — Nunca mais vi você reclamar, chorar... Isso é bom, na verdade.
— Não tenho mais. Dês daquele dia que cê dormiu lá em casa.
— Sério?
— Seríssimo! Nem eu tô entendendo.
— Mas eu tô! — fechou seu armário com certa brutalidade — Evolução, meu irmão! Tá finalmente deixando isso aonde deveria estar, lá atrás! — disse entusiasmado.
— É involuntário, se eu pudesse deixar lá atrás assim — estalei os dedos —, deixaria com toda certeza.
— Não só pode como já tá deixando. — bateu no meu ombro, me chamando subliminarmente pra equipar — A Amanda tá operando milagres. Quem diria, hein? — zombou.
— Tá mesmo. — o segui com meus coturnos na mão — Tô me sentindo tão bem ultimamente. — suspirei, satisfeito — Novo, sabe?
— Aproveita porque você merece! — disse pegando um colete.
Me sentei em um dos bancos presentes no vestiário, colocando meus coturnos.
— Domingo ela foi lá pra casa. — finalmente revelei enquanto eu amarrava o cadarço de um dos coturnos.
— E não me contou?! — franziu as sobrancelhas — Ih... — riu — Deixa pra lá o que eu disse, ela tá é te deixando estranho. — zombou — Você só falta bater no meu portão de madrugada pra contar uma novidade.
— Eu esqueci de falar. Foi sem querer. — me levantei, indo vestir um colete — Ela me fez esquecer de celular, de tudo.
— E aí? — me olhou, esperando exatamente a resposta que eu o daria.
Não disse nada, apenas sorri aberto e levantei as sobrancelhas. Bastou pra que ele entendesse.
— Mentira que cê transou com ela! — disse alto, completamente desacreditado — Caralho! — socou a própria mão, comemorando.
— Fala baixo. — dei um tapa em seu braço — O pessoal vai escutar.
— Quem transou? — o Murilo surgiu entre os armários, indo em direção aos coletes.
— Diogo! — Thiago revelou antes mesmo de eu pedir pra ele não falar — Depois de anos enrolando! — disse mais animado do que eu.
— Enrolando por quê? — me olhou.
— Ele queria fingir que não ligava pra isso e aí tava deixando várias oportunidades passar! — continuou falando.
— Porra, tu tá de sacanagem, né? — disse ajeitando o colete — Para de falar isso alto! — fui em direção aos fuzis.
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Entre A Paz E O Caos
RomanceUma jovem de dezoito anos, negra, periférica, nascida e criada na favela da Rocinha, localizada na Zona Sul do município do Rio de Janeiro. Com um pai ausente, foi criada sozinha pela sua mãe. Seu maior sonho é ingressar em uma faculdade e sair de o...