CAPÍTULO 7:

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Naquele dia, ele me levou até uma mina abandonada, aquele era o seu esconderijo secreto, o seu refúgio. Para onde fugia quando precisava sumir por um tempo. Era bastante peculiar ter me mostrado justo esse lugar antes de qualquer outro, talvez era como se me dissesse "se não me encontrar em nenhum outro lugar, estarei aqui".
A mina tinha um trilho enferrujado e velho caminho à dentro, pouca iluminação, algumas teias de aranha por todos os lados, e mais ou fundo uma saída. Passando pela rachadura saímos no centro do cânion, no meio da montanha. Era o único jeito de chegar naquele lugar, que não era muito grande e com poucos passos havia o abismo mortal. Naquele cantinho havia uma cabana de madeira e couro, com algumas folhas de palmeiras para proteger da chuva, uma fogueira e gramado o suficiente para admirar o crepúsculo. Ficamos ali até o fim do dia, e ele me contou sobre a cascata de cristal que iríamos na próxima oportunidade. Eu fui embora quando já era noite e pulei as janelas do castelo em silêncio, com cuidado para não acordar meus pais ou chamar a atenção dos guardas. Antes de ir para o meu quarto, peguei algumas coisas para comer e então subi a torre.
No dia seguinte tive que ouvir um sermão de alguns longos minutos, e ainda durante a manhã, saí à cavalo, acompanhado do Grão-Duque. Hoje tinha um evento de hipismo para comparecer no reino vizinho, então arrumamos nossas malas e saímos com mais alguns competidores.
Aos poucos fui diminuindo os passos, e numa densa floresta de pinheiros, consegui me dispersar do grupo, cavalgando na direção do cânion. Sei que não seria prudente voltar logo um dia após tê-lo visto, mas eu precisava ver seu rosto novamente.
No caminho, guardei o emblema real que ficava na identificação do cavalo na mala de couro pendurada à cela, e troquei minhas roupas, já que um uniforme de hipismo como o meu custava dezenas de moedas de ouro.
Andando por alguns minutos pelas poças e pedregulhos naquela fenda gigantesca que formava o cânion, não o ouvi sequer uma vez.

— Droga... Como era... — Conversando sozinho, tentava me lembrar da letra da música que o ouvi cantar pela primeira vez. — Era sobre um soldado... — Rocei a garganta e me lembrei do primeiro verso. — "There will come a soldier, who carries a mighty sword"

Cerca de vinte segundos se passaram até que...

— "He will tear your city down, oh lei, oh lai, oh lord." — Cantarolou ao longe, e quando olhei para cima, ele vinha descendo pelas rochas. — Aprendeu rápido. — Sorriu, quando chegou ainda mais perto.

— Eu aprendo rápido. — Lancei-lhe uma piscadela.

— E o que você não faz, não é mesmo? — Riu, e caminhou para frente, olhando o corcel. — Você roubou um cavalo?

— Eu disse que não me cansaria de tanto andar, e você disse que a cascata fica longe daqui.

— Você é mesmo uma caixinha de surpresas.

— Você não faz ideia. — Lhe estendi a mão, e ele se apoiou na cela, subindo no cavalo e sentando-se não minha frente. — Vamos?

— E você ainda pergunta? — Soltou minhas mãos das rédeas e tomou conta delas.

Mais um dia ao seu lado e até pelo seu reflexo eu consegui me apaixonar. O nome da cascata era metafórica, não tinha nenhum cristal lá, mas a água translúcida e cristalina refletia como um espelho.
Depois de me jogar na água enquanto eu admirava os peixes, pedi ajuda para sair.

— Agora me ajude a sair daqui sua peste. — Rimos, e eu estendi a mão. Quando ele a pegou, puxei-o e ele caiu. — Você é muito ingênuo. — Estava abraçando-o pela cintura e ele, rindo com a longa franja cobrindo os olhos. Com cuidado e um meio sorriso no rosto, contagiado pela sua risada, tirei o cabelo que tapava seus olhos com a ponta do nariz e nos encaramos por alguns segundos.

『 𝐏𝐫𝐨𝐦𝐢𝐬𝐞𝐝 𝐭𝐨 𝐀𝐥𝐩𝐡𝐚 』 Where stories live. Discover now