Capítulo Três

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Amanda Linhares

Dei as costas ao policial, tremendo, ofegante, e continuei subindo o morro até chegar a porta de casa. Bati na porta forte, fazendo os vidros da mesma tremerem e ecoarem um estrondo forte pela casa. Minha mãe apareceu assustada e me olhou mais assustada ainda quando viu que eu estava visivelmente nervosa.

— Amanda! Que que aconteceu, minha filha?! — ela abriu a mesma desesperada pra me acudir.

— Nada demais, eu só fui parada por um policial, mas não tava esperando, só isso. — minha voz estava desanimada, ainda estava processando o que acabara de acontecer.

Não, eu não estava falando do enquadro que havia tomado e nem o susto momentâneo, eu estava falando do que eu senti quando eu olhei pro rosto daquele PM. Meu coração disparou e ele havia me deixado tão nervosa, só pelo fato de estar falando comigo e me olhando, que parecia que eu estava nervosa por estar com algo ilegal na mochila. Entrei em casa e tomei um longo banho, me vesti rapidamente e fui pentear meu cabelo no quarto, mas meu pensamento não saía daquele policial.

— Amanda, por que não me ligou, filha? Eu ia te buscar, eu te falei. — fui surpreendida pela minha mãe entrando no meu quarto — Poxa, eu fiquei preocupada.

— Só esqueci de ligar.

Ela suspirou e chegou mais perto.

— E essa correntinha aí? Cê foi sem nada no pescoço que eu me lembre. — ela mudou de assunto, era o jeito dela de me acalmar.

— Meu pai me deu. — sorri e me sentei na cama.

Minha mãe me olhou boquiaberta e se sentou do meu lado, enquanto eu finalizava meus cachinhos.

— É, eu também nem acreditei, mas já que ele me deu... Só aceitei, né? — disse rindo e passando meus dedos entre os grossos fios de cabelo que eu tinha — Senti que ele tá mudando, sabe?

— Por isso que eu não quero que se afaste dele, ele tá percebendo agora a burrada que ele fez por não acompanhar seu crescimento, filha. Dá uma segunda chance pra ele, por mim.

Respirei fundo, longamente e joguei meus cabelos pra trás.

— Acho que eu já dei sem perceber.

— E hoje foi como, lá? Aquelas bruxas te trataram mal? Porque se elas tiverem te tratado mal... Amanda, eu deixo uma careca! — disse descontraidamente, gesticulando com as mãos.

— Nunca vão me tratar bem, né, mãe? Mas eu deixo passar, finjo que não é comigo e tá tudo certo. — disse descontraidamente e indo até a janela do meu quarto.

A vista dela não era muito bonita, tinham várias fiações clandestinas, conhecidas popularmente como “gato” e uma casa, que também era duplex, com o acabamento de cimento e pedra, com diversos furos de projéteis de arma de fogo. Aquele beco já havia sido palco de diversos tiroteios, e aquelas marcas, que existiam também nas paredes externas da minha casa, sempre cresciam de quantidade, infelizmente. Olhei pra baixo e coincidentemente vi alguns policiais passando pelo meu beco, e lá estava ele, o policial carrancudo que era pouco simpático mas muito curioso, ou talvez a profissão dele cobrasse dele tamanha curiosidade. Minha mãe escutou os passos vindo do beco e colocou a cabeça pra olhar também.

Entre A Paz E O CaosWhere stories live. Discover now