Diogo Novais
Fiquei a encarando sem ação e ela fez o mesmo, a crise de ansiedade pareceu bater a porta novamente, meu coração acelerou, meu estômago vibrou e a minha respiração saiu do ritmo.
Meu peito subia e descia notavelmente, eu não estava esperando por isso, ver a garota da Rocinha ali, na praia do Leme, na minha frente com o meu cachorro.
Ela desviou o olhar e eu fiz o mesmo, olhei pro Hulk e agachei pra acariciar ele, ainda estava nervoso com o seu sumiço.
— Faz mais isso com seu pai, não! — usei o Hulk pra disfarçar, eu estava nervoso agora com a presença dela.
Não queria que ela notasse e nem que ela percebesse que eu havia a reconhecido, tive a impressão que ela também me reconheceu, mas eu não tinha certeza. Talvez ela só estivesse me olhando por eu estar a olhando fixo.
— Minha filha — ela apontou pra garota da Rocinha - que viu a coleira dele com o seu número, se não ele ia continuar andando pela praia até achar um dono novo.
— Eu achei que ele tivesse se afogado, deixei ele entrar na água, quando vi, não tava mais em lugar nenhum. — disse a olhando.
Com a visão tangencial, percebi a garota de cabelos cacheados e volumosos me olhando, sorri de lado involuntariamente e continuei olhando pra sua mãe, apenas pra disfarçar.
— Mas graças a Deus ele tá bem, já achou o dono e vai pra casa, né, Hulk? — a mãe dela o olhava e acariciava seu dorso.
— Obrigado, dona? — eu ainda não sabia o nome daquela senhora, que não era senhora, ela era bem nova.
— Denise!
— Obrigado, dona Denise. De verdade, se essa cachorro sumisse, eu ia morrer. — disse rindo descontraidamente.
— Que nada, meu filho!
Olhei pra garota branca de cabelos lisos, ela me olhava fixamente, e olhei a filha da senhora Denise, que estava sentada na canga, com os joelhos dobrados na altura dos seios, os abraçando e olhando pra outra direção.
Estendi a mão pra garota de cabelos lisos, apertando sua mão e a agradecendo, a mesma recuou quando o Hulk tentou cheirar seu rosto. Estendi a mão agora pra outra garota, a de cabelos cacheados de olhar amedrontado, ela não estava me olhando, então ela nem percebeu quando eu tentei a agradecer.
— Amanda! — a garota de cabelos lisos a empurrou levemente, fazendo ela voltar o foco pra nós — Ele tá falando contigo, presta atenção!
Amanda... Eu sabia o nome dela agora, e tinha o número de sua mãe, meio caminho andado pra tentar conhecê-la. Ela olhou a minha mão e demorou a raciocinar, mas logo a tocou, retribuindo o aperto de mão.
— Obrigado, Amanda.
Ela assentiu com a cabeça, mas não me disse nada, apenas me olhava fixamente, ela sabia quem eu era e tinha me reconhecido, agora eu tinha certeza.
O Hulk lambeu a bochecha dela e quebrou aquela feição séria, a fazendo rir e o acariciar.
— Tchau, Hulk! Amei te conhecer, viu? — disse acariciando seu peitoral com uma mão e seu dorso com outra.
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Entre A Paz E O Caos
RomanceUma jovem de dezoito anos, negra, periférica, nascida e criada na favela da Rocinha, localizada na Zona Sul do município do Rio de Janeiro. Com um pai ausente, foi criada sozinha pela sua mãe. Seu maior sonho é ingressar em uma faculdade e sair de o...