Capítulo Quarenta e Três

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Diogo Novais

Ela dormia calma, repousada em cima do meu peito. Eu poderia passar horas vendo seu semblante sereno, sem preocupações. Poderia passar horas mexendo nos seus cachos macios e com um cheiro inconfundível de coco com óleo de amêndoas.
Olhei o relógio e marcava quinze pras sete da noite, cuidadosamente e sem movimentos bruscos, saí da cama enquanto segurava a sua cabeça pra que ela não acordasse e pus um travesseiro pra que ela não sentisse a minha falta ali. Em resposta ela se mexeu, franziu seu rosto mas logo voltou ao normal. Sorri apaixonado com o que eu via e antes de ir pro banheiro, beijei a ponta do seu nariz com leveza, a vendo mexer o mesmo.
Ao entrar no banheiro, a primeira coisa que eu olhei foi a banheira, menos da metade cheia. Suspirei saudoso, lembrando do que ocorrera ali horas antes. Abri o ralo e deixei a água ir embora, eu não usaria naquele instante, talvez em uma outra oportunidade. No chuveiro, sentindo a água morna cair em mim, senti todos os meus músculos relaxarem. Eu também conseguia sentir o toque da Amanda pelo meu corpo, vívido. Eu parecia um adolescente emocionado, nem parecia que ela ainda estava presente no cômodo ao lado, dormindo enquanto eu pensava nela.
Ao fechar o chuveiro, escutei a cama ranger, ela estava se mexendo. Me enrolei rápido na toalha e caminhei lentamente até o quarto, a vendo piscando lento e olhando a esmo, acostumando a sua visão com a pouca luminosidade que saía do banheiro. Me aproximei sorrateiramente e beijei sua bochecha, deixando algumas gotas d'água nela.

— Pensei que você fosse dormir até amanhã. — disse calmo.

— Que horas são? — perguntou com a voz sonolenta, rouca.

— Sete e três. Levanta e se veste pra gente aproveitar um pouquinho a noite. — sugeri, passando os dedos em suas costas.

Ela sorriu ao sentir minha carícia e se arrepiou, rolando na cama e ficando de barriga pra cima com o corpo ainda nu. Era a personificação da perfeição, seu corpo era harmonia pura e eu era o seu maior admirador. A coisa mais linda que eu ainda não havia visto era ela se espreguiçando, seu corpo se enrijeceu por inteiro, tremendo de forma involuntária e logo após relaxou, finalizando o seu alongamento estalando os dedos dos pés, como uma felina.

— Tá bom. — se sentou na cama, me olhando com os olhos estreitados por conta da claridade.

— Pera aí. — fui até o banheiro, apagando a luz e voltando pro quarto — Tá melhor?

— Uhum. — senti seus braços me entrelaçando, seguido de um beijo na barriga, um pouco acima do meu umbigo.

Mais uns minutos de afeto foram necessários pra que ela se levantasse e fosse até o banheiro. Eu nunca, nunca havia me sentido assim antes. Ela havia me curado quase por completo. Depois da sua chegada em minha vida eu nunca mais me culpabilizei tanto sobre o incidente ocorrido, os pesadelos tinham cessado e até as minhas crises de ansiedade tinham dado um tempo. Óbvio que eu não deixaria o tratamento da minha saúde mental de lado, na verdade eu estava cogitando voltar à hipnoterapeuta. Me sentia mais disposto a desabafar graças à Amanda, mais corajoso a falar abertamente sobre aquele episódio que ainda me assombrava, não podia negar.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo meu celular tocando, era o Thiago. Já sabia que algo havia acontecido, ele não era de me ligar inesperadamente.

— Que que aconteceu? — perguntei atento.

— Que isso! Boa noite pra você também. — disse rindo — Eu tô muito bem, obrigado por perguntar. A Lorena também tá ótima, o Hulk nem se fala... — seu tom era de ironia.

— Me ligou do nada por quê? — perguntei ainda preocupado — Você não é de me ligar, só de mandar mensagem.

— Eu, seu melhor amigo, não posso te ligar? Atrapalhei alguma coisa? — perguntou rindo.

Entre A Paz E O CaosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora