Capítulo Vinte e Nove

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Felipe Ribeiro

Fiquei no baile até três da manhã, depois do que acontecera, eu não precisava mais ficar ali.
Deitado na minha cama, olhando pro teto, eu sentia que ainda não tinha acabado. Como que acabou se ainda nos queríamos? Era só questão de tempo pra ela voltar pra mim. No banho, ainda exultante com a memória, fechei meus olhos e com toda a fé que existia em mim, exorei, segurando minha guia.

— Se for pra ser, faz acontecer logo, meu pai. Por favor. Eu saio do tráfico, se eu encontrar a mulher certa, a mulher da minha vida, eu saio. — prometi.

Mas eu só pensava na Amanda, só nela. Pra mim, ela era essa mulher certa, era só questão de tempo pra nós voltarmos, eu tinha fé que isso aconteceria uma hora ou outra.

— Acorda! — sacudiu minha panturrilha.

Escutei essa voz repetidas vezes, me mandando acordar, mas ela estava abafada e longe. Inicialmente pensei ser um sonho, mas ao abrir lentamente meus olhos, me situando, vi uma silhueta masculina em frente a minha cama.
Antes mesmo de eu despertar por completo, meu raciocínio despertou e eu puxei a pistola da gaveta rapidamente, a engatilhando e apontando pra aquela sombra.

— Que isso, Lpê? Tá mandado! — disse rindo — Abaixa essa arma!

Minha visão não voltava, mesmo eu piscando repetidas vezes. Continuava enxergando embaçado.

— Lpê! Coé! — disse parando de rir — Abaixa essa porra.

Pisquei novamente, vendo a figura ficar nítida aos poucos. Suspirei ao ver quem era, abaixando a pistola aliviado.

— Tá me estranhando, é? — disse zombando.

— Não entra na minha casa, eu já disse. — disse sério, ainda ofegante — Qualquer dia eu vou te dar um tiro.

Ele gargalhou.

— Sentiu falta do pai?

— Tô liberado, Johny? — desconversei.

— Liberado e de folga! — disse animado — Uma semaninha, já que eu fiquei uma semana fora. — riu — Ó! — mexeu no bolso da sua bermuda — Pra você! — me jogou um bolo de dinheiro — Cinquinho.

Ainda estava acordando, não estava nem conseguindo pensar direito. Não o respondi e saí da cama, dando a mínima pro seu dinheiro e indo pro banheiro. Não o dei a atenção que queria e não daria, não queria nem estar olhando pra cara dele.
Um inferno tinha acabado e outro tinha começado. Ter que voltar a conviver com a falsidade do Bravo seria um desafio pra mim. Não sabia se eu conseguiria sustentar esse teatro por muito tempo.

— Vai demorar? — gritou.

— Que foi? — saí do banheiro molhado, com uma toalha na cintura, quase quinze minutos após o deixar sozinho.

A primeira coisa que ele fez foi olhar pro meu pescoço, vendo a minha guia de Ogum. Ele não devia ter enxergado antes porque eu estava vestido, agora estava completamente visível o colar de contas que batia no meu umbigo.

— Uma semana no comando do morro e fechou o corpo? — disse rindo, cruzando os braços.

— É que pra começar eu não queria ficar no comando, né? — disse ríspido — Já que eu não tive opção... Fechei.

— Fala sério. — zombou — Ficou com medo de morrer?

— Você ficou com medo de morrer, eu fiquei aqui. — continuei o dando espetadas, não aguentaria mais sustentar uma falsa amizade.

Não demorou muito pra que ele percebesse que eu não estava mais indo com sua cara.

— Cê tá com algum problema? — disse se aproximando, ameaçador.

Entre A Paz E O CaosWhere stories live. Discover now