Pertencemos a um futuro incerto.

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***

Depois de acomodar a alcateia vinda de tão longe no grande salão, fiquei pensando em como eu iria organizar de forma confortável todos nesse solar. Eles tinham trago alguns cobertores com eles, mas não era o suficiente para forrar o chão pra deitarem. Então eu cacei pela mansão alguns cobertores antigos para oferecer a eles.

A noite costumava ser muito fria.

Quando fui para o campo de trás, me deparei com Nicholas treinando com as suas adagas. Ele estava tentando acertar nas árvores a quilômetros de distância dele. Mas errava todas as vezes, como se estivesse com muita raiva, parecia que errava por estar desconcentrado.

— Posso tentar?— pergunto fazendo ele parar.

— Quero ficar sozinho.

Eu dou um suspiro.

— Você está com raiva.— digo o analisando.— É de mim?

Ele me ignora e volta a arremessar as adagas, ele não tinha muitas. Então toda vez que arremessava, ele usava sua velocidade para ir buscar e voltava pra perto.

— Já disse, quero ficar sozinho.

— Se for agir desse jeito, me avisa.- me coloco na frente dele.- Eu não tenho tempo pra isso. Preciso que você esteja do meu lado, então por favor... para de se opor às minhas decisões.

— Eu nem sempre vou ter que aceitar o que você diz, sabia?— diz largando as adagas enfurecido.

— Qual é o seu problema? Tá tão irritado!

— É porque você não me escuta!— diz avançando.

Aconteceu rápido demais e não faço ideia de como o meu punho surgiu no rosto dele. Ele gritou de surpresa e dor, acho que foi forte demais.

— Foi mal...— digo me aproximando para ver melhor o estrago feito. Eu havia quebrado o nariz dele.

— Por que você fez isso?— Nicholas pergunta segurando o nariz, estava sangrando.

— Foi instinto de defesa, você veio pra cima e...

Consegui ouvir o estalo dos ossos quando ele colocou o nariz no lugar.

— Segura a onda da força.

— Já disse, foi você quem avançou.

— Mas não deveria se preocupar comigo.— diz indignado.— Eu nunca te machucaria.

Por um momento eu quis acreditar no que ele falou, de verdade, eu quis. Mas eu não podia confiar cem por cento nas pessoas, eu fui criada desse jeito. "Tenha sempre um pé na frente e o outro atrás, meu pai dizia" desde sempre eu fui assim, confiava desconfiando dos outros sem me preocupar com o que viria no fim.

Acho que era uma forma de me preparar caso alguém me magoasse ou fosse me trair. No final, quando o Aaron fez mesmo isso, eu não sofri a ponto de querer me trancar e ouvir músicas tristes. Doeu, pois era alguém que eu gostava muito e aquilo quase me quebrou.

Mas não quebrou, esse era o ponto.

Quando a gente confia demais, quando a gente se entrega completamente e se cega de lealdade.... Isso sim é capaz de te destruir, de te enfraquecer. É capaz de acabar com toda a sua estrutura se você deixar.

O mundo é um lugar caótico onde até as pessoas que te amam são capazes de te decepcionar. É quase impossível você sair ileso. O que vale é o jeito como você lida com isso, não deixando que nada disso te quebre.

— Eu sei.— respondi com um sorriso.— Você nunca faria isso.

Ele aperta os lábios.

— Me desculpa se passei dos limites.

Meu vizinho se chama Vlad Where stories live. Discover now