Capítulo Onze

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Amanda Linhares

O tiroteio não passava, ele intensificava cada vez mais, uma moça havia sido baleada no braço mesmo estando dentro da padaria, aquilo me apavorou. De olhos fechados eu orava pra todos os deuses de todas as religiões existentes, só pedia que minha mãe ficasse bem e eu também, não queria ser baleada, o que era uma possibilidade enorme, eu só queria minha mãe e minha paz. Escutei o portão de metal subindo bruscamente e eu me encolhi mais ainda, pensei que fosse um traficante se refugiando conosco, gelei de medo, mas quando eu vi aquele rosto, gelei de tantas sensações misturadas que eu nem sabia descrever. Medo, alívio, angustia...

Ele me olhou sem responder se eu podia atender minha mãe e a ligação acabou caindo. O mesmo me olhava com a sobrancelha franzida, ele sabia quem eu era e no mínimo devia tá achando muito estranho a tamanha coincidência de eu ter achado seu cachorro no sábado e na segunda estar ali, na sua frente, com medo de poder ser baleada a qualquer segundo. Um tiro o alertou e ele saiu do transe que eu o pus sem saber o porquê, continuando a colocar as peças no seu fuzil.

— Diogo! — escutei vindo de fora da padaria.

— Já tô acabando! — disse gritando e concentrado no que fazia.

Ele pôs o cartucho e alimentou o fuzil, olhou pra todos e evitou contato visual comigo.

— Quem tá baleado? — disse se levantando.

Não deu tempo de ninguém responder, abaixei a cabeça ao ver um tiro atravessando o portão de enrolar, que já estava bem marcado por contas dos tiros anteriores que haviam o atingido. Ele abaixou também e se aproximou mais da gente, ficando de frente pro portão e de costas pra nós.

— Porra, Diogo! — abriu o portão.

O mesmo homem negro que o acompanhava no dia da praia entrou na padaria um pouco curvado, nos vendo assustados.

— Era pra ser rápido!

— Eu já ia sair. — disse ofegante.

— Vem, vem!

— Calma, tem alguém baleado! — disse alto.

— Sou eu! Me ajuda, por favor! — uma mulher disse chorando.

Eles se olharam e o homem negro negou com a cabeça.

— Mas nem pensar, Diogo!

— Thiago, eu não vou deixar ela assim. — disse se aproximando dele.

— E você não é médico nem enfermeiro, bora! — disse o olhando.

— Eu sei o que fazer!

— Diogo, você por acaso estudou pra que mesmo?

Vi que ele ia responder, mas ambos foram interrompidos por uma rajada de tiros.

— Vem! — o policial negro disse o olhando e indo em direção ao portão.

Ele ficou pensativo por mais de cinco segundos e logo após se aproximou da moça ferida que estava próxima de mim.

— Posso ver? — disse a olhando.

A moça assentiu.

Entre A Paz E O CaosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora