Diogo Novais
Toquei o interfone e aguardei poucos segundos até o porteiro me atender. Não precisei me identificar, ele já me conhecia muito bem.
— Bom dia, Diogo! Como vai? — perguntou simpático.
— Fala, seu Orlando. — o cumprimentei — Tô bem e o senhor?
— Tô bem também, meu filho. Trabalhando. — riu.
— Eu também. — disse rindo, me referindo à farda que eu vestia naquele exato momento — Minha mãe tá em casa ou...?
— Tá em casa, quer que eu diga que você tá subindo? — disse pegando o telefone, pronto pra interfonar.
— Não, quero fazer surpresa. Mas muito obrigado!
Ele assentiu sorrindo. Chamei o elevador e logo chegou. Era dia das mães e infelizmente eu estava de serviço, caso contrário eu dormiria lá no sábado mesmo pra amanhecer com ela, mas não deu, trabalho escalado era complicado e mudar a escala não era tão fácil assim.
Levava comigo pra presentear a minha mãe uma caixa de bombons, uma bolsa que sempre que ela podia, soltava uma indireta perto de mim dizendo o quanto achava a mesma linda, e por fim, azaleias. Ela gostava de flores mas odiava buquês, então eu levei a flor num vaso pra ela cuidar. Todas as vezes que eu a presenteei com buquês, escutei coisas do tipo "Mas precisava matar as flores pra me presentear?", "É flor morta! Me dá flor viva!" e dessa vez eu a obedeci e levei a bendita da flor viva.— Já vai! — gritou.
Continuei apertando a campainha insistentemente, sempre fazia aquilo, era um costume antigo meu, desde criança. Eu gostava de irritá-la com aquilo que eu sabia que ela odiava.
— Diogo! Para! — gritou, ela já sabia que era eu.
Continuei enquanto ria da sua reação, nunca perdia a graça. De repente ela abriu a porta com um puxão forte, me assustando e consequentemente me fazendo parar de afundar o dedo no interruptor.
— Se você estragar a minha campainha, você vai comprar outra! — disse brava.
— Feliz dia das mães! — ignorei completamente sua bronca, mostrando as coisas que eu trazia em minhas mãos.
Ela suspirou e riu, pegando seus presentes.
— Obrigada, meu perturbado! — veio ao meu encontro, me abraçando.
A abracei forte, com todo o meu amor. Nunca se sabia quando era nosso último momento com os familiares, não queria desperdiçar. Não soltei do abraço, mas caminhei em direção à sala, fechando a porta pra continuar aquele momento gostoso com ela.
A mesma soltou do abraço e colocou todos os seus presentes na mesa da sala. Voltando a me olhar e só então reparando que eu estava uniformizado.— Diogo, que que eu falei, hein? — cruzou os braços.
— Sabia! Tava demorando. — disse rindo, olhando em volta — Cade meu pai?
— Já falei pra você não ficar desfilando de farda sozinho por aí! É perigoso, poxa! — disse indignada.
— Eu não tô sozinho, inclusive eu já tenho que ir porque eu fiz uma guarnição inteira me acompanhar e a galera tá me esperando, eu disse pra eles que não ia demorar.
— Filho! — meu pai surgiu na sala, me abraçando — De farda, Diogo? Que que...
— Já sei, gente! — ri, era tanta preocupação comigo que eu me sentia um pouco sufocada às vezes — E eu não tô sozinho, acabei de falar com a minha mãe, tem uma viatura com seis policiais me esperando lá em baixo, tá tudo bem. — o tranquilizei.
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Entre A Paz E O Caos
RomanceUma jovem de dezoito anos, negra, periférica, nascida e criada na favela da Rocinha, localizada na Zona Sul do município do Rio de Janeiro. Com um pai ausente, foi criada sozinha pela sua mãe. Seu maior sonho é ingressar em uma faculdade e sair de o...