Capítulo Treze

725 52 15
                                    

Diogo Novais

— Tô doido pra ir pra casa logo, não aguento mais ficar aqui. — disse alongando as costas.

Minha coluna era a que mais sofria quando eu ficava em pé por muito tempo, o fuzil era pesado, o meu equipamento era pesado e quanto mais tempo passava, mais parecia que eu carregava um elefante nas costas.

— Só amanhã. — o Thiago riu — Algum motivo específico pra querer ir?

— Além da dor insuportável... É o mesmo motivo que o seu. — o olhei sorrindo.

— Rodrigo?

— Exatamente! — ri — Sabe quando você sente que qualquer dia vai surtar de tanto estresse acumulado e vai sair distribuindo soco? — o olhei — É isso que eu tô sentindo. Qualquer dia eu vou rebocar ele na porrada, só não sei quando.

— Ai, ai, Diogo! — disse rindo — Dependendo do dia, eu até te ajudo. E mais da metade do batalhão, pode ter certeza.

Ri junto com ele e ajeitei a postura, tentando amenizar um pouco da dor que, até que dava pra suportar, mas pela insistência, era bem incômoda. Escutei a voz do Paiva se alterando, nada de anormal, mas eu sabia que ele estava abordando alguém, o procurei com os olhos e...

— Não é possível. — disse sozinho e com os olhos fixos neles.

— Que foi? — o Thiago olhou na direção que eu olhava — Ah, ela... De novo, né? Tá te seguindo. — disse rindo.

— Pior que tá parecendo. — disse rindo — Mas eu acho que é porque ela mora por aqui, foi aqui que eu abordei ela naquele dia. — disse o olhando.

— E você vai fazer nada pela milésima vez, é?

— E eu vou fazer o que, meu filho? Tô trabalhando e não tem o que falar pra ela. — disse ajeitando a postura.

Eu sabia que nunca mais a encontraria em outra ocasião, no dia da praia eu tive a oportunidade, mas eu fiquei nervoso demais pra pensar. Só que xavecar ela estando de farda também não era uma opção, sem contar que, infelizmente, o Paiva, mesmo sendo uma pessoa nojenta, ainda sim era meu comandante, meu superior, e na questão hierárquica, eu o devia respeito, isso estava incluso ter o mínimo de ética e não fazer coisas que daria pra fazer sem o deixar perceber que eu estava fazendo.

— Quando ela passar aqui, fala um "bom dia, princesa", sei lá, puxa assunto, "tiroteiro puxado esse de hoje, né?". — disse rindo.

— Se eu fosse ela e alguém falasse isso comigo, eu nem olharia pra pessoa. — disse rindo.

Ele suspirou e bateu com a ponta dos dedos em seu fuzil.

— Quer saber? — disse me olhando — Tô indo falar com ela. — disse andando.

— Thiago, não! Para com isso! — disse cochichando e pegando em seu braço.

— Calma, Diogo! Relaxa e vem na minha, eu sei o que eu tô fazendo. — disse rindo.

Ele interrompeu o Paiva falando e eu tentei ser o mais natural possível, mesmo depois do Paiva ter dito o que disse pra mim, como sempre me lembrando daquele dia. O Thiago pegou os documentos dela e veio até mim, só pra eu ver se era ela mesmo e sim, era a mesma Amanda da praia.
Não sei se tinha a ver com a minha profissão, mas a minha memória eidética era impecável, se eu visse a pessoa uma única vez sequer, já era o suficiente pra eu conseguir a reconhecer em qualquer lugar e vendo seus documentos, eu só guardei mais fisionomias dela.

— Seus documentos. E... Posso te fazer uma pergunta?

Parecia que eu havia voltado pro tempo do fundamental, quando meus amigos da época iam falar de mim pra menina que eu estava interessado. Gelei por dentro e fiquei nervoso, claro. Eu era tímido com pessoas que eu não tinha intimidade e também, pelo fato de eu ter ansiedade, o que o Thiago fez foi semelhante a ele ter usado o método de tortura mais doloroso já inventado em mim.

Entre A Paz E O CaosWhere stories live. Discover now