Felipe Ribeiro
— Ele só queria negociar o corpo do maluco, tu matou o cara, Lpê! — o Nonato falava enquanto eu pilotava em alta velocidade.
— Ele puxou a arma pra mim, porra!
— Era só deixar ele levar o cara, caralho!
— Foda-se! Eu não negocio com A.D.A, nem com TCPuta e acabou!
— Olha a burrada que você fez, o Johny não tá de acordo, eles vão querer sua cabeça e a cabeça dele agora!
— Quero ver ele me parar na pista!
— Deixa de ser burro, seu filho da puta!
— Cê me chamou de quê?! — freei bruscamente.
Todos pararam junto pra saber o que tinha acontecido, podiam me xingar de tudo quanto era nome, eu não ligava, mas eu não admitia ninguém usar minha mãe pra me ofender. Quando eu estava a ponto de esculachar ele, dizer tudo que estava entalado e até um pouco mais, meu rádio transmissor soou.
— Lpê!
— Fala!
— Tem mais alemão no morro, a pista tá salgada!
— Eles já chegaram? Tu viu, Baratão?
— Eles vieram numa van preta, desceu quinze neguinho e deve tá vindo mais.
— Valeu, menor!
Desci da moto e dei a direção pro Nonato, os outros me olhavam sem entender.
— Vai ficar aqui? — o mesmo me olhou confuso.
— Vou, leva a moto pro QG e fala pros outros se preparar, quero todo mundo trocando! E Nonato — o olhei —, faz a gracinha que tu fez comigo de novo pra tu ver. Pega a tua visão, menor! — disse batendo levemente em seu rosto.
Ele me encarava sério e eu me afastei de todos.
— Chefinho! Vou contigo! — o Da Boca desceu da moto e deu a direção pro Mauzão.
— CL, tá dando pra pilotar? — o Gordo perguntou.
— Leva ele, Gordo! Pode levar! Eu me viro com o Da boca!
Ele assentiu e acelerou a moto, todos o seguiram e eu comecei a correr junto do Da Boca, o sol raiava e algumas pessoas já saíam de suas casas pra trabalhar, as que davam pra avisar, eu avisava, outras passavam desapercebido por mim, mas viam a movimentação incomum dos traficantes e logo voltavam pras suas casas, escutei uma rajada e me escondi atrás do primeiro muro que eu vi.
— Continua sem mim, já te alcanço!
— Coé, cê vai ser atingido, mano!
— Não vou, pode ir!
Outra rajada se ouviu e fez o Da Boca sair da direção da rua, ele correu, virando a esquina e eu fiquei ali, ajoelhado na ponta do beco, vi que uma cabeça aparecia toda hora no final da rua, já sabia que era gente da facção rival.
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Entre A Paz E O Caos
RomanceUma jovem de dezoito anos, negra, periférica, nascida e criada na favela da Rocinha, localizada na Zona Sul do município do Rio de Janeiro. Com um pai ausente, foi criada sozinha pela sua mãe. Seu maior sonho é ingressar em uma faculdade e sair de o...