Capítulo Vinte e Quatro

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Amanda Linhares

Os meninos do movimento já estavam no baile, lucrando com as drogas, e também, ostentando suas armas, roupas de marca, cordões e anéis de ouro. Dava pra sentir a energia daquele local a quilômetros de distância, era extremamente pesada.

— Aí, xuxinha? Vai querer xuxinha? — um traficante que aparentava ter dezesseis anos, abordou a Rebeca.

— Eu quero! — disse simpática — Essa roxinha aqui. — apontou.

Ele carregava um tabuleiro de vendedor ambulante. Continha pirulitos, chicletes, balas, presilhas de cabelo, maços de cigarros, mas eu enxerguei a pochete ocre presa ao seu quadril de longe, tinha droga ali dentro, obviamente.

— Vai querer lança de quanto? — disse a entregando a presilha de cabelo.

— Oi? — a Rebeca riu, confusa.

— A gente não quer comprar droga, valeu. — me intrometi na conversa — Só cobra a xuxinha.

— Já é! Dez reais, princesa!

— Aqui! — a Rebeca o entregou.

— Valeu, bom baile aí! — disse gentilmente — E aí, vai uma xuxinha aí? — disse abordando outra pessoa, fazendo propaganda da mercadoria que vendia.

— Rebeca, você é demais. — disse rindo.

— Por quê? — me olhou confusa, rindo — Eu gostei da xuxinha, lindinha, né? — disse me mostrando.

— Amiga, isso é pra usar droga. — a expliquei rindo — Cê derrama black-lança e cheira, por isso que ela é um pomponzão, pra absorver o líquido.

— Sério? — disse espantada — Não sabia. — riu — Ah, mas eu vou amar usar na educação física, eu gostei mesmo, combina comigo. — disse a colocando no braço, como se fosse uma pulseira, a admirando.

Ri dela e maneei a cabeça negativamente, levando o canudo da bebida a boca.
Eu não podia colocar defeito em algo só porque eu não gostava, o baile estava ótimo, mas eu estava completamente perdida ali. Era como se eu estivesse só em corpo, em mente eu estava em outro lugar. Aquele som alto estava me deixando um pouco tonta, estava sentindo meus ouvidos doerem com o grave das músicas. Pedi a Rebeca pra nos afastarmos um pouco das caixas de som, estávamos perto demais, e ela aceitou.
Fomos bem pro início da rua que ainda sim estava cheia, mas era onde o som estava menos incômodo. Em compensação... Os traficantes estavam ali em peso, mas traficantes simples, com cargos pequenos, vendendo lança-perfumes com pisca-piscas, bem atraentes até pra quem não usava nada. Cocaína. Maconha. Até crack eu vi em cima de uma bancada improvisada de madeira. Parecia ser um assento velho de cadeira escolar.

— Cês quer alguma coisa? Escolhe aí, fica à vontade. — outro traficante se dirigiu a gente, enquanto fumava um cigarro comum.

— Não, a gente tá aqui só por causa do som alto. — o respondi simpática — Eu fiquei um pouquinho zonza.

— Ah, pode crer. Eu também fico tonteado. — disse rindo.

A rebeca olhava pra bancada atenciosa, analisando cada droga que estava ali em cima. Estalei o dedo perto do rosto dela, a despertando e ela me olhou sorrindo maquiavélica, sabia que viria algo dela.

— Eu queria experimentar maconha. — cochichou — Que que cê acha? — riu.

Arregalei os olhos e a olhei incrédula.

— Não começa, pelo o amor de Deus! Você não vai fumar nada comigo! — me exaltei — A gente já tá no baile e nem era pra gente tá aqui.

Entre A Paz E O CaosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora