Capítulo Vinte e Cinco

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Diogo Novais

— Se o Rodrigo existe, você vai pra operação sim. — disse rindo.

— Ele foi bem pra sala do Coronel. — a melhor parte do dia era fofocar com o Thiago.

Amávamos quando o Paiva se dava mal, e ir pra sala do Coronel era quase sempre considerado algo bem ruim. Geralmente só iam os policiais que haviam feito alguma besteira.

— Também, né? O pessoal vive reclamando dele pro Coronel, vai ver agora ele se tocou que o Rodrigo abusa do poder. — disse estalando os dedos dos pés.

— Não vai adiantar nada. Ele vai ganhar uma advertência e vai voltar pior. — disse colocando meu coturno — Hoje de manhã eu quase bati nele.

— E era isso que ele queria. Vê se não faz essa burrada aqui dentro. — disse se levantando da cama, esticando o corpo.

— Vou tentar. — ri — Se liga, vou no vestiário me trocar logo.

— Vai lá que eu ainda tô pensando no que eu vou fazer. — disse pegando seu coturno e o calçando novamente.

O deixei no alojamento e fui até o vestiário. Abri meu armário, minhas roupas de educação física estavam lá dês do plantão passado, estavam urgentemente precisando de uma lavagem, mas o cheiro não era problema pros policiais de lá e se eu fosse comparar, com certeza eu era um dos mais cheirosos ali.
Me vesti, pus meu único tênis que usava lá e fui pra academia do batalhão. Já tinham outros policiais lá, e quando chegaram eu e mais uns quatro, decidimos fazer uma Tabata. Vinte segundos da execução de algum exercício físico em alta intensidade e dez segundos de descanso. O correto era fazer oito séries, com diferentes exercícios. Mas nós, policiais de intervenção, tínhamos que dar nosso máximo e ir até nosso limite. Faríamos trinta séries. Alternaríamos entre agachamentos, abdominais, flexões, barra fixa e barra com peso.
Treinei por duas horas, o Thiago saiu pra patrulhar e eu não queria mais pôr os pés na rua, estava cansado demais pra ficar preso em um carro, zanzando pelos bairros do Rio. Mas quando anoiteceu, eu fui obrigado a ir, pelo Coronel. Era comum cada policial sair no mínimo duas vezes ao dia em patrulha, então eu não podia reclamar de muita coisa, apenas acatei a ordem, mesmo estando sem a mínima vontade de permanecer ali.
Sim, eu gostava do meu trabalho, era o que eu havia escolhido pra mim. Não foi por falta de opção, foi por vontade própria. Mas me sentia extremamente esgotado, parecia que aquela farda sugava minhas energias. Eu só queria chegar logo em casa, tomar um banho daqueles, acarinhar o Hulk, falar com a Amanda, deitar na minha cama e dormir até o anoitecer.
Mas de tudo isso, eu queria muito mais falar com a Amanda. Em horário de trabalho eu não tinha muito tempo pra a dar atenção, e se tinha uma coisa que me agoniava, era quando ela mandava mensagem e eu não podia ler por conta de algo que estava acontecendo a minha volta. Então eu optei por aguentar um pouco, pra poder conversar com ela.
Era bem doloroso não poder ficar focado apenas nela, mas eu não tinha escolha. Pela madrugada, quando já estava perto da alvorada e da hora de eu ir pra casa, pude finalmente a mandar mensagem. Enviei um áudio pela primeira vez. Sabia que ela acordaria já, por causa da escola, então eu só tinha que esperar um pouco. Estava perambulando pelo batalhão sem nada pra fazer, assim como outros policiais que estavam ali, conversando, rindo e tirando um tempinho pra relaxar fumando sob a lua e o sereno.
Acabei visualizando, no dia anterior, a última mensagem da Amanda e não havia a respondido, só me dei conta naquela instante, quando a enviei a mensagem de bom dia. Não havia feito aquilo de propósito, obviamente, acontece que eu li sua mensagem no mesmo momento em que eu havia parado no sinal e visto aquele carro cheio de meliantes dentro. Em questão de três minutos eu quase tomei um tiro na cabeça, depois daquilo eu esqueci de tudo e todos a minha volta, o susto me fez reagir assim.
Mas de qualquer forma, eu nem poderia contar pra ela, pra me explicar. Não porque se tratava de algo extremamente sigiloso, mas é que seria um pouco desanimador pra ela saber dos ócios do meu ofício. Não queria que ela desistisse de mim por medo, se assustasse, ou tivesse aquela impressão de policial encrenqueiro ou maluco que sempre arranja um jeito de voltar ferido das ocorrências. Queria que ela ficasse tranquila em relação a minha pessoa, até porque eu era uma pessoa tranquila de fato.
Meu plano telefônico não era o dos melhores, então, quando eu percebi que estava demorando muito a sua resposta, sabia que o problema não era ela e sim minha internet.
Às cinco da manhã fui ao vestiário me despir e pôr minha roupa comum pra voltar pra casa, o Thiago ficava fardado até às cinco e cinquenta da manhã, ele achava que poderia ser solicitado a qualquer minuto, o que não estava tão errado. Mas eu achava quase improvável, era raro acionarem o batalhão, de madrugada então... Só em casos de confrontos.
Fiz o que a Patrícia me pediu, quando deu seis horas da manhã e eu escutei a corneta sendo tocada, anunciando a alvorada e a minha liberação, fui até a enfermaria pra fazer outro curativo, que provavelmente seria o último, já que eu não teria o cuidado de refazê-lo sempre.

Entre A Paz E O CaosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora