Capítulo Cinquenta e Cinco

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Diogo Novais

— Diogo, calma. Você precisa pensar! — Thiago disse, aflito, ele tinha medo do que eu poderia fazer.

Acho que eu nunca tinha feito uma operação tão difícil quanto essa. Era fato, eu sempre era cirúrgico no que eu fazia, não era o melhor policial daquele batalhão, óbvio, mas eu era exímio atirando, nunca errava um alvo. Só que naquela operação... Eu não me senti estável pra dar um único tiro sequer, nunca estive tão trêmulo na minha vida.

— Eu sei que você tá nervoso. Tá todo mundo nervoso aqui, mas, cara, não faz nada que você possa se arrepender depois. — Thiago disse acertivo, olhando nos meus olhos.

Parecia que ele sentia o que estava por vir. Admito, me descontrolei totalmente.
Eu ainda não havia sido apresentado a aquele lado selvagem meu. Eu conhecia o Diogo ator que era o Diogo de sempre, o cara que fingia ser durão e mal encarado pra poder ter o mínimo de respeito das pessoas à volta, quiçá receio, mas o Diogo vil e tirano... Aquele dia eu tive o primeiro contato com ele e foi mais amargo do que beber café sem açúcar.

— Não grita! — disse firme, com a mão na boca de um jovem que eu havia capturado.

Ele não contava que apareceríamos pela rua de trás que dava acesso à rua em que ele estava, com uma HK G36 atravessada em seu peito. Quando o vimos, ele estava de costas, completamente a esmo da situação, a presa perfeita.
No curso de formação do Choque era obrigatório todos os policiais aprenderem o básico de defesa pessoal, então o jiu-jitsu e o krav magá eram os nossos imos. Eu estava inegavelmente arrasado e fragilizado com aquela situação, haviam tocado no meu bem mais precioso e no meu ponto mais fraco, mas ao mesmo tempo eu estava com ódio e descontando o mesmo em quem se atrevia a atravessar o meu caminho. O moleque nem sequer me escutou, parecia até que eu não tinha pés, ele só se deu conta de mim quando eu o envolvi em meus braços e apertei seu pescoço sem a mínima noção da força que eu exercia sobre ele e sem pudor algum. Esperei-o apagar pro mesmo não cogitar a péssima ideia de lutar comigo. Apenas quando ele amoleceu em meus braços, pude o soltar e pôr a mão na sua boca, o esperando recobrar a consciência que demorou menos de trinta segundos pra voltar.

— Onde o Frente tá? — perguntei pausadamente, tirando a mão da sua boca.

— Eu não sei, meu senhor! — disse ofegante, assustado.

— Pegou esse fuzil no lixo? — perguntei entre os dentes — Cadê ele? — insisti, pausadamente.

— Se eu falar, vão me matar. — uma lágrima de pavor escorreu.

— Se você não falar, eu vou te matar. — dei ênfase ao "eu", o vendo engolir a seco.

O menino olhou pros outros homens, pedindo socorro com os olhos, mas nenhum ali se comoveu.

— Alguém me dá um canivete! — disse em bom tom.

— Diogo, peraí. — Thiago me repreendeu.

— Eu sei o que eu tô fazendo. — disse firme, não sucumbindo à sua repreensão — Alguém me dá a porra de um canivete! — disse mais alto, claramente impaciente.

Um Sargento se aproximou com a mão estendida segurando seu canivete, me entregando. Abri o mesmo e frio, aproximei-o do olho do garoto, que tentou virar a cabeça mas sem sucesso, ele estava dominado por mim.

— Mais uma vez — respirei fundo, o olhando com um ódio surreal —, cadê o Frente? — perguntei firme.

— Não sei, eu já disse. — disse com a voz trêmula.

Entre A Paz E O CaosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora