CAPÍTULO 2:

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     Então, o primeiro dia de aula na universidade havia chegado, e junto dele uma vontade imensa de fugir do Japão e voltar para suas ruínas. Kirishima teve que, literalmente, arrastar o loiro para fora de seu quarto já que ele se recusava a sair, principalmente depois de ficar dias inteiros assistindo clichês românticos e adolescentes. Foi quase um trauma, tudo bem que fazer pesquisas numa plataforma de streaming não foi uma das melhores ideias que poderia ter, mas que culpa teve afinal? Estava apenas curioso para saber um pouco mais de como seria sua vida, e agora não conseguia esquecer dos protagonistas de novelas asiáticas que assistiu durante suas madrugadas.

— Não vai ser tão ruim assim! — Colocou a chave no bolso, enquanto já desciam das escadas. — Nem sei porquê se preocupa tanto, você faz mais o tipo do protagonista que tem tudo o que quer na palma das mãos, não o protagonista que sofre bullying e só se ferra.

— Deve ser isso que mais me assusta... — Resmungou baixo. —Eu não quero ir.

— Ah mas você vai sim. — Retrucou em um tom divertido. — Pelo menos dê uma chance. Se detestar a gente da um jeito depois.

— Me pergunto por quê diabos eu ainda concordo com suas ideias...

— Talvez você também queira mudar.

— É, talvez...

Tomaram o caminho em silêncio, apreciando a brisa do vento gélido que soprava contrário. A universidade não ficava muito longe, apenas alguns minutos de caminhada e já estavam em meio à algumas pessoas que tomavam o mesmo rumo. Grupos de amigos, pessoas solitárias e cabisbaixas, alguns apressados e outros indiferentes. Eram cheiros novos e ao mesmo tempo familiares, era possível reconhecer muitos alfas com feromônios imaturos, mas o que mais achava estranho era a pouca presença de ômegas naquele amontoado de gente.
Ambos os amigos se dirigiram até o pátio do prédio central, onde tinham algumas listas espalhadas pelas paredes com o nome dos cursos e seus respectivos alunos, indicando os seus respectivos prédios e salas. Havia um sistema de identificação online, que podia ser acessado por um aplicativo, mas até então, Katsuki se recusou a utilizar um aparelho celular.
Assim como havia previsto, ele chamava atenção por onde quer que fosse, sua presença era inigualável e impossível de passar despercebida. Alto, de cabelos loiros e olhos vermelhos, o corpo esculpido não perdia a forma, pele clara, os ombros largos, os caninos afiados, um cheiro entorpecente de canela e a expressão séria atrai até mesmo quem não gosta do seu tipo. Marcante, quem o vê não ousaria se esquecer do gosto apimentado na garganta que sente quando passa por perto.
Kirishima, poucos centímetros mais baixo não ficava para trás, os olhos vermelhos assim como seu cabelo espetado para cima e contido por uma bandana preta o tornava um pouco mais amigável, além de que, tinha cheiro de perfume caro. Era impossível para lúpus híbridos sentir os feromônios de um dragão alfa, afinal são de raças completamente diferentes, mas Eijiro, por outro lado, também conseguia sentir todos os outros. A sua cicatriz acima do olho fazia da primeira impressão algo misterioso, afinal tinha uma aparência amigável com largos sorrisos. Ninguém nunca iria imaginar que, na verdade se tratava de um ferimento causado por quem hoje é seu melhor amigo.

Tendo em vista que escolheram cursos completamente diferentes, os prédios eram praticamente opostos, onde um tinha estúdios e salas preparadas para experiências técnicas e digitais, enquanto o outro era equipado com quadras, piscinas e todo tipo de aparelhagem necessária para aulas práticas e atléticas. Eles se despediram com um olhar e seguiram separados cada um para sua respectiva sala, se encontrariam novamente ali para que pudessem voltar juntos mas agora, estavam sozinhos.
Bakugou estava preocupado em como interagir com tanta gente nova sem ter seu amigo para ajudar caso dissesse algo errado, então estava tenso. Ele andava com passos que pareciam pesar algumas toneladas, com o olhar concentrado no caminho que percorria.
Ele chegou cedo até demais naquela sala estranhamente grande, e o primeiro que pode ver foi quem aparentemente representava seu professor, o qual cumprimentou seriamente, arqueando as costas como aprendeu que deveria fazer. Depois disso, se sentou em uma das primeiras cadeiras que viu ao lado da janela, imediatamente apoiando seu cotovelo na mesa, e a palma da mão na têmpora. O dia estava nublado como parecia ser sempre, e também não haviam muitos pássaros no céu. Daquele lugar ele podia ver alguns dos outros prédios, e uma área verde no centro deles —que ocupa um quarteirão inteiro e tinha uma área no centro, pareciam ruas que interligavam as entradas internas que ligavam as construções, com algumas áreas com grama baixa e algumas árvores. As pessoas passavam por ali o tempo todo, parecia um bom lugar para descansar de vez em quando.
     A chegada do primeiro horário trouxe consigo o soar de um sinal, que não era muito alto pensando exatamente na sensibilidade de audição dos alunos, e antes que o homem à frente pudesse abrir a boca para ditar sua primeira conversa com a sala, a porta correu para o lado.
O coração do loiro começou a palpitar e ele imediatamente virou o olhar na direção da entrada. Como em câmera lenta as cores tomaram conta do cenário, trazendo à tona cabelos verdes e bochechas rosadas.
Sentiu muita saudade disso, mas não sabia dizer se aquilo era uma benção ou uma maldição, deveria falar com ele? Esperar que viesse até si? Tinha uma promessa para cumprir, mas funcionaria dessa vez? Seria capaz?
Sua mente estava numa completa confusão, o cheiro de hortelã encheu seus pulmões de nostalgia, depois de tantos anos tinha até se esquecido como a sensação era aconchegante.

『 𝐏𝐫𝐨𝐦𝐢𝐬𝐞𝐝 𝐭𝐨 𝐀𝐥𝐩𝐡𝐚 』 Onde histórias criam vida. Descubra agora