Amanda Linhares
— Ela vai vir quando? — minha mãe gritou da cozinha.
— Sábado de manhã e vai pra escola comigo segunda, pode?
— Pode, mas eu quero o contato da mãe dela. — voltou da cozinha com um jarro de suco.
— Tá bom, depois eu peço pra ela.
A mesma concordou e sentou-se do meu lado, o prato da noite foi estrogonofe de frango com arroz e batata sauté.
O Diogo quase não havia falado comigo direito, estava sem me responder dês da manhã. Mas a minha mensagem já estava visualizada, uma hora ele teria que responder. Também, se não respondesse, era só apagar o contato dele e fingir que nunca existiu.
Me deitei e coloquei meu smartphone do lado do travesseiro, como todas as noites vazia. Comecei a imaginar aleatoriedades, até imaginar a possibilidade do Diogo não estar bem. Afinal, ele nunca visualizava uma mensagem minha e a deixava pra lá. Ele sempre me respondia, independente do momento. O pior era que a possibilidade dele ter, sei lá, morrido talvez, era enorme, já que o mesmo era policial. Fiquei agoniada, mas não tinha o que fazer. Se ele estivesse morto, eu nunca descobriria, a não ser pela televisão, não conhecia amigo ou qualquer familiar dele.
Me concentrei em dormir, aliás já era quase meia-noite e eu precisava acordar às quatro. Senti meu corpo relaxar, de pouco em pouco, até finalmente adormecer.— Já pensou se um dia a gente formar uma família? — disse sorrindo.
— Vai demorar ainda! — ri, me encostando em seu braço.
— Mas passa rápido. Quando a gente perceber, já vamo tá formado e rico, morando na Barra, de frente pro mar!
— Ué, e as crianças? Não ia ser uma família? — o olhei.
— Ah, é! Mas primeiro vai ser só nós dois. Depois a gente pega um cachorro, pra acostumar com a ideia de mais alguém além de nós dois no apartament...
— Apartamento não! — o interrompi — Casa é melhor, tem mais espaço e pode falar alto à vontade! — ri.
Ele gargalhou alto, escutar sua gargalhada me fazia ficar alegre, tinha o poder de mudar meu dia inteiro. Mas logo o seu sorriso aberto se desfez, dando lugar pra uma feição pensativa, olhando a vista do morro de cima do meu terraço. Era a segunda vez que isso acontecia no dia, ele oscilava a todo momento e eu tentava ao máximo o deixar animado, tentava o fazer pensar em outras coisas, mesmo sendo uma missão quase impossível, na situação em que ele estava vivendo.
— Que foi? — disse atenciosa — Conversa comigo. — o motivei, amorosa.
— É só... — suspirou, lembrando — Tô com medo de perder ela, Amanda. — me olhou triste.
— Ela vai ficar boa, cê vai ver. — acariciei sua bochecha, o fazendo tirar minha mão do seu rosto de forma grosseira, levantando da beirada do terraço, onde estávamos.
— Eu não tô fazendo nada pra mudar isso. Ela tá morrendo e eu... Tô parado. — sua voz trepidou.
— Você tá fazendo o que pode, Felipe. Calma. — me levantei também, indo ao seu encontro.
Ele bufou e pôs as mãos na cintura, olhando por chão, parecia estar com raiva. O humor dele ia de bom a mau em questão de poucos minutos, eu não estava acostumada.
— Calma? — me olhou indiferente — Você resolveu tudo falando pra eu ter calma, como eu não pensei nisso antes? — disse ironicamente.
— Não precisa me tratar assim. — o repreendi — A culpa não é minha, Felipe, eu só tô tentando te ajudar da forma que eu posso.
— Você não tá me ajudando em nada falando que ela vai ficar boa! — seu tom ficou agressivo.
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Entre A Paz E O Caos
RomanceUma jovem de dezoito anos, negra, periférica, nascida e criada na favela da Rocinha, localizada na Zona Sul do município do Rio de Janeiro. Com um pai ausente, foi criada sozinha pela sua mãe. Seu maior sonho é ingressar em uma faculdade e sair de o...