CAPÍTULO 20:

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       Não muitos dias se passaram depois daquele encontro que tiveram no bosque, mas muita gente já havia percebido que alfa e ômega estavam ainda mais próximos um do outro, já que, agora eram sempre vistos juntos.

    Izuku se sentia completamente seguro perto do loiro, o que lhe deu a liberdade de andar pelos corredores da universidade sem ter que encolher os ombros nem se preocupar com outros dominantes que o importunavam, afinal, muito além do alfa que todos enxergavam como o mais forte, o esverdeado sabia exatamente quem era aquele homem e todas as loucuras que ele poderia fazer...

      Eles estavam na área verde central do prédio, Bakugou mantinha-se sentado e escorado sobre uma das árvores do local, aproveitando a sombra junto de Izuku, que deitado sobre o colo do maior, lia um livro sobre genética — o que seria esquisito caso não estudassem sobre biologia.

— Você deveria ler um conto. — Acariciou os cabelos curvos e macios do mais baixo, que deu um sorriso fraco.

— Você conhece algum? — Virou a pontinha da página para marcar onde havia cessado sua leitura, e então fechou o livro, colocando-o sobre sua barriga.

— Padre sabe rezar? — O fez rir.

— Então pode começar, sou todo ouvidos. — Fechou os olhos aproveitando mais um momento de paz que pudera alcançar graças ao loiro, que ajeitou seus fios de cabelo e começou a fazer e desmanchar algumas tranças.

— Num pequeno vilarejo, de um reino tão distante quanto o céu, uma vez por ano seus camponeses celebravam à vitória, à liberdade e à riqueza. Prósperos, tinham ótimas colheitas, hospedarias mais que suficientes para os viajantes, e não menos importante; fontes sustentáveis de água, comida e dinheiro. — Enquanto descrevia os detalhes do lugar, o esverdeado tentava imaginar, de olhos fechados. — As festividades duravam dias inteiros, todas as casas eram decoradas e durante a noite, acendiam uma grande fogueira para que pudessem dançar no ritmo de algumas músicas típicas da época e da região onde viviam por toda vida. Certa vez, um morador do local se apaixonou por uma viajante que sofreu um acidente leve quando uma das rodas de sua carroça quebrou. Ele morava muito perto da estrada, então ajudou-a com sinceridade e gentileza, mas quando menos esperavam, os dois já estavam apaixonados um pelo outro.

— Como assim, "mas"? Qual é o problema de estarem apaixonados? — Ainda de olhos fechados, ouviu a risada abafada de Bakugou, e riu também. — Tá bom, tá bom! Não vou perguntar. — Selou os lábios com o gesto de um zíper, e jogou longe uma chave imaginária.

— Eles não podiam ficar juntos pois pertenciam a clãs inimigos. — Respondeu a pergunta um pouco fora de contexto, e continuou logo em seguida. — Alguns anos depois quando os outros descobriram que estavam vivendo juntos já era tarde demais, o casal já havia tido um filho naquela época, mas nem mesmo assim pouparam sua mãe do crucifixo. Por pouco a criança também não foi levada para a morte, mas depois de crescido não se sentia grato pela misericórdia que um dia aquele povo sentiu dar a ele. Essa criança sofreu por muito tempo vivendo com o pai, que também nunca fora capaz de superar a morte de quem amava. O menino foi criado no campo, planejando desde pirralho que o amanhã sempre seria o seu último dia de vida. — Neste ponto da história Izuku já tinha aberto os olhos, e agora encaravam-se enquanto seguiam o ritmo do conto. — O garoto nunca sabia o dia ou a quinzena, afinal, não via um dia após aquele que se forçava a viver, mas, mesmo que estivesse determinado a não ver a luz do nascer do sol no próximo dia...

— Ele não conseguia... Tinha esperanças de que alguém um dia viria ao seu encontro. Ele tinha raiva do amor e o seu maior desejo era entender aquele sentimento maldito que ceifou a vida de sua mãe... —  Respirou fundo, lembrando-se nitidamente de tudo aquilo. Izuku era aquela criança suicida e rejeitada. — Pode apostar que ele não esperava viver exatamente a mesma coisa que seus pais, mas ele entendeu direitinho. — Riu tentando descontrair e ignorar a dor de cabeça que lhe atingiu no momento em que as memórias se desenrolaram, desfazendo mais um nó de sua mente.

『 𝐏𝐫𝐨𝐦𝐢𝐬𝐞𝐝 𝐭𝐨 𝐀𝐥𝐩𝐡𝐚 』 Where stories live. Discover now