『 𝐏𝐫𝐨𝐦𝐢𝐬𝐞𝐝 𝐭𝐨 𝐀𝐥𝐩𝐡𝐚 』

CAPÍTULO 24:

     O mais novo pôde sentir o seu estômago se contrair quando ouviu a língua de Katsuki estalar naquele único gesto.

— Você me conta quando chegarmos.

    Essa foi a última coisa que saiu da boca de Bakugou. Eles permaneceram completamente calados o caminho inteiro, o alfa olhava para frente sem expressão alguma no rosto, enquanto de tempos em tempos o menor respirava um pouco mais fundo, desviando o olhar para a janela quando fazia as paradas obrigatórias dos faróis.
As ruas estavam pouco movimentadas, já era tarde. Um ou outro estabelecimento permanecia aberto e silencioso no breu daquela noite coberta de nuvens cinzentas.

    Assim que eles chegaram, desceram do veículo e andaram até o interior da casa. Dessa vez Bakugou acompanhava a alguns passos de distância, deixando-se dar uma olhada breve para o jardim extenso da propriedade.

   Depois que passaram por alguns dos cômodos e seus passos ecoaram pelos corredores, Midoriya permaneceu de pé enquanto o outro sentou-se num dos sofás da maior sala da residência. Sua visão direcionava-se para qualquer outro lugar que não fosse o olhar direto do ômega, suas pernas estavam afastadas e os cotovelos apoiados nas coxas, a postura encurvada e somente um dos pés batendo contra o carpete repetidas, ansiosas e incessantes vezes.

   O silêncio sepulcral que havia se instalado entre os dois precisava ser quebrado logo, e ambos já sabiam quem terminaria de arrebentar aquilo tudo.

— Desculpe... — Não obteve resposta. — Eu não queria ter feito isso, eu sei que fui egoísta e...

— Por quanto tempo esteve escondendo isso? — Katsuki permaneceu encarando qualquer objeto que estivesse no seu campo de visão.

— Por algumas... — Izuku ia dizer "algumas semanas", mas o maior já havia entendido então logo interrompeu.

— Esqueça, não precisa terminar. Me diga o que fez.

— Eu... — Respirou fundo e puxou seus cabelos com um pouco de força para trás, tirando os fios ondulados  do rosto. — Eu sei que você havia me dito que isso era perigoso e que...

— Não. Você não fez isso... — Em incredulidade balançou a cabeça como meio de negação, fitando o chão entre seus pés.

— Não foi muito! Eu mal dei andamento nas pesquisas depois que percebi o quanto estava errado em continuar fazendo isso. — Franziu o cenho, com a voz um pouco mais aguda.

— Você entende que esse não é o problema? — Rangeu os dentes. — Se você não foi exposto ao perigo por minha causa, isso deixa de ser uma preocupação, Midoriya. — Chamou-o pelo sobrenome.

— Eu sei... Eu...

— Você traiu minha confiança. — Permitiu-se sorrir nervosamente após engolir em seco.

— Me desculpe Kacchan...

— Sabe... Eu vivi por muitos anos... — Levantou-se vagarosamente, ainda olhando para os objetos caros daquela sala. — Por viver tanto tempo e conhecer tantas pessoas e coisas das mais variadas, pensei que não poderia mais ser pego de surpresa e aqui estou eu. — Deu a volta numa poltrona de couro, largando os pesos de seus cotovelos no encosto. — E que surpresa desagradável.

— Você tem razão em ficar bravo comigo...

— Eu não estou bravo. — Finalmente levantou o rosto para encarar os olhos esmeraldinos do ômega. — Nunca pensei que você fosse capaz de mentir para mim. Eu estou decepcionado.

— Não fale assim... — Tentou se aproximar, mas parou imediatamente quando viu Katsuki estender a palma de sua mão e virar o rosto num gesto esclarecedor de "não me toque, por favor".